quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Marjorie namora com o presente falsificado do meu colega de trabalho

No dia do desfile de uma grife, que ter modelos usando as bolsas da Marjorie, a Lu me ligou:

Lu: Ai, sei lá, não tô a fim.

Adalberto: Mas de ontem você falou que estava louca pra ir.

Lu: Pois é. Dois loucos não se bicam.

Adalberto: De quem você tá falando?

Lu: Do Loco Abreu.

Adalberto: Como assim?

Lu: O namorado da Marjorie, garoto.

Adalberto: Caramba, Lu, me dá, então, o seu convite?

Era aniversário de um colega de trabalho uruguaiano, o Javier, que é fanático pelo Loco Abreu. Ele ia amar conhecer o jogador. Um presentaço pra ele.

Ele se atrasou um pouco pra se arrumar, e nós chegamos ao fim do desfile. No começo do coquetel. Foi difícil encontrar a Marjorie, em meio a tanta gente. Mas conseguimos.

Marjorie: Achei que você ia embora sem falar comigo.

Adalberto: Tá maluca?

Marjorie: Você é doido.

Adalberto: Pois é, falando em doido, cadê o Loco?

A Marjorie deu um sorriso, que, na hora, eu não entendi o que significava.

Adalberto: Ele veio só pra falar com ele. Trabalha lá comigo. Javier.

Marjorie: Oi, Javier, tudo bem?

Javier: Todo bem.

Marjorie: Gostou do desfile?

Javier: Muito. Muy lindo!

Que mentiroso.

Adalberto: O Javier também é do Uruguai.

A Marjorie fez uma cara de que "no comprendo", mas dissimulou:

Marjorie: Ah, é? Legal.

Nisso, chega um maluco completamente irritado, empurrando o Javier, que, na hora, estava com a mão na cintura da Marjorie.

Marjorie: Oi, Gui.

Aguinaldo: Vambora agora.

Marjorie: Mas, Gui. Tem um monte de gente querendo.

Aguinaldo: Agora.

Marjorie: Adal, depois eu te ligo.

Adalberto: Tá bom.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Sei lá. O cara é maluco. Deve ser algum cliente irritado da Marjorie.

Javier: E o Loco Abreu? No veio?

Adalberto: Pois é, ele deveria estar aqui com a Marjorie.

Javier: Vamos procurar.

Adalberto: Vamo. Vamo, sim.

Depois de uma hora rodando o salão, decidi ligar pra Marjorie:

Adalberto: Amore, eu sei que você disse que me ligaria, mas é que eu já tô há mais de uma hora com o Javier, procurando o Loco. Ele veio?

Marjorie: Que Loco, Adal. De que Loco que você tá falando?

Adalberto: Do seu namorado, ué.

Marjorie: Ai, vai se catar.

E desligou o telefone.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Caiu. Deve ter acabado a bateria.

Javier: Que pena! E ahora?

Adalberto: Ai, Javier, você me desculpa, mas...

Javier: No, no. Todo bem. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vou só ligar pra Lu, minha outra prima. Ela me garantiu que o Loco viria.

Javier: Sem problema, sem problema.

Adalberto: Alô, Lu. Então, amoreca, você não disse que o Loco viria? Como é que você tem certeza disso? Estilista? O Loco é estil...

Fiquei ouvindo a Lu me explicar que o Loco Abreu não era bem quem eu imaginava. O Loco Abreu, na verdade, se chama Aguinaldo Abreu e é estilista da grife que desfilou com as roupas bolsas da Marjorie. Loco Abreu foi o apelido maldoso, que a Lu deu pra ele.

Devia ser o cara maluco, que veio cheio de grosseria, arrastando a Marjorie embora. Eu lembro dela ter chamado o cara de Gui.

Lu: Ela chama ele de Gui, sim.

Putz, então, esse é o Loco da Uruguaiana. O Loco pirata.

Adalberto: Tá bom, então, babe. Beijo.

E agora? Como falar pro Javier, que deixou comemorar o aniversário com a família, pra conhecer o Loco Abreu? Mentir pro bem não é pecado. Alguém, que eu não lembro quem, me disse isso.

Adalberto: Javier, o Loco teve que ir pro Uruguai às pressas. A vozinha dele tá mal.

Javier: Oh, que pena! Que pena!

Adalberto: Desculpa.

Javier: No, no. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vamo tomar um chopinho lá fora, então? Hoje eu não tô pra essas comidas chiques, que não enchem barriga.

Javier: Vamos, claro.

Eu já não sabia mais quantos chopes nós tínhamos bebida, mas ainda não estava louco o suficiente pra não saber que era o Loco Abreu, que acabava de entrar no bar em que estávamos, acompanhado de uma louraça:

Javier: Mira, se yo não soubesse que Loco foi pra Uruguai, ia hablar com aquele hombre, pensado ser Loco.

Eu ri de nervoso pra não chorar.

Adalberto: Vamo embora? A gente já tá muito louco. Tamo até tendo visão. Isso não é bom.

Javier: No, no. A música ao vivo vai começar agora. E yo vou cantar pra ti, meu amigo.

Ai, não acredito. O Javier estava tão bêbado, que, quando o cantor agradeceu a presença ilustreo do Loco Abreu, ele achou que o cara também tinha bebido.

Javier: Mira, que louco! Bebeu mais que nós!

Adalberto: É.

Javier: Voy cantar o Hino de Uruguai. Conoces?

Claro que não!

Adalberto: Acho que não.

E ele foi lá. A pro meu desespero, o Loco foi cantar com ele. Até que foi engraçado ver o Javier abraçado ao Loco Abreu sem ter a menor noção de que estava ao lado do seu maior ídolo.

Mas, no dia seguinte, no trabalho, o esporro que eu ia tomar do Javier não ia ter a menor graça. Cheguei a pensar em inventar uma doença. Mas eu sou caxias; detesto faltar trabalho. Fui assim mesmo.

E fui recebido com festa pelo Javier.

Javier: Amigo, cheguei a ficar com raiva de ti, mas passou, passou. Estoy famoso. Obrigado pot tudo.

Isso, ele falou na frente de umas 300 pessoas. Eu estava completamente sem graça.

Adalberto: De nada.

Esse mundo é muito louco...

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