sábado, 11 de maio de 2013

O dia em que a Lu virou um monstro

A Lu dormiu na minha casa de ontem para hoje. Aliás, ela não dormiu. Ficou acordada contando as horas passarem. Hoje, ela batizaria o filho da irmã do Agrilúcio, um carinha que ela conheceu há umas três semanas.

Eu ainda estava dormindo, quando ela me acordou.

Lu: Adal, Adal, acorda.

Adalberto: Que horas são?

Lu: Seis.

Adalberto: O batismo não é às dez?

Lu: É. Mas eu não aguento mais esperar a hora passar sozinha. Conversa comigo que passa rápido.

Adalberto: Não acredito nisso. Deita aqui do meu lado, sua chata.

E ela foi toda serelepe. Nunca vi tanta felicidade para batizar o filho da cunhada, que ela nem gostou muito. Era uma maneira de ela achar que estava colocando uma coleira no Agrilúcio. Coitada.

Lu: Você gostou mesmo do vestido, que eu comprei.

Adalberto: Gostei... É aquilo que te falei, só achei que ele brilha muito. Fora isso, ele é bonito, sim.

Lu: Sem aquele brilho, eu não sou ninguém. Fora que a cretina da ex do Agrilúcio vai. Eu tenho que brilhar mais do que ela. Aliás, eu não te contei a última que ela aprontou. Você acredita que ela foi capaz de...

A Lu desembestou a falar mal da ex do Agrilúcio e não parou mais. Eu, que estava com sono, voltei a dormir profundamente e ela nem percebeu.

Meia-hora depois...

Lu: Aí, eu peguei e falei para ela: minha querida, a poderosa aqui sou eu. Mandei bem, primo? Hein, primo? Primo. Primo!

Adalberto: Oi. O quê?

Lu: Você estava dormindo?

Adalberto: Não sei. Acho que sim.

Lu: Acha? Eu te contando um babado forte da outra lá, e você dormindo... Ah, dá licença que eu vou tomar banho para me arrumar.

Adalberto: Vai, sim. Eu vou descansar mais um pouquinho.

Lu: Chega de descansar, garoto! Vai dormir depois que morrer! Vai dormir na cadeia!

Adalberto: Não enche, Lu.

Ela demorou duas horas e meia para se arrumar. Eu eu ganhei duas horas e meia de sono. Eu lembro que eu estava sonhando com monstros, espíritos, fantasmas. Eu corria como um louco deles. Mas estava quase sendo pego. E quando um dinossauro, que apareceu do nada, pulou na minha frente para me atacar, a Lu me acordou.

Lu: Adal.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiii! Sai daqui, monstro maldito!

Lu: Como é que é? Você me chamou de monstro? É isso?

Adalberto: Lu, eu estava tendo um pesadelo... Com monstros, calma.

Lu: Vai logo se arrumar. Não quero chegar atrasada. Eu sou a madrinha, não se esqueça.

Adalberto: E você deixa? Não vejo a hora desse dia acabar para você para de me perturbar com  isso.

Lu: Então, anda logo, vai tomar banho!

Em quinze minutos eu estava pronto. A Lu estava aflita. Ela demorou duas horas e meia se arrumando e achou os meus quinze minutos eternos.

Lu: Ai, finalmente. Vamos.

Quando chegamos à igreja, eu, a Lu e o vestido brilhoso, a cerimônia já tinha começado.

Lu: Ué, que horas são?

Adalberto: Quinze para as dez.

Lu: Não pode ser. O seu relógio deve estar errado. A gente deve estar em horário de verão, de inverno, de outono...

Adalberto: Lu, o meu relógio está marcando a hora certa. Você deve ter se enganado. Mas não tem problema. Pelo visto, a hora do batismo, propriamente, é agora. Os padrinhos estão começando a formar a  fila com os afilhados no colo.

Lu: Deixa eu correr, então.

Adalberto: Vai lá. Ó, só não afoga a criança na hora de molhar a cabeça dela na pia batismal, hein.

Ela nem tinha como afogar a criança. Ela não ia ser mais a madrinha...

A Agrilúcio tinha voltado para a ex, que ganhou o direito de ser a madrinha do filho da cunhada. Eles estavam juntos há três dias. Detalhe: o vestido dela e da Lu eram idênticos. Não dava para ficar ao lado das duas sem um óculos escuro. Eu que tenho fotofobia, sofri quando fui separar a briga.

Quando soube que o Agrilúcio tinha voltado para a ex, que ia batizar o sobrinho dele e que estava com um vestido igual ao seu, a Lu puxou a menina pelos cabelos (escovados, diga-se de passagem) e afundou a cabeça da garota na pia batismal. Ela já não era muito gata, mas com o cabelo ao natural, dava medo. Ficou furiosa e tentou arrebentar a Lu.

O batismo não aconteceu, claro. O padre cancelou a cerimônia, depois da confusão.

E a Lu, realmente, conseguiu brilhar mais do que a rival. Mas o que contou, além do vestido, foi a atitude... De monstro.

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