segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ombro amigo dá lugar a engradado de cerveja, aos 45m do segundo tempo, no Dia dos Namorados

O meu Dia dos Namorados foi sensacional. Fiquei em casa assistindo a todas as comédias românticas , que os canais a cabo transmitiram. E gostei. Eu tinha um preconceito enorme com esse gênero. Me incomodava aquela previsibilidade de um casal se ama, briga nos quinze primeiro minutos do filme, depois fica mais ou menos uma hora e meia tentando se matar, até que alguma coisa nada relevante acontece e eles voltam a se amar. Aí, sobem os créditos finais e você não tem a menor pista de como é viver feliz para sempre.

Enfim, entre uma noiva que fugia no dia do seu casamento e uma mulher que achava que a sua relação estava em crise, porque o marido não percebeu o novo corte de cabelo, a Sara me ligou:

Sara: O Oswaldo não comprou nada pra mim.

Adalberto: E daí? Você não é namorada do Oswaldo. É a mulher dele.

Sara: Mas ele sempre me deu.

Adalberto: Sempre deu, mas chega uma hora que para de dar. Com o meu pai e a minha mãe também foi assim. Liga, agora, pra minha mãe e pergunta se ela ganhou alguma coisa do meu pai.

Sara: Mas comigo é diferente, primo.

Adalberto: Claro que você é diferente. Você, praticamente, obriga o Oswaldo a te dar presente de Dia dos Namorados, aniversário, aniversário de casamento, Dia Internacional da Mulher... Até Dia das Crianças!

Sara: E ele sempre me deu. Você acha que tá acontecendo alguma coisa?

Adalberto: Como assim?

Sara: Alguma mulher, Adal!

Adalberto: Ah, Sarita, você só pensa nisso. Claro que não. O Oswaldo tá super feliz com os trigêmeos, curtindo à beça a sua gravidez. Fora que ele tá gastando uma grana com o enxoval de três. Aliás, esse deve ser o motivo pra ele não te comprado nada pra você. Um filho já é muita despesa. Imagina três...

Sara: Verdade.

Adalberto: E vai se acostumando a não receber mais presente no Dia das Crianças, depois que os bebês nascerem.

A campainha tocou. Era a Ane:

Adalberto: Posso saber aonde você vai assim, toda bonita?

Ane: Claro. Vou sair com o Arleildo.

Adalberto: E posso saber quem é Arleildo?

Ane: Lógico. É o meu futuro namorado.

Adalberto: Humm, que coisa boa. E posso saber onde vocês se conheceram?

Ane: Óbvio. Na The Week.

Adalberto: Legal. A The Week, apesar de ser uma boate gay, é bastante freqüentada por héteros.

Ane: Mas que disse que ele é hétero?

Adalberto: Ah, ele não é hétero?

Ane: Não.

Adalberto: E o que é que um cara que é gay vai querer com você?

Ane: Tudo. Eu tenho muito pra dar prum cara que é gay, sabia?

Adalberto: Sabia. Mas o que você tem pra dar, ele dispensa.

Ane: Mas o Arleildo é diferente. Eu vi como ele me olhava.

Adalberto: Então, de repente, o cara não é gay.

Ane: É, sim!

Adalberto: Calma. Amigo...

Ane: Ele estava beijando outro cara. Eu vi.

Adalberto: De repente, ele é bi.

Ane: Ah, não! Não aceito um bissexual.

Adalberto: Ué, mas se o cara sentiu atração por você, ele é bissexual.

Ane: Mas eu quero ser exceção. A única na vida dele. Que nunca vai trocada por nenhuma outra.

Adalberto: Mas que pode ser trocada por outro. Olha só que diferente.

Ane: Ai, Adal, vira essa boca pra lá.

Voltei aos meus filmes. E na hora que o mocinho ia beijar a mocinha e eu, talvez, passasse a levar em consideração o amor eterno, chegou no meu celular um torpedo da Lu com o seguinte. “Dia dos Namorados de cu é rola. Viva a vida dupla!”. Ou seja, ela obviamente estava saindo com um homem comprometido.

Nisso, a Marjorie me ligou:

Marjorie: Adal, preciso de um ombro amigo.

Adalberto: Bom, o meu ombro, além de amigo é primo. Serve?

Marjorie: Serve. Tô indo aí agora.

Adalberto: Tá.

Medo!

Cinco minutos depois, a campainha tocou. A Marjorie costuma pisar forte no acelerador, mas não tinha como ser tão veloz, assim, do Leblon ao Recreio. Era a Lu. Com um olho roxo:

Lu: Primo, preciso de um ombro amigo.

Putz, dessa vez, eu não escapo da escoliose. Bom, um ombro já estava reservado pra Marjorie, mas eu ainda tinha o outro.

Adalberto: O que foi que aconteceu?

Lu: O carro do idiota que eu estava saindo é rastreado por satélite. A mulher dele foi atrás da gente e me pegou na porrada.

Bem feito! Quem mandou ficar com homem casado?

Adalberto: Tadinha. Vem cá, meu amor. Eu vou cuidar de você.

Mais uma vez a campainha.

Adalberto: Deve ser a Marjorie: Ela tá vindo pra cá.

Era a Ane:

Ane: Primo, preciso do seu ombro amigo?

Bom, enquanto a Marjorie não chegava, ela podia usar o ombro. Qualquer coisa, depois eu poderia realocá-la prum joelho, cotovelo ou calcanhar amigo, sei lá...

Ane: O Arleildo não queria nada comigo. Ele só queria o meu vestido emprestado pra ir na Parada Gay de Aão Paulo na semana que vem.

Fiz uma cara de lamento. E essa foi a reação mais profunda que eu pude ter, em relação a isso.

A porta ainda estava aberta, quando a Sara aos prantos:

Sara: Primo, preciso de um ombro amigo.

Ombro vago eu não tinha mais. Mas eu podia terceirizar os ombros da Ane e da Lu, se ela não se importasse.

Adalberto: O que foi, lindona?

Sara: Eu fui perguntar pro Oswaldo por que ele não comprou nada pra mim de Dia dos Namorados e sabe o que foi que ele me disse?

Adalberto: O quê, amor?

Sara: Que ele esqueceu.

E eu só tive o trabalho de acionar a mesma cara de lamento, que eu tinha desfeito há poucos segundos.

E eis que chegou a Marjorie:

Adalberto: Antes de qualquer coisa que você tiver pra falar, se isso te servir como consolo, tá todo mundo aqui na merda.

Marjorie: Jura? Tadinhas.

Adalberto: Ué, mas você também não tá na merda? Não precisava de um ombro amigo?

Marjorie: Precisava! Pretérito Imperfeito de Indicativo!

Adalberto: Que coisa boa! E o que foi que aconteceu no Presente do Indicativo pra você mudar de humor, posso saber?

Marjorie: Pode. Eu realizei que tenho saúde, dinheiro, amigos e uma família lindíssima pra ficar chorando por causa de homem.

Adalberto: Mas como você foi capaz chegar a essa conclusão inteligentíssima?

Marjorie: Descobri que o cara é casado, pobre e não tem dinheiro. Não preciso mais do seu ombro amigo, primo. Preciso de um engradado de cerveja e muitas gargalhadas.

E essa foi a melhor sugestão do dia. Todas aderiram ao projeto, com exceção da Sara, que ficou no Guaraná Antarctica, como sempre. E o meu ombro amigo sequer foi lembrado, depois do primeiro copo.

Sabe que eu acho? Todo Dia dos Namorados podia ser assim...

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