sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sara esconde o jogo sobre maestria no quadradinho de oito

Fui, ontem, pegar o Oswaldo ao aeroporto. Ele estava voltando de uma viagem a trabalho, e eu não sei por qual motivo o moçoilo não pode pegar um táxi. Tive que madrugar para chegar às 7h no Galeão. A Sara, obviamente, estava comigo.

Adalberto: Não sei como eu consegui dirigir até aqui.

Sara: Você é o melhor do mundo, primo!

Adalberto: Ah, sou, claro. Nessas horas, eu sou sempre o melhor do mundo. Queria ver falar isso, quando me visse trocando uma lâmpada.

Sara: Mas você não sabe trocar uma lâmpada.

Adalberto: Sei, sim.

Sara: Ah, Adal, fala sério. Você não sabe fazer nada direito.

Adalberto: Ah, é Dona Sara? Vou voltar pra minha casa agora! Não sei o que eu tou fazendo aqui.

Sara: Tou brincando, garoto! Sabia que você ia fazer ceninha. Adoro quando você faz ceninha. Aliás, você é o melhor do mundo, quando faz ceninha, primo.

Adalberto: Ah, é? E você é a melhor do mundo em me usar como motorista.

Sara: Ah, vai jogar na cara, é?

Ainda bem que um daqueles carinhas chatos, que distribuem revistas no aeroporto, surgiu para acabar com o princípio de troca de farpas entre mim e a Sara.

Carinha chato: A senhora quer ganhar três revistinhas de brinde?

Sara: Ah, quero, sim.

Adalberto: Não, ela não quer, não.

Sara: Quero, sim, Adal.

Adalberto: Sara, você não sabe que, quando você aceita essas revistas, os caras obrigam você a preencher um cadastro, falando tudo da sua vida?

Sara: Ai, Adal, que exagero.

Carinha chato: Então, senhora? Via ficar com as revistinhas?

Sara: Vou, sim, querido. O que eu tenho que fazer. Só pegar da sua mão?

Carinha chato: Não, senhora. Preciso fazer um cadastrinho antes.

Adalberto: Viu...

Sara: Pois, não.

Que ódio!

Carinha chato: Vai demorar só uns cinco minutinhos.

Mentira! O cara começou perguntando nome, identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, endereço, filiação, estado civil, queria saber se tinha filhos, quantos, os sexos, os nomes, onde nasceram, o peso das crianças, com quantos meses nasceu o primeiro dentinho...

Adalberto: É sério que é importante saber com quantos meses os meus afilhados deixaram de usar fralda?

Carinha chato: Senhor, eu sigo ordens.

Depois, ele começou a perguntar as capitais do Brasil, os presidentes que o país teve, após o regime militar, os nomes dos principais rios da região Centro-Oeste, fez umas questões de lógica e, quando ia aplicar um teste psicotécnico na minha prima, eu cheguei ao meu limite.

Adalberto: Sarita, meu bem, eu vou lá na praça de alimentação comer um salgado. Tou morto de fome.

Sara: Tá bom, vai lá, Adal. É o tempo do Oswaldo chegar de viagem. Depois, me encontra aqui.

Adalberto: Não, é melhor você, depois, me encontrar lá, não?

Sara: Tá ok, primo.

Comi cinco salgados: dois por fome mesmo e três por pura ansiedade. Aeroporto me dá ansiedade, não tem jeito. Bebi um guaraná normal, tomei um sorvete, chupei um drops de bala de menta inteiro, conversei com três amigos no WhatsApp, e nada da Sara. Voltei até o stand do carinha chato, com o objetivo de arrancá-la pelos cabelos, caso ela ainda estivesse por lá.

E pra minha surpresa, ela estava deitada no chão, fazendo o quadradinho de oito. Naquele momento, senti uma vergonha alheia absurda e uma vontade louca de virar uma ema e enfiar a minha cabeça no chão pra nunca mais tirar.

Adalberto: Sara, o que é isso? Quadradinho de oito no aeroporto, é isso mesmo?

Assustada com o meu esporro, ela se desequilibrou, e torceu o pescoço.

Sara: Ai! Ai, meu pescoço! Tá doendo muito, primo. Ai!

Adalberto: Vamos prum hospital agora. Menino, me ajuda aqui a pegar a minha, prima.

Carinha chato: Não posso, senhor. Isso é desvio de função.

Adalberto: Ah, é desvio de função? E esse seu teste de sobrevivência pra dar três revistas de brinde pra minha prima é o quê? Eu vou processar você!

Peguei minha prima no colo, aos prantos de dor, e a levei para o meu carro. Antes, tomei três revistas da mão do carinha chato.

Carinha chato: Senhor, o senhor não pode fazer isso! Ela fo reprovada no teste, não pode levar as revistas.

Adalberto: Ah, não? Então, se você quiser mesmo recuperar esse lixo, me ajuda a carregar a minha prima, que eu te entrego lá no estacionamento.

Carinha chato: Eu não posso sair daqui da frente do stand, senhor.

Adalberto: É, então, tchau!

E fui correndo como um louco no meio do aeroporto, segurando a Sara e três revistas, que fomos descobrir no hospital, que eram do ano retrasado.

Sara: Ué, a Deborah Secco casou na igreja de novo com o Roger?

Adalberto: Claro que não! Aquele safado fez você prestar aquele papel de palhaça no aeroporto por causa desse monte de papel velho aí. Agora, por causa do interesse na vida da Deborah Secco, você tá toda quebrada aí. Era só o que faltava...

Sara: E  Oswaldo, Adal?!

Adalberto: Me ligou dizendo o tempo tá muito fechado lá no Sul, e que o voo foi remarcado pra amanhã.

Sara: Ai, que bom. Ele não precisa saber o porquê desse meu problema, hein, Adal. A gente diz que foi um acidente doméstico.

Adalberto: Sem problemas. Eu não vou te expor ao ridículo pro seu próprio marido. Ele nunca mais ia olhar na tua cara, se soubesse o motivo dessa lesão no pescoço.

Sara: Você é o melhor do mundo, primo!

Adalberto: Ah, claro, né? Nessas horas, e sou sempre o melhor do mundo. Agora, me diz uma coisa: onde é que você aprendeu a dançar o quadradinho de oito com tamanha maestria, Sara? Me explica isso.

Sara: Primo, tá na hora de buscar os trigêmeos na creche! Tem que ser agora, primo, senão, eu vou pagar uma multa. Esse mês, já me atrasei tres vezes. Na próxima, não vai ter perdão.

Adalberto: Você não vale nada, hein! Eu vou. Mas depois, a senhora vai responder a minha pergunta, tá? Espertinha!

Ela acha que eu sou bobo...

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