quarta-feira, 20 de abril de 2011

Consolo para sogra pirata acaba com o relacionamento da Marjorie

Saí do trabalho, ontem, correndo para levar a Marjorie, que estava bem pertinho da empresa onde trabalho, ao hospital em que a mãe do Solisvaldo, a dona Lequinha, foi internada às pressas.

Adalberto: Calma, amore, ela vai ficar bem.

Marjorie: Adal, eu nem faço questão de que ela sobreviva. Mas queria que ela aguentasse um pouquinho, pelo menos, até me conhecer.

Adalberto: Como assim, Marjorie? Por que isso?

Marjorie: Porque o Solisvaldo disse que só namora as mulheres que a mãe dele aprova.

Adalberto: E você não achou isso ridículo?

Marjorie: Achei. Mas eu estou gamada nesse filha da mãe. Por isso que eu me submeto a essa palhaçada.

Adalberto: E ela sabe que você está indo lá para vê-la?

Marjorie: Sabe. Ele ligou para ela, avisando que ia sair do trabalho tarde e disse que eu ia ficar a noite toda com ela.

Quando chegamos ao hospital, tive que correr para alcançar a Marjorie. Ela tinha pressa em pegar a mãe do Solisvaldo viva. Que horror.

Marjorie: É aqui.

Adalberto: Vai lá que eu te espero aqui fora.

Marjorie: Não. Você vai comigo. Quero impressionar a minha sogra com meu primo inteligente.

Adalberto: Até parece. É mais fácil você chocar a sua sogra com a minha presença.

Marjorie: Cala a boca e vem.

A dona Lequinha estava sentada na maca chorando muito, mas, aparentemente com boa saúde. Nos aproximamos para fazer um primeiro contato.

O barulho do salto da Marjorie, que me irrita profundamente, não chamou a menor atenção da dona Lequinha. Ela parecia muito concentrada.

Marjorie: Olá.

Lequinha: Oi, minha filha.

Marjorie: Eu estava na rua e vim direto para cá. Esse aqui é o meu primo, o Adalberto.

Odeio quando me apresentam para uma pessoa que está passando por um momento difícil. Tenho sempre o ímpeto de perguntar se tá tudo bem.

Adalberto: Oi, tudo bem?

Não falei?

Lequinha: Não, meu filho. Não está nada bem comigo, não.

Marjorie: Mas vai melhorar.

Adalberto: É.

Lequinha: Eu não sei, não. Estou muito descrente. Toda vez que isso acontece eu fico assim. Muito mal. Muito mal mesmo. Acho que dessa vez, eu vou embora, não vai ter jeito.

Marjorie: Ai, não fala assim.

Lequinha: Não tem jeito, não, minha filha.

Adalberto: Tem, sim. É só a senhora acreditar. Pensar positivo vai fazer bem para sua saúde.

Marjorie: Também acho.

Lequinha: Obrigada, meninos. Mas eu também quero ir. Vai ser melhor para mim. Eu estou sofrendo muito.

Marjorie: Não fala assim que eu vou chorar.

Lequinha: Chora, não, minha filha. Eu posso voltar de vez em quando.

Morri de medo. Eu tenho medo de escuro, assombração, vampiro, fantasma, alma penada. Não! Ela não pode voltar! Ou fica ou vai de vez!

Adalberto: Olha só, deixa eu falar uma coisinha para a senhora: eu acho que, no caso da senhora ir, não vai ser legal voltar.

Marjorie: Adal!

Adalberto: Estou falando sério, Jojô. Voltar depois que se foi embora é pior do que ficar aqui nesse estado.

E, com isso, tomei um beliscão da Marjorie no braço.

Adalberto: Ai!

Lequinha: O que foi, meu filho?

Marjorie: Nada. O braço dele esbarrou na minha unha sem querer.

Lequinha: Ah...

Marjorie: Olha, deixa eu falar para a senhora uma coisa, eu sou designer de bolsas. Se a senhora sair desse hospital boa, eu vou encher a senhora de bolsas incríveis da minha fábrica.

Lequinha: É? Legal. É bom que eu vendo.

Nossa, que deselegante.

Marjorie: A senhora pode fazer o que a senhora quiser, se a senhora não gostar das bolsas. Fica a seu critério.

Lequinha: Então, eu vou sair, sim.

Marjorie: Isso! É assim que se fala! Gostei!

Adalberto: Isso que é pensar positivo.

Marjorie: Não é? Olha, eu vou dar uma semana para a senhora ficar boa.

Lequinha: Uma semana? Eu estou ótima, minha filha, vamos.

 E eis que a dona Lequinha levantou da maca, secou as lágrimas e já estava toda cocotinha andando rebolativamente. Não entendi nada.

Adalberto: Nossa, Deus operou um milagre na vida dessa senhora. Deixa eu esfregar o meu braço no seu para ver se eu pego um pouco dessa sua sorte, dona Lequinha.

Lequinha: Dona Lequinha? Quem é Dona Lequinha?

Adalberto: A senhora. A senhora não é a dona Lequinha?

Lequinha: Não, meu nome é Aldemira.

Marjorie: Como assim?

Lequinha: Aldemira, ué. O mesmo nome da minha avó. Foi uma homenagem.

Adalberto: Então, a senhora não está morrendo? E não não ia voltar depois que bater as botas?

Lequinha: Eu?

Marjorie: A senhora está aqui fazendo o que, então? Que palhaçada é essa?

Adalberto: Calma, Jojô. A senhora não é mesmo a mãe do Solisvaldo? Em hipótese alguma?

Lequinha: Eu? Eu, não! Eu lá vou botar nome feio em filho meu? Meus filhos têm nome de americano. Jennifer, Christofer, Magaiver.

Adalberto: Jojô, você deve ter feito confusão com os números dos quartos. Só pode. A dona Lequinha de verdade deve estar em outro quarto.

Marjorie: Não, Adal, o Solisvaldo anotou para mim. O quarto é o 203 mesmo. Eu não estou maluca.

Adalberto: Tem alguma coisa errada, então. A senhora está internada aqui desde quando?

Lequinha: Eu? Garoto, eu não estava internada. Eu trabalho aqui. Aliás, trabalhava, né? Depois da grosseria que a velha safada, que estava internada aqui, fez comigo, eu não quero mais saber disso aqui, não. Vou pedir minhas contas.

Adalberto: Então, a velha safada é a dona Lequinha?

Lequinha: Sei lá qual era o nome daquela maluca. O que eu sei é que eu não tenho culpa do médico ter falado para ela, que ela só estava com uma enxaquecazinha. Acho que a mulher queria ter um câncer, uma doença mais grave. Ficava gritando: não pode ser, não pode ser! Eu, hein.

Adalberto: Que louca. Ela é hipocondríaca.

Marjorie: Que medo.

Lequinha: Eu vim limpar o quarto, porque me mandaram, mas ela mandou eu sair. Aí, eu disse que tinha que fazer a minha faxina e ela tomou a vassoura da minha mão, você acredita. E detalhe: ainda me deu uma vassourada na cabeça. Eu não aguento isso, não.

Adalberto: E a senhora não fez queixa na administração do hospital?

Lequinha: Não, não adianta nada. Eles não estão nem aí pra uma faxineira, não, menino. Você está mais preocupado do que eles.

Marjorie: Bom, me dá licença, então, que eu tenho mais o que fazer. Vamos, Adal.

Lequinha: E as bolsinhas, minha filha. Você ainda vai me dar para vender?

A Marjorie só olhou para a falsa dona Lequinha e saiu. A velha não entendeu nada. Mas isso me disse tudo. Fui atrás dela. Nem pensei em falar para a ex-dona Lequinha fazer um exame de corpo de delito para ter provas contra aquele hospital de bosta, que deixa o paciente bater no funcionário e não faz nada.

Já no carro, tive dúvidas sobre para onde ir.

Adalberto: E agora?

Marjorie: Me leva para um bar, pelo amor de Deus.

Adalberto: Bar?

Marjorie: Eu quero beber. Lá, a gente liga para as meninas encontrarem a gente.

Adalberto: Mas e a dona Lequinha?

Marjorie: Dispenso. Quer pra você?

Adalberto: Não. Vassourada dói muito.

Marjorie: Estou fora dessa velha maluca

Adalberto: Mas tem o Solisvaldo no meio disso tudo. E você mesma disse, que a mãe dele tem que aprovar as namoradas do filho.

Marjorie: Vem cá, queridinho, me responde uma pergunta: quem é Solisvaldo?

Eu A-DO-RO a Marjorie por isso! Confesso que eu desconheci a prima mais prática que eu tenho, quando ela entrou nessa onda de querer conhecer a mãe de um carinha para receber aprovação. A Marjorie não tem o perfil de aceitar esse tipo de situação. Que bom que, no fim de tudo, ela foi coerente e deletou o sentimento pelo Solisvaldo num átimo. E o melhor de tudo: pagou a conta do bar onde nós enchemos a cara.

Mandou muito bem!

2 comentários:

  1. Por isso que a Marjorie é a minha prima prefereida srsrsrrsrs

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  2. a Marjorie quebra o coco, mas não arrebenta a sapucaia, como diria Mfalabella.

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