quarta-feira, 22 de maio de 2013

Homenagem pelo fim do namoro da Marjorie termina com mancha roxa

Ontem, eu ultrapassei a minha cota de desculpas por dor de barriga para faltar, para ir à comemoração de um mês de namoro da Marjorie. Eu não vou com a cara do namorado dela, mas fazer o quê? Ela é minha prima...

Ane e Lu dormiram na minha casa e me acordaram com o barulho dos secadores às sete da manhã.

Adalberto: Não dá para fritar o cabelo outra hora, não?

Lu: Claro que não. A festa começa ao meio-dia. A gente está atrasada.

Adalberto: Como assim atrasada? São sete horas da manhã.

Ane: Mas não é só cabelo. É cabelo, maquiagem, roupa, sapato, muita coisa.

Lu: Ser mulher não é fácil, não.

Adalberto: Gente, na boa, por mim, eu ia assim, de pijama. Estou com preguiça para esse evento.

Ane: Não fala isso. A Marjorie merece ser feliz no amor.

Adalberto: Eu sei que ela merece. Mas não com o Henriquelson. Ele não vale nada.

Lu: Coitado. Eu gosto do Henriquelson.

Adalberto: Eu não gosto. Ele arrota na mesa.

Lu: Só isso? Quem dera se eu arrumasse um homem que arrotasse na mesa, mas gostasse de mim, como ele gosta da Marjorie.

Adalberto: Mas não é só isso. A mãe dele vem aqui em casa e usa todos os meus abacates para fazer massagem no cabelo. Fora a irmã dele, que sempre senta em cima do controle remoto e aciona o closed caption da televisão. Depois, eu fico duas horas tentando desativar. E o irmãozinho dele? Ô criança maldita. Eu tenho que esconder o meu creme de barbear, quando ele vem aqui, senão ele pega para ficar desenhando com a espuma na parede. Ah, não dá! Tenho má vontade para essa família, na boa.

Ane: Você é um chato. Eu adoro a família do Henriquelson.

Adalberto: Eu vou me trancar lá na cozinha para dormir mais um pouquinho. Com essa barulheira não dá. Daqui a umas quatro horas, uma de vocês vai lá para me acordar, por favor.

E assim foi feito. A Ane me acordou às onze e, em quinze minutos, eu já estava pronto, dentro do carro a caminho da festa. Só joguei um perfume, passei uma pomada no cabelo, botei uma roupa e fui. Tudo isso em um minuto. Os outros quatorze levei fechando a parto do apartamento, a porta que isola os apartamentos do lado direto do corredor, a porta do corredor, a porta que dá acesso à garagem e a porta da garagem. Muita porta nessa minha vida...

Quando chegamos ao local da festa, a Marjorie veio nos receber com um sorriso de orelha a orelha.

Marjorie: Nem acredito que vocês vieram!

Ela sabia que a Ane e a Lu iriam. Esse comentário foi diretamente para mim.

Adalberto: Eu não iria faltar a sua comemoração de um mês de namoro, prima. Eu vim aqui por você.

Fiz questão de ressaltar ao falar "você". Eu não estava ali pelo Henriquelson. Não mesmo.

Ane: Prima, você está linda!

Lu: Vou querer esse vestido emprestado depois.

Marjorie: Lógico, é nosso.

Adalberto: Estou com fome. Tem alguma coisa para comer?

Marjorie: Já vão servir o almoço. A Sara pegou uma mesa para vocês. Ela veio sozinha. O Oswaldo ficou em casa com os trigêmeos. Eles estão meio enjoados, aí o Oswaldo preferiu ficar em casa com eles.

Duvido. O Oswaldo é esperto, inventou uma boa desculpa para evitar a família do Henriquelson.

A Sara estava inquieta na mesa, olhando de um lado para o outro.

Adalberto: Tcharam!

Sara: Ai, que susto, garoto!

Adalberto: Tudo bem aí?

Sara: Ai, não. Primo, tenho que te dar o braço a torcer. Essa família do Henriquelson é muito sem noção. E as crianças? Não tem educação nenhuma. Você acredita que um sobrinho dele cuspiu na minha cara?

Adalberto: Mentira! E o que você fez?

Sara: Nada, né? Ia fazer o quê?

Cuspir de volta, bater, puxar o cabelo, arranhar a cara dele na parede chapiscada, sei lá.

Adalberto: Você devia ter falado com os pais dele.

Sara: Mas é uma criança.

Adalberto: Por isso mesmo! Estou brincando.

Marjorie: Gente, o Henriquelson está chamando todo mundo lá na mesa. Ele quer me fazer uma homenagem. Abafo o caso, mas eu acho que ele vai me pedir em noivado.

Que merda!

Adalberto: Que legal.

Marjorie: Ai, eu estou muito feliz, primo. Sabe, eu sei que você não vai muito com a cara dele, eu percebo isso. Mas ele me faz feliz, fica tranquilo.

Adalberto: Isso é o que importa.

Ane: Gente, silêncio!

Lu: Cala a boca aí!

Henriquelson: Bom, pessoal, primeiramente, eu gostaria de agradecer a presença de todos. Segundamente...

Meu Deus! Um cara que fala segundamente é mesmo capaz de fazer a Marjoie feliz?

Henriquelson: Segundamente, eu queria dizer que esse é um dia muito importante na minha vida. Há um mês, eu conheci uma pessoa muito especial na minha vida, que me fez crescer como homem. Essa pessoa me fez entender o valor da vida. Essa pessoa me fez entender o que é cumplicidade. Essa pessoa...

Já estava me irritando o Henriquelson se referindo a minha prima por "essa pessoa".

Henriquelson: Essa pessoa ensinou que, se a gente quer, a gente pode. Eu sou fascinado por essa pessoa. É por isso que eu resolvi organizar essa festa, reunir vocês todos aqui. Durante um mês, a nossa relação foi embasada pela total sinceridade. Tudo o que essa pessoa sente, ela me fala. Eu eu aprendi a fazer o mesmo. Eu sei que essa pessoa vai gostar muito do que eu vou fazer agora...

Uma lágrima se formava no meu olho, esperando ele tirar a caixinha de alianças do bolso.

Henriquelson: E eu vou fazer isso única e exclusivamente por causa dessa pessoa. Pelo respeito, carinho e amor que tenho por ela...

E, finalmente, ele tirou a caixinha de alianças do bolso. E as muitas lágrimas escorreram de mim.

Ane: Sabia que você ia se emocionar.

Adalberto: Não enche.

Henriquelson: Essas alianças eu trouxe aqui para você...

E ele ressaltou o "você" da mesma forma que eu.

Henriquelson: Abençoar o meu noivado com a Elisanny.

Bolei.

HenriquelsonElisanny é uma pessoa que eu conheci, enquanto comprava pastel na feira lá perto de casa. E seguindo o que você sempre me disse... Lembra que você dizia que, se um dia eu me apaixonasse por outra pessoa, você ia ser a primeira a querer saber, que ia continuar querendo ser minha amiga, que seria capaz até de ser minha madrinha de casamento com outra pessoa? Então! Nesse evento, além dessa homenagem que eu fiz para você, que foi muito importante para mim, eu quero pedir a mão da Elisanny em casamento e te convidar para ser a nossa madrinha. Elisanny, vem aqui por favor.

E quando a Elisanny se aproximou para dar um beijo na Marjorie, foi surpreendida por um tapa na cara.

Marjorie: Eu não sou tão sangue barata assim!

Era tudo o que eu precisava. Peguei uma cadeira e varei em cima do Henriquelson, que caiu no chão. O pai dele correu para cima de mim e me acertou um soco. Ane, Lu e Sara vieram me defender com unhadas. Aí, começou a guerra.

Eu não imaginava que um monte de primo do Henriquelson não iam com  cara dele como eu. Ainda bem! Só assim, fomos maioria na briga.

Eu sei que eu estava atordoado, dando socos em todas as direções, quando de repente, a polícia chegou. Fomos todos para a delegacia.

Para a nossa sorte, o delegado também tinha sido trocado pela mulher recentemente e fui super a favor da Marjorie. Liberou todo mundo com o pretexto de que essa era uma roupa suja para ser lavada em casa.

E nem precisava mais! A roupa suja já tinha sido lavada no salão de festas chinfrim, que o Henriquelson: alugou para fazer a festa de fim de namoro com a minha prima e noivado com a Elisanny.

E muito bem lavada.

Se bem que a cara do Henriquelson ficou cheia de mancha... Roxa.

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