quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nem tudo é primeiro de abril

Eu estava dormindo e não fazia a menor ideia de nada. Tinha esquecido de colocar o relógio pra despertar. Se não fosse a Marjorie, acho que não acordaria a tempo de ir pro trabalho, de tão cansado que estava.

Adalberto: Oi.

Marjorie: Que voz é essa?

Adalberto: Que horas são?

Marjorie: Hora de você tomar vergonha na cara, juízo, café-da-manhã, banho e voar pro trabalho.

Adalberto: Meu Deus, o relógio não despertou.

Marjorie: E eu achei que você já tivesse visto a surpresinha que eu deixei na frente da sua porta de ontem pra hoje.

Adalberto: Você veio aqui?

Marjorie: Não. Pedi pro entregador.

Adalberto: E o que é?

Marjorie: A cabeça do jacaré, que me venderam pra fazer bolsa.

Adalberto: Não acredito nisso.

Marjorie: Na cabeça do jacaré?

Adalberto: Também. Vocês matam os animais pra fazer bolsa?

Marjorie: Adal, você ia gostar de tomar banho num rio e ser surpreendido por um jacaré? Ele ia te matar.

Adalberto: Problema é meu. Ele tá na habitat natural dele.

Marjorie: Olha logo a caixa.

Adalberto: Eu, não. Vou tomar banho. Tô atrasado pro trabalho. E não vou abrir caixa nenhuma. Vou jogar fora sem ver o que tá dentro.

E desliguei o telefone. Mas, claro, fui primeiro abrir a caixa. Até parece que eu ia desafiar a minha curiosidade e jogar a caixa fora sem abri. Um jacaré de pelúcia! Liguei pra cretina:

Adalberto: Sua cretina!

Marjorie: Primeiro de abril!

Adalberto: Hoje é primeiro de abril?

Marjorie: É. Ontem foi 31 de março. Hoje é primeiro de abril.

Adalberto: Ah, tá. Prima, deixa eu ir lá, que eu tô atrasado. Adorei, tá. Beijo.

A manhã no trabalho tinha sido estressante. Um monte de coisas pra fazer num dia, que parecia ter muito menos de 24 horas. Na hora do almoço, foi a vez da Ane me ligar:

Adalberto: Oi, amoreca.

Ane: Tá almoçando?

Adalberto: Ih, já é meio-dia e eu achei que ainda fossem nove da manhã. O dia tá voando.

Ane: Pode falar?

Adalberto: Posso. Vou aproveitar e descer pra almoçar. Se cair é porque eu entrei no elevador, tá?

Ane: Sabe aquela DJ que namorou a Lindsay Lohan?

Adalberto: Samantha Ronson.

Ane: Foi minha primeira experiência homossexual.

Adalberto: Como assim?

Ane: Ela tocou, ontem, na Casa da Matriz. A gente se conheceu e ficou.

Adalberto: Não tô acreditando nisso.

Ane: Não? E que eu vou embora com ela pros Estados Unidos? Nisso você acredita?

Adalberto: Você não devia abandonar a empresa do seu pai, assim, por causa de uma paixão louca.

Ane: Por uma paixão louca, eu abandonaria, sim. Mas por um negão-armário de dois metros de altura. Não pela Samantha Ronson, né, Adal. Primeiro de abril!

Adalberto: Sua cachorra.

Ane: Meu pai ficou desesperado, quando eu falei isso pra ele.

Adalberto: Tu é louca. Pior que a Marjorie, hoje cedo, conseguiu me pegar com essa porra de primeiro de abril.

Ane: Você é muito desligado, primo.

Adalberto: Não é, não. É tanta coisa na minha cabeça, que, pra mim, hoje já era dia dois de abril. Agora ninguém me pega mais.

Entrei no elevador e a ligação caiu. Quando cheguei no térreo, o telefone tocou de novo. Achei que era a Ane retornando a ligação. Mas, não. Era a ingênua da Sara, querendo dar uma de esperta comigo:

Sara: Primo, entrei pra academia.

Adalberto: Tá. Primeiro de abril.

Sara: E já tô pegando o meu personal trainer. Transamos, ontem e tudo.

Adalberto: Sara, eu sei que isso é mentirinha de primeiro de abril.

Sara: E terminei com o Oswaldo.

Adalberto: Nossa, isso é um ultra megamente power primeiro de abril.

Sara: Droga! Não consigo mentir pra ninguém.

Adalberto: Tadinha. Me liga de novo, então, que eu finjo que acredito.

Sara: Não. Assim não tem graça.

Adalberto: Então, tá, pretty baby. Deixa eu almoçar, porque o dia tá corrido.

E, depois de um longo dia de trabalho, cheguei em casa e só queria saber da minha cama. Nem ia tomar banho, quando a campainha tocou. Era a Lu:

Adalberto: O que é que aconteceu?

Lu: Nada. Amanhã é feriado. Você não tem que acordar cedo.

Adalberto: Eu sei. Mas tô tão cansado que não ia nem ver o Jornal da Globo. Você vai dormir aqui?

Lu: Pode ser. Adal, sei lá, com a vitória do Dourado no BBB, estava pensando, acho que todo mundo merece uma segunda chance.

Adalberto: Nem todo mundo. O Alexandre Nardoni é um que não merece.

Lu: Agora, você me confundiu.

Adalberto: Por quê?

Lu: O Bial já tinha conseguido me convencer de que todo mundo merecia uma segunda chance.

Adalberto: O texto do Bial tem que ser apropriado pro resultado da votação. Aliás, ele faz isso muito bem.

Lu: É... Ai, que roda-viva que tá a minha vida.

Adalberto: Lu, fala logo o que tá acontecendo.

Lu: O Jackson fugiu da cadeia e me ligou. Perguntou se eu não quero ir com ele pra Colômbia.

Adalberto: Colômbia? Por que Colômbia? Ele é das Farc?

Lu: É. E daí? Eu não tô preocupada com isso, Adal. A minha parada com ele é maior do que tudo.

Adalberto: Olha, Lu, falta, exatamente, um minuto pra meia-noite. Se você não correr com essa tua história absurda, já vão ser dois de abril.

Lu: Como assim?

Como assim "como assim"? Não era piadinha de primeiro de abril?

Adalberto: Ué, primeiro de abril. Não é isso?

Lu: Eu nem sabia que dia é hoje. Eu tô quase me mudando pra Colômbia e você de brincadeira.

Adalberto: É que hoje, agora ontem, era primeiro e abril. Não dá pra saber quem tá falando a verdade.

Lu: Eu tô querendo largar tudo. Eu amo o Jackson.

Adalberto: Você confia num cara que é bandido?

Lu: Eu boto a minha mão no fogo por ele. Ele não é um bandido porque quer.

Adalberto: Vamo tomar um chope aqui embaixo?

No dia seguinte, quando a Lu voltou pra casa, a porta do seu apartamento estava arrombada e todas as suas joias tinham sido levadas. Ainda bem que eu nem precisei acusar ninguém. Ela já tinha certeza de quem tinha sido. Se ela botasse mesmo a mão no fogo pelo tal do Jackson, estaria maneta agora.

2 comentários:

  1. muito show muito show mesmoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!! podemos pensar em mudança viu? caso no ensaio alguns textos não nos de segurança suficiente de alegria do público...

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