Fomos eu, Ane, Lu e Marjorie almoçar na casa da Sara num sábado do mês passado. Tinha um tempinho que ela não nos via e resolveu promover um salmão ao molho de maracujá. Eu não gosto de misturar doce com salgado, não, mas:
Marjorie: Tá uma delícia, prima.
Sara: Aprendi na Ana Maria Braga.
Ane: Muito bom mesmo.
Adalberto: Eu também gostei. Só dispensei o molho de maracujá, porque prefiro sentir o sabor do salmão puro.
Lu: Eu prefiro uma sardinha. Não sei por quê esse peixe é tão caro.
Marjorie: Ai, não fala besteira.
Ane: Sua pobre.
Lu: Tsic.
Sara: Eu também gosto de sardinha. Mas num fim de tarde de domingo, como petisco. E vocês que gostam de uma cervejinha, então...
Lu: Menina, falando em de sardinha em fim de tarde de domingo, no meu fim de semana passado, eu estava com um sereio.
Adalberto: Ih, pronto.
Lu: É sério, Adal.
Marjorie: E cadê esse homem?
Ane: Foi amor de um fim de semana?
Lu: Claro que não. O Gleycon Nunes tá apaixonado por mim.
Adalberto: Gleycon Nunes? Você chama o cara de Gleycon Nunes?
Lu: É o nome dele, ué.
Marjorie: Não. O nome dele é Gleycon. Nunes é o sobrenome dele.
Lu: Você conhece?
Marjorie: Não. Quer dizer, até conheço um Gleycon Nunes, mas é um cara tão anti-social, que jamais namoraria com você, estrovertida desse jeito.
Ane: Aquele, né?
Marjorie: É!
Ane: Ih, nunca mesmo.
Sara: Deixa ela falar do Gleycon Nunes dela, então.
Adalberto: Tá, mas, entre a gente aqui, vamo usar só o primeiro nome dele.
Lu: Ai, Adal, que saco. Eu falo Gleycon Nunes, porque é a maneira que ele se refere a ele mesmo.
Adalberto: Ok. Nós aqui, vamos nos referir a ele só pelo primeiro nome.
Marjorie: Car, pior que o meu Gleyon Nunes, aliás, o meu quase Gleycon Nunes, também se referia a ele mesmo dessa maneira.
Ane: É mesmo.
Lu: Porra, será que essas galinhas já ciscaram no terreno do meu Gleycon Nunes?
Marjorie: Ah, minha filha, eu não duvido nada. Esse mundo é uma Roda da Skol. Só tem doze pessoas.
Ane: O que é que você sabe dele?
Lu: Tudo. Ele me contou a vida dele toda.
Marjorie: Então, não deve ser o mesmo, porque o nosso Gleycon Nunes jamais contaria a vida toda.
Adalberto: Ah! Gleycon! Só Gleycon!
Ane: Não ia mesmo.
Lu: O que é que vocês sabem da vida dele?
Ane: De quem?
Lu: Do Gleycon de vocês.
Marjorie: Ele morou na Tijuca.
Lu: Confere.
Ane: Agora, acho que tá morando em Ipanema.
Lu: Confere.
Marjorie: Tem o cabelo grisalho.
Lu: Confere.
Ane: Deve ter uns cinquenta e poucos anos.
Lu: Confere.
Adalberto: A Lu passou a curtir homens mais velhos?
Lu: Cala a boca, Adal.
Ane: Adora uma bermuda cargo.
Lu: Confere.
Marjorie: Odeia MC Donald´s.
Lu: Gente, confere total.
Ane: É skatista.
Lu: Porra, fudeu. Confere. E chega. É ele. A gente tá falando do mesmo Gleycon.
Sara: Então, o Gleycon das meninas é o seu Gleycon.
Lu: Como assim Gleycon das meninas? Tá maluca? O Gleycon é meu.
O telefone da Lu tocou. Um doce pra quem adivinhar quem era...
Lu: O Gleycon! Vou fazer a louca. Alô. Alô, quem é? Oi! Não, é que o meu celular é meio doido mesmo. Tudo bem, meu amor? Tô aqui na minha prima almoçando. É? Ai, que lindo. E como é que tá aí? Muito frio? Ai, que lindo. Oi? Ai, que fofa, manda outro pra ela. Posso, posso, sim. Tá bom. Beijo. Gente, para tudo!
Ane: O quê?
Lu: Esse homem quer casar comigo.
Marjorie: Onde que ele tá?
Lu: Na casa da mãe dele.
Ane: Em Petrópolis.
Lu: É. Minha sogra me mandou um beijo, tá?
Marjorie: Mentira! Ele nunca sequer falou da mãe pra mim.
Ane: Eu só sabia que os pais dele moram em Petrópolis. Mais nada.
Marjorie: Tô passada!
Ane: Engomada!
Lu: E eu tô com tudo e não tô prosa, porque aquele homem é tu-do.
Marjorie: É mesmo. Ele é um troféu na vida de um ser humano.
Adalberto: Gente, pelo amor de Deus, vocês falam do cara como se ele fosse a última Coca-Cola Light Plusdo deserto.
Ane: Mas ele é, primo, você não tá entendendo.
Marjorie: É mesmo, Adal.
Lu: É.
Sara: Nossa Senhora!
Adalberto: O Gleycon é o cara.
A Lu recebeu uma mensagem de texto no celular. Tcharam:
Lu: "É só falar com você, que me encho de ternura. Sinto vontade de passar através do aparelho, te agarrar e não te soltar nunca mais. Do seu amor: Gleycon Nunes".
Adalberto: Ai, que brega.
Marjorie: Que fofo.
Ane: Que lindo.
Sara: Queria tanto que o Oswaldo fosse assim comigo...
Adalberto: Bom meninas, eu tenho que ir. Combinei com a Thaiz, aquela minha amiga do Martins, um cineminha. Sarita, abre a porta pra mim?
Saí de lá com o preocupado com a provável desunião que esse Gleycon ia trazer pra minha família. Quando o assnto é homem, as minhas primas são capazes de tudo. Nesse caso, a Lu bem que seria capaz de desaparecer das nossas vidas, só pra não deixar o Gleycon dando sopa pra Ane e pra Marjorie.
Ainda bem que isso não aconteceu! Quando a Lu foi buscá-lo na rodoviária, na semana seguinte, o Gleycon já tinha voltado a ser o cara mais antissocial do mundo. Bem do jeito que a Marjorie e a Ane descreveram. E o pior de tudo: machista toda a vida. Parece que não queria nem mais que a Lu trabalhasse num salão, é mole? Ele disse que salão é lugar de mulher ficar falando de homem. Concordo. Mas e daí? Homem não fala de mulher tomando cerveja em pé-sujo? Não vejo problema nenhum nessas coisas.
Que bom que o Gleycon Nunes voltou a ser assim. Evitou um possível afastamento da minha querida Lu das primas. Eu, agora, até me refiro a ele por Gleycon Nunes mesmo, como forma de gratidão.
No fim de semana seguinte, estavámos nós cinco, tomando cerveja, com exceção da Sara (claro!), e falando mal do Gleycon Nunes. E isso já fez esse namoro relâmpago da Lu valer a pena:
Lu: Cara escroto, mal resolvido, velho, machista, anti-social, babaca, brocha, imbecil. Eu jamais me afastaria das minhas primas, minhas melhores amigas, por causa desse idiota.
Que assim seja.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
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já tinha tempo q não lia nada teu, até pq fiquei sem muito tempo mesmo... estava em ensaios e estreamos outro projeto... retornou aos cinco muito legal isso ... muito bom o tetxo e interessante, como sempre disse a vc: tu escreve bem, tem criatividade e isso é importante, além do humor gostoso e inteligente... um beijão e vou procurar ler tudo depois com calma beijão Mar´Junior
ResponderExcluirOlá Adalberto. Cheguei ao seu blog porque estava procurando por Buchinha da India no google.
ResponderExcluirVi que você contou uma história sobre sinusite e citou o tal medicamento.
Não consigo encontrar aqui na minha cidade. Onde você conseguiu comprar aí no Rio? Preciso muito, pois já me curei de sinusite com esse remédio, e agora gostaria de indicar para um amigo que sofre muito com a doença, mas não encontramos em lugar algum aqui em SC. Tem outro nome?
Vou ficar aguardando sua resposta. Meu e-mail é paula.fa.cardoso@gmail.com.
Obrigada, Paula.
Obrigado, Mar'. Que bom que gostou. Continua lendo, sim!
ResponderExcluirPaulinha, aqui no Rio tem Buchinha da Índia. Eu posso comprar e mandar pra você. Eu também tenho sinusite e a minha é bilateral aguda. Sei como é brabo isso.
Beijo!