sábado, 17 de julho de 2010

Lu nem precisou chamar o síndico...

Eu estava andando meio perdido pelo Centro da Cidade num desses dias de folga, que a gente trabalha mais do que em dias normais, quando esbarei, sem querer, em alguém:

Lu: Porra!

Adalberto: Lu!

Lu: Adal! Tá fazendo o que aqui?

Adalberto: Tô de folga hje. Vim resolver umas coisas.

Lu: Tá indo almoçar?

Adalberto: Tá na hora do almoço?

Lu: Em que planeta você tá garoto?

Adalberto: Mercúrio. Acabei de pagar um monte de conta e já tô no vermelho de novo.

Lu: Então, vamo almoçar comigo e com o Pitombo. A gente paga pra você.

Adalberto: Tá.

Eu nem lembrava que Pitombo era o cara que ela estava "conhecendo". Eu estava estranhamente aéreo e só consegui ligar o nome a pessoa, despretensiosamente, quando chegamos à porta da empresa em que ele trabalha.

Adalberto: A gente vai subir?

Lu: Lógico. Tenho que marcar território.

Adalberto: Ah...

Quando saímos do elevador, senti um clima horrível no andar. Um povo com cara de defunto. A atendente, que parecia apreensiva, disse que o Pitombo pediu pra que aguardássemos na sala de espera.

Lu: Fico puta com isso.

Adalberto: Ele deve estar ocupado.

Lu: Caguei. A mulher tem que vir primeiro na vida de um homem, depois o trabalho. Eu, hein...

Adalberto: Já, já você coloca isso na cabeça dele.

Quando a Lu ia abrir a boca pra falar alguma coisa, começou uma gritaria na sala do Pitombo. Era ele aos berros:

Pitombo: Eu não vou aceitar mais essa porra! Caralho, você é muito burra! Burra! Burra! É isso que você é? A minha vontade é matar você. Faz tudo errado. Eu odeio trabalhar com gente incompetente. Sai daqui da sala agora e refaz tudo!

Eu lembro que a Lu me disse alguma coisa de que esse Pitombo era um fofo.

Adalberto: Coitada de quem tomou esse esporro.

Lu: É.

Quando a porta se abriu, uma menina linda saiu de dentro. A Lu olhou pra ela de cima a baixo.

Lu: Coitada nada. Olha a cara de piranha dela. Não deve fazer nada direito.

Adalberto: Olha o recalque...

A atendente pediu pra quenós entrássemos na sala. Parecia que o Pitombo tinha feito uma aula yoga emergencial pra lidar com pessoas que não têm nada a ver com o seu dia de cão. Era uma outra pessoa:

Pitombo: Oi, paixão. Estava com saudade de você.

Lu: Tudo bem, linduxo? Esse aqui é o meu primo, Adalberto.

Adalberto: Oi, prazer.

Pitombo: A Lu fala muito de você.

Isso eu já sabia, mas fiz cara de honrado, trocamos mais meia-dúzia de palavras e descemos pra almoçar. Eu, definitivamente, não conseguia imaginar aquele cara gritando com alguém, mesmo que fosse a funcionária mais incompetente do mundo, que nem sei se é o caso da menina bonitona. No restaurante:

Pitombo: O que vocês querem comer?

Lu: Escolhe você.

Pitombo: Escolhe você.

Lu: Escolhe você.

Pitombo: Escolhe você.

Antes de mais um "escolhe você", eu decidi.

Adalberto: Eu gosto desse peixe assado no forno. Vou pedir.

A Lu fez uma cara de "como assim, seu louco", mas eu fingi que não era comigo:

Adalberto: Garçom!

O silêncio reinou em absoluto durante o almoço na nossa mesa, até que o Pitombo encontrou um fio de cabelo no peixe dele. Ele chamou o garçom e deu um daqueles esculachos no rapaz. Depois disso, o silêncio reinou em absoluto no restaurante inteiro. No dia seguinte, o silêncio reinou em absoluto no relacionamento dele com a Lu. Ela me ligou pra explicar o porquê:

Lu: O cara é um louco. Me levou pra dormir na casa dele, que é cheia bugiganga de quebrar, que a mãe dele, que já morreu há dez anos, deu pra ele. Não sei como é que duraram tanto tempo.

Adalberto: Hum, você quebrou alguma coisa?

Lu: Alguma coisa, não. Quebrei tudo. Acordei no meio da noite, com tudo escuro, morrendo de vontade de fazer xixi, com o olho semi-aberto, cheio de remela... Não enxergava nada direito.

Adalberto: E aí?

Lu: Lembra do esporro da secretária?

Adalberto: Perfeitamente.

Lu: E o do garçom?

Adalberto: Pô...

Lu: Aquilo não foi nada.

Adalberto: Jura?

Lu: O síndico do prédio dele teve que chamar a polícia. Parecia que ele ia me matar.

Adalberto: E aí?

Lu: Uma confusão só. Fui parar na delegacia. Nem queo lembrar disso, Adal.

Adalberto: Tá, mas e depois disso? Você voltou pra casa na meio da madrugada sozinha?

Lu: Claro que não. E fui pra casa do síndico. Mas eu tenho que ir pro salão agora, Adalzinho. Depois, eu te conto o resto dessa história pessoalmente.

Nem precisava. Pelo sorrisinho que ela deu, antes de desligar o telefone, eu já podia imaginar. Mas é claro que, quando ela me contou o resto da história, eu ainda me surpreendi com muita coisa.

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