Eu estava dormindo e não fazia a menor ideia de nada. Tinha esquecido de colocar o relógio pra despertar. Se não fosse a Marjorie, acho que não acordaria a tempo de ir pro trabalho, de tão cansado que estava.
Adalberto: Oi.
Marjorie: Que voz é essa?
Adalberto: Que horas são?
Marjorie: Hora de você tomar vergonha na cara, juízo, café-da-manhã, banho e voar pro trabalho.
Adalberto: Meu Deus, o relógio não despertou.
Marjorie: E eu achei que você já tivesse visto a surpresinha que eu deixei na frente da sua porta de ontem pra hoje.
Adalberto: Você veio aqui?
Marjorie: Não. Pedi pro entregador.
Adalberto: E o que é?
Marjorie: A cabeça do jacaré, que me venderam pra fazer bolsa.
Adalberto: Não acredito nisso.
Marjorie: Na cabeça do jacaré?
Adalberto: Também. Vocês matam os animais pra fazer bolsa?
Marjorie: Adal, você ia gostar de tomar banho num rio e ser surpreendido por um jacaré? Ele ia te matar.
Adalberto: Problema é meu. Ele tá na habitat natural dele.
Marjorie: Olha logo a caixa.
Adalberto: Eu, não. Vou tomar banho. Tô atrasado pro trabalho. E não vou abrir caixa nenhuma. Vou jogar fora sem ver o que tá dentro.
E desliguei o telefone. Mas, claro, fui primeiro abrir a caixa. Até parece que eu ia desafiar a minha curiosidade e jogar a caixa fora sem abri. Um jacaré de pelúcia! Liguei pra cretina:
Adalberto: Sua cretina!
Marjorie: Primeiro de abril!
Adalberto: Hoje é primeiro de abril?
Marjorie: É. Ontem foi 31 de março. Hoje é primeiro de abril.
Adalberto: Ah, tá. Prima, deixa eu ir lá, que eu tô atrasado. Adorei, tá. Beijo.
A manhã no trabalho tinha sido estressante. Um monte de coisas pra fazer num dia, que parecia ter muito menos de 24 horas. Na hora do almoço, foi a vez da Ane me ligar:
Adalberto: Oi, amoreca.
Ane: Tá almoçando?
Adalberto: Ih, já é meio-dia e eu achei que ainda fossem nove da manhã. O dia tá voando.
Ane: Pode falar?
Adalberto: Posso. Vou aproveitar e descer pra almoçar. Se cair é porque eu entrei no elevador, tá?
Ane: Sabe aquela DJ que namorou a Lindsay Lohan?
Adalberto: Samantha Ronson.
Ane: Foi minha primeira experiência homossexual.
Adalberto: Como assim?
Ane: Ela tocou, ontem, na Casa da Matriz. A gente se conheceu e ficou.
Adalberto: Não tô acreditando nisso.
Ane: Não? E que eu vou embora com ela pros Estados Unidos? Nisso você acredita?
Adalberto: Você não devia abandonar a empresa do seu pai, assim, por causa de uma paixão louca.
Ane: Por uma paixão louca, eu abandonaria, sim. Mas por um negão-armário de dois metros de altura. Não pela Samantha Ronson, né, Adal. Primeiro de abril!
Adalberto: Sua cachorra.
Ane: Meu pai ficou desesperado, quando eu falei isso pra ele.
Adalberto: Tu é louca. Pior que a Marjorie, hoje cedo, conseguiu me pegar com essa porra de primeiro de abril.
Ane: Você é muito desligado, primo.
Adalberto: Não é, não. É tanta coisa na minha cabeça, que, pra mim, hoje já era dia dois de abril. Agora ninguém me pega mais.
Entrei no elevador e a ligação caiu. Quando cheguei no térreo, o telefone tocou de novo. Achei que era a Ane retornando a ligação. Mas, não. Era a ingênua da Sara, querendo dar uma de esperta comigo:
Sara: Primo, entrei pra academia.
Adalberto: Tá. Primeiro de abril.
Sara: E já tô pegando o meu personal trainer. Transamos, ontem e tudo.
Adalberto: Sara, eu sei que isso é mentirinha de primeiro de abril.
Sara: E terminei com o Oswaldo.
Adalberto: Nossa, isso é um ultra megamente power primeiro de abril.
Sara: Droga! Não consigo mentir pra ninguém.
Adalberto: Tadinha. Me liga de novo, então, que eu finjo que acredito.
Sara: Não. Assim não tem graça.
Adalberto: Então, tá, pretty baby. Deixa eu almoçar, porque o dia tá corrido.
E, depois de um longo dia de trabalho, cheguei em casa e só queria saber da minha cama. Nem ia tomar banho, quando a campainha tocou. Era a Lu:
Adalberto: O que é que aconteceu?
Lu: Nada. Amanhã é feriado. Você não tem que acordar cedo.
Adalberto: Eu sei. Mas tô tão cansado que não ia nem ver o Jornal da Globo. Você vai dormir aqui?
Lu: Pode ser. Adal, sei lá, com a vitória do Dourado no BBB, estava pensando, acho que todo mundo merece uma segunda chance.
Adalberto: Nem todo mundo. O Alexandre Nardoni é um que não merece.
Lu: Agora, você me confundiu.
Adalberto: Por quê?
Lu: O Bial já tinha conseguido me convencer de que todo mundo merecia uma segunda chance.
Adalberto: O texto do Bial tem que ser apropriado pro resultado da votação. Aliás, ele faz isso muito bem.
Lu: É... Ai, que roda-viva que tá a minha vida.
Adalberto: Lu, fala logo o que tá acontecendo.
Lu: O Jackson fugiu da cadeia e me ligou. Perguntou se eu não quero ir com ele pra Colômbia.
Adalberto: Colômbia? Por que Colômbia? Ele é das Farc?
Lu: É. E daí? Eu não tô preocupada com isso, Adal. A minha parada com ele é maior do que tudo.
Adalberto: Olha, Lu, falta, exatamente, um minuto pra meia-noite. Se você não correr com essa tua história absurda, já vão ser dois de abril.
Lu: Como assim?
Como assim "como assim"? Não era piadinha de primeiro de abril?
Adalberto: Ué, primeiro de abril. Não é isso?
Lu: Eu nem sabia que dia é hoje. Eu tô quase me mudando pra Colômbia e você de brincadeira.
Adalberto: É que hoje, agora ontem, era primeiro e abril. Não dá pra saber quem tá falando a verdade.
Lu: Eu tô querendo largar tudo. Eu amo o Jackson.
Adalberto: Você confia num cara que é bandido?
Lu: Eu boto a minha mão no fogo por ele. Ele não é um bandido porque quer.
Adalberto: Vamo tomar um chope aqui embaixo?
No dia seguinte, quando a Lu voltou pra casa, a porta do seu apartamento estava arrombada e todas as suas joias tinham sido levadas. Ainda bem que eu nem precisei acusar ninguém. Ela já tinha certeza de quem tinha sido. Se ela botasse mesmo a mão no fogo pelo tal do Jackson, estaria maneta agora.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
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muito show muito show mesmoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!! podemos pensar em mudança viu? caso no ensaio alguns textos não nos de segurança suficiente de alegria do público...
ResponderExcluirbeleuza!
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