segunda-feira, 5 de julho de 2010

Anti-social é um dos doze da Roda da Skol

Fomos eu, Ane, Lu e Marjorie almoçar na casa da Sara num sábado do mês passado. Tinha um tempinho que ela não nos via e resolveu promover um salmão ao molho de maracujá. Eu não gosto de misturar doce com salgado, não, mas:

Marjorie: Tá uma delícia, prima.

Sara: Aprendi na Ana Maria Braga.

Ane: Muito bom mesmo.

Adalberto: Eu também gostei. Só dispensei o molho de maracujá, porque prefiro sentir o sabor do salmão puro.

Lu: Eu prefiro uma sardinha. Não sei por quê esse peixe é tão caro.

Marjorie: Ai, não fala besteira.

Ane: Sua pobre.

Lu: Tsic.

Sara: Eu também gosto de sardinha. Mas num fim de tarde de domingo, como petisco. E vocês que gostam de uma cervejinha, então...

Lu: Menina, falando em de sardinha em fim de tarde de domingo, no meu fim de semana passado, eu estava com um sereio.

Adalberto: Ih, pronto.

Lu: É sério, Adal.

Marjorie: E cadê esse homem?

Ane: Foi amor de um fim de semana?

Lu: Claro que não. O Gleycon Nunes tá apaixonado por mim.

Adalberto: Gleycon Nunes? Você chama o cara de Gleycon Nunes?

Lu: É o nome dele, ué.

Marjorie: Não. O nome dele é Gleycon. Nunes é o sobrenome dele.

Lu: Você conhece?

Marjorie: Não. Quer dizer, até conheço um Gleycon Nunes, mas é um cara tão anti-social, que jamais namoraria com você, estrovertida desse jeito.

Ane: Aquele, né?

Marjorie: É!

Ane: Ih, nunca mesmo.

Sara: Deixa ela falar do Gleycon Nunes dela, então.

Adalberto: Tá, mas, entre a gente aqui, vamo usar só o primeiro nome dele.

Lu: Ai, Adal, que saco. Eu falo Gleycon Nunes, porque é a maneira que ele se refere a ele mesmo.

Adalberto: Ok. Nós aqui, vamos nos referir a ele só pelo primeiro nome.

Marjorie: Car, pior que o meu Gleyon Nunes, aliás, o meu quase Gleycon Nunes, também se referia a ele mesmo dessa maneira.

Ane: É mesmo.

Lu: Porra, será que essas galinhas já ciscaram no terreno do meu Gleycon Nunes?

Marjorie: Ah, minha filha, eu não duvido nada. Esse mundo é uma Roda da Skol. Só tem doze pessoas.

Ane: O que é que você sabe dele?

Lu: Tudo. Ele me contou a vida dele toda.

Marjorie: Então, não deve ser o mesmo, porque o nosso Gleycon Nunes jamais contaria a vida toda.

Adalberto: Ah! Gleycon! Só Gleycon!

Ane: Não ia mesmo.

Lu: O que é que vocês sabem da vida dele?

Ane: De quem?

Lu: Do Gleycon de vocês.

Marjorie: Ele morou na Tijuca.

Lu: Confere.

Ane: Agora, acho que tá morando em Ipanema.

Lu: Confere.

Marjorie: Tem o cabelo grisalho.

Lu: Confere.

Ane: Deve ter uns cinquenta e poucos anos.

Lu: Confere.

Adalberto: A Lu passou a curtir homens mais velhos?

Lu: Cala a boca, Adal.

Ane: Adora uma bermuda cargo.

Lu: Confere.

Marjorie: Odeia MC Donald´s.

Lu: Gente, confere total.

Ane: É skatista.

Lu: Porra, fudeu. Confere. E chega. É ele. A gente tá falando do mesmo Gleycon.

Sara: Então, o Gleycon das meninas é o seu Gleycon.

Lu: Como assim Gleycon das meninas? Tá maluca? O Gleycon é meu.

O telefone da Lu tocou. Um doce pra quem adivinhar quem era...

Lu: O Gleycon! Vou fazer a louca. Alô. Alô, quem é? Oi! Não, é que o meu celular é meio doido mesmo. Tudo bem, meu amor? Tô aqui na minha prima almoçando. É? Ai, que lindo. E como é que tá aí? Muito frio? Ai, que lindo. Oi? Ai, que fofa, manda outro pra ela. Posso, posso, sim. Tá bom. Beijo. Gente, para tudo!

Ane: O quê?

Lu: Esse homem quer casar comigo.

Marjorie: Onde que ele tá?

Lu: Na casa da mãe dele.

Ane: Em Petrópolis.

Lu: É. Minha sogra me mandou um beijo, tá?

Marjorie: Mentira! Ele nunca sequer falou da mãe pra mim.

Ane: Eu só sabia que os pais dele moram em Petrópolis. Mais nada.

Marjorie: Tô passada!

Ane: Engomada!

Lu: E eu tô com tudo e não tô prosa, porque aquele homem é tu-do.

Marjorie: É mesmo. Ele é um troféu na vida de um ser humano.

Adalberto: Gente, pelo amor de Deus, vocês falam do cara como se ele fosse a última Coca-Cola Light Plusdo deserto.

Ane: Mas ele é, primo, você não tá entendendo.

Marjorie: É mesmo, Adal.

Lu: É.

Sara: Nossa Senhora!

Adalberto: O Gleycon é o cara.

A Lu recebeu uma mensagem de texto no celular. Tcharam:

Lu: "É só falar com você, que me encho de ternura. Sinto vontade de passar através do aparelho, te agarrar e não te soltar nunca mais. Do seu amor: Gleycon Nunes".

Adalberto: Ai, que brega.

Marjorie: Que fofo.

Ane: Que lindo.

Sara: Queria tanto que o Oswaldo fosse assim comigo...

Adalberto: Bom meninas, eu tenho que ir. Combinei com a Thaiz, aquela minha amiga do Martins, um cineminha. Sarita, abre a porta pra mim?

Saí de lá com o preocupado com a provável desunião que esse Gleycon ia trazer pra minha família. Quando o assnto é homem, as minhas primas são capazes de tudo. Nesse caso, a Lu bem que seria capaz de desaparecer das nossas vidas, só pra não deixar o Gleycon dando sopa pra Ane e pra Marjorie.

Ainda bem que isso não aconteceu! Quando a Lu foi buscá-lo na rodoviária, na semana seguinte, o Gleycon já tinha voltado a ser o cara mais antissocial do mundo. Bem do jeito que a Marjorie e a Ane descreveram. E o pior de tudo: machista toda a vida. Parece que não queria nem mais que a Lu trabalhasse num salão, é mole? Ele disse que salão é lugar de mulher ficar falando de homem. Concordo. Mas e daí? Homem não fala de mulher tomando cerveja em pé-sujo? Não vejo problema nenhum nessas coisas.

Que bom que o Gleycon Nunes voltou a ser assim. Evitou um possível afastamento da minha querida Lu das primas. Eu, agora, até me refiro a ele por Gleycon Nunes mesmo, como forma de gratidão.

No fim de semana seguinte, estavámos nós cinco, tomando cerveja, com exceção da Sara (claro!), e falando mal do Gleycon Nunes. E isso já fez esse namoro relâmpago da Lu valer a pena:

Lu: Cara escroto, mal resolvido, velho, machista, anti-social, babaca, brocha, imbecil. Eu jamais me afastaria das minhas primas, minhas melhores amigas, por causa desse idiota.

Que assim seja.

3 comentários:

  1. já tinha tempo q não lia nada teu, até pq fiquei sem muito tempo mesmo... estava em ensaios e estreamos outro projeto... retornou aos cinco muito legal isso ... muito bom o tetxo e interessante, como sempre disse a vc: tu escreve bem, tem criatividade e isso é importante, além do humor gostoso e inteligente... um beijão e vou procurar ler tudo depois com calma beijão Mar´Junior

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  2. Olá Adalberto. Cheguei ao seu blog porque estava procurando por Buchinha da India no google.
    Vi que você contou uma história sobre sinusite e citou o tal medicamento.
    Não consigo encontrar aqui na minha cidade. Onde você conseguiu comprar aí no Rio? Preciso muito, pois já me curei de sinusite com esse remédio, e agora gostaria de indicar para um amigo que sofre muito com a doença, mas não encontramos em lugar algum aqui em SC. Tem outro nome?
    Vou ficar aguardando sua resposta. Meu e-mail é paula.fa.cardoso@gmail.com.
    Obrigada, Paula.

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  3. Obrigado, Mar'. Que bom que gostou. Continua lendo, sim!

    Paulinha, aqui no Rio tem Buchinha da Índia. Eu posso comprar e mandar pra você. Eu também tenho sinusite e a minha é bilateral aguda. Sei como é brabo isso.

    Beijo!

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