quinta-feira, 30 de junho de 2011

Guaraná Antarctica, meditação e déjà vu: uma combinação de dar medo

Eu estava almoçando num restaurante com a Marjorie na segunda-feira passada, quando uma senhora muito da enigmática veio até mim com uma latinha de Guaraná Antarctica aberta.

Senhora: Eu não bebi quase nada. Ainda tem muito aqui. Toma para você.

Adalberto: Obrigado, querida. Eu não bebo durante a refeição.

E recebi um beliscão da Marjorie.

Marjorie: Adal, você acabou de me falar, que estava louco para tomar um Guaraná Antarctica bem gelado.

Adalberto: Eu?

Recebi outro beliscão.

Adalberto: É que eu não bebo refrigerante normal. Só diet.

E a senhora continuava parada, blasé, com a mão segurando o guaraná na minha direção.

Marjorie: Me dá isso aqui. Obrigada, tá? Ele é muito tímido.

E a senhora saiu sem esboçar nenhum sentimento. Gelei.

Adalberto: Marjorie, que medo dessa mulher.

Marjorie: Medo por que, garoto? A mulher é uma fofa.

Adalberto: Mas o restaurante tá cheio. Por que logo eu?

Marjorie: Porque ela quis dar para você, achou que você tem uma cara boa, sei lá.

Adalberto: Será? Eu sei que eu tenho cara de pobre, mas ela não me fez um olhar de compaixão, sabe?

Marjorie: Ai, garoto, que neura. Me dá esse guaraná aqui.

Adalberto: Não! Tá maluca? Quer morrer? Você que é toda fresca vai beber isso?

Não deu tempo de impedir o pior. A Marjorie tomou a latinha da minha mão e tomou o guaraná todo.

Marjorie: Pronto.

Adalberto: Eu quero matar você.

Marjorie: Mata, ué.

Adalberto: Não vou precisar. Você já tomou esse guaraná envenenado.

Marjorie: Senhor Paranoia, vamos logo que eu ainda tenho que ir para o grupo de meditação.

Adalberto: Eu vou com você.

Marjorie: Como assim? Você não ia trabalhar?

Adalberto: Ia. Quero ficar com você nas suas últimas horas.

Marjorie: Tá bom.

No carro, fui trabalhando o meu poder de concentração. Eu não ia aguentar ficar sentando num lugar meditando com um monte de gente fazendo “aunnnnn, aunnnnn” sem me rolar de rir.

Eu falo isso, porque já tive uma experiência trágica com o Budismo. Um amigo me garantiu que eu me tornaria uma pessoa mais tranqüila, se me tornasse budista. Aceitei o desafio e fui a uma reunião. Foi a primeira e última. Eles entoavam um mantra, que eu me esqueci milhões de vezes e eu não via sentido em nada daquilo. Aliás, eu via muita graça naquilo. Passei mal de tanto rir e nunca mais tive a cara de pau de voltar lá. Hoje, se alguém me convida para um reunião budista, e mudo de assunto.

Marjorie: Chegamos.

Adalberto: Foi rápido.

Marjorie: Olha, Adal, eu acho que não preciso te falar para não rir, né?

Só de ter me falado disso, já senti vontade de rir.

Adalberto: Não. Fica tranquila. Eu tenho boa concentração.

Maior mentira.

Entramos na salinha de meditação, recebi umas orientações e, quando dei por mim, já estava há uns bons quinze minutos meditando amarradão.

A merda é que alegria de pobre dura pouco, né? Baixou um santo na Marjorie e toda aquela minha concentração foi para o saco.

Ele começou a rir como uma pomba-gira e eu me caguei de medo.

A instrutora começou a bater na cara dela e eu senti vontade de rir.

Por fim, a Marjorie caiu no chão desmaiada e eu comecei a chorar.

Adalberto: Foi aquela velha maldita que matou a minha prima. Eu vou atrás dela nem que seja no inferno!

E essas foram minhas últimas palavras, antes do meu desmaio.

Acordei na casa da Sara. Estávamos na cama eu e Marjorie.

Marjorie: Adal, o que é que a gente está fazendo aqui?

Adalberto: Sei lá. Aqui é a casa da Sara?

Marjorie: É. Olha ali o porta-retrato na cabeceira da cama, com uma foto dela com o Oswaldo.

Adalberto: Gente, que surreal.

Marjorie: Nada. A gente deve ter bebido a noite inteira. Isso, sim. Aposto que a Ane e a Lu também estão caídas no outro quarto.

Adalberto: Será?

Marjorie: Fato.

A Marjorie e a sua mania de minimizar as coisas, que me deixam neurótico...

Adalberto: Então, cadê a minha ressaca. A minha cabeça está ótima.

Marjorie: Engraçado. Também acordei com nada de ressaca.

Adalberto: Isso não é normal.

Marjorie: Ai, Adal, para de ficar procurando coisa onde não há nada. Que saco!

Adalberto: Tá bom. Se você está falando...

Marjorie: Relaxa, primo.

Nisso, a Sara entra no quarto com uma latinha de Guaraná Antarctica aberta.

Sara: Oi, meus amores, acordaram? Querem um pouquinho de guaraná? Eu não bebi quase nada. Ainda tem muito aqui. Toma para vocês.

E esse foi um dos piores déjà vu da minha vida. E acho que da Marjorie também.

Adalberto e Marjorie: Nãããããããããããããããããooooooooo!

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