terça-feira, 19 de julho de 2011

As cem vezes da discórdia

Ontem, quando saí do trabalho, fui tomar um chopinho com as minhas primas no Plebeu, no Humaitá, pertinho da casa da Ane. E a pauta da nossa conversa, por mais incrível que possa parecer, foi o número CEM.

Adalberto: Como assim?

Ane: Sempre que você quer mostrar que uma dos nós está errada, você diz que já nos advertiu CEM vezes?

Adalberto: Você está louca.

Lu: Não está, não, Adal. Isso também me irrita em você.

Adalberto: É sério isso?

Sara: Às vezes, você fala assim comigo também.

Marjorie: E, sem querer colocar lenha na fogueira, comigo você também fala assim.

Adalberto: Gente, hoje é segunda-feira, eu saí de lá dos cafundós de onde estou trabalhando, amanhã tenho que acordar super cedo e vocês vão mesmo ficar brigando comigo?

Marjorie: A gente não está brigando, primo. Só foi uma crítica construtiva

Sara: É.

Ane: Até porque a gente não vai deixar de gostar de você. Mas as outras pessoas podem não gostar desse seu jeito de falar.

Adalberto: Eu não falo com as outras pessoa do jeito que eu falo com vocês. Com vocês, eu tenho intimidade.

Lu: Primo, a gente só quis te dar um toque.

Adalberto: Tudo bem. Mas vocês estão sempre me dando um toque sobre como eu trato vocês e eu já expliquei uma CEM vezes , que eu trato vocês com mais intimidades, porque nós temos amizade para isso.

As quatro: Aí, viu!

Adalberto: O quê?

Marjorie: Você voltou na coisa das CEM vezes.

Adalberto: Eu?

Ane: E nem percebeu.

Adalberto: Eu? Eu percebi, sim.

Sara: Primo, você não percebeu. Você está parecendo o Oswaldo, que não reconhece quando está errado.

Adalberto: Sara, você vai ficar me comparando, agora, com o seu marido?

Sara: Não é isso, Adal.

Adalberto: É isso, sim. Eu vim aqui para ser alvejado por vocês? Vocês gostam de mim de verdade? Eu não esperava por isso, sabia? Vindo de vocês... Não mesmo. Vou embora.

Marjorie: Adal, para de ser intransigente.

Adalberto: Ah, agora eu sou intransigente também? O que mais eu sou? Hein? Podem falar. Intransigente... O que mais?

Sara: Chato.

Ane: Grosso.

Lu: Insuportável.

Adalberto: Bacana. Legalzão. Agora, vocês querem saber de uma coisa? Eu também penso o mesmo sobre cada uma de vocês. Eu estou indo embora, vou deixar 20 reais aqui para pagar as duas cervejas, que eu tomei. E você fiquem com o troco.

Marjorie: Adal, você vai mesmo?

Adalberto: Vou! Eu já falei cem vezes que vou e não vou repetir.

As minhas primas não paravam de dar gargalhadas histéricas e eu não entendia o por quê.

Adalberto: Do que foi que vocês estão rindo, hein? Tem algum palhaço aqui?

E antes que alguém respondesse, eu me dei conta de que tinha falado a porra das “CEM vezes” de novo.

As gargalhadas delas me irritaram tanto, que eu deixei elas na mesa rindo sozinhas e me despedi com um tchauzinho muito do blasé.

Quando cheguei no estacionamento, o estresse foi outro.

Flanelinha: Aí, tio, dois reis é só de manhã. De noite, o estacionamento é cinco.

Adalberto: Ah, é? E você está me achando com cara de quê? Papai Noel ou Madre Teresa de Calcutá? Outra coisa: eu NÃO sou seu tio.

Flanelinha: Se liga, então, meu irmão, pode pagando os cinco reais. Eu já falei umas CEM vezes que o estacionamento aqui, de noite, é esse preço. Ou paga ou vai sair com os quatro pneus furados.

Putz, a coisa das “CEM vezes” é, de fato, EXTREMAMENTE IRRITANTE. não me lembro dele ter falado sobre o preço do estacionamento comigo por mais de duas vezes. E nas vezes que ele me falou, eu sempre questionei e ele aceitou os meus dois reais.

Adalberto: Olha aqui, querido, das outras DUAS vezes, que você me cobrou cinco reais, eu te paguei dois e ficou tudo certo. Eu estou estacionando o carro na rua. É esse o preço.

Flanelinha: Eu não vou discutir contigo, não, parceiro.

Ele sacou um canivete apontou para mim. E eu me caguei de medo. Devia ser só para me assustar, porque em seguida, ele furou os quatro pneus do meu carro e desapareceu na fumaça. Fiquei tão assustado que mal tinha forças para falar. Não fiz nada.

Depois de uns cinco minutos, já mais tranqüilo, engoli o meu orgulho, enfiei meu rabinho entre as pernas e voltei para o bar, onde estavam as minhas primas.

Adalberto: Vocês ainda me acham intransigente, chato, grosso e insuportável?

Elas já estavam completamente bêbadas, com exceção da Sara, que além de não beber, tem evitado até o refrigerante, porque está grávida há sete meses. De trigêmeos.

Marjorie: Claro que não, primo. Você é um fofo.

Sara: Um queridão.

Ane: Um lindo.

Lu: Um gostoso.

Adalberto: Agora, vocês falaram a minha língua.

Marjorie: Então, senta aí e toma todas com a gente.

Ane: Todas, não, porque a gente já tomou a maioria.

Adalberto: Só mais uma, porque amanhã eu trabalho e vou ter que ir para casa de ônibus.

Sara: Ué, mas você não veio de carro, primo?

Adalberto: Vim mas essa é outra história.

Sara: O que foi que aconteceu?

Adalberto: Depois, eu te falo.

Sara: Ah, fala agora, Adal.

Adalberto: Sara, você é muito ansiosa. Você está grávida. Não pode ser assim. Eu já te falei isso umas CEM vezes.

As gargalhadas foram inevitáveis. Inclusive, as minhas.

Eu cheguei a prometer para elas, que jamais voltaria a falar das cem vezes. Ainda bem que eu estava bêbado!

-- ESSA É A PUBLICAÇÃO NÚMERO CEM DO BLOG E NÃO PASSA DE UMA HOMENAGEM PARA ANE, LU, MARJORIE E SARA --

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