Lembro como se fosse hoje de um ataque que a Ane deu com um auxiliar de serviços gerais, que trabalhava na empresa do pai dela. Eu estava em férias e tinha ido visitá-la. Passei a manhã toda com ela e, na hora do almoço, quando saímos para comer, aconteceu a cena fatídica.
Ane: Beraldino, que música é essa que você está cantando?
Beraldino: Ah, dona Ane, é um pagodinho do meu grupo.
Ane: Pois fique sabendo você, que eu odeio pagode com todas as forças que um ser humano pode ter. E não quero ninguém cantando pagode aqui nessa empresa.
Beraldino: Por quê?
Ane: Porque, aqui, quem manda sou eu. Se quiser cantar, canta uma música da Maria Bethânia, da Vanessa da Mata ou da Elis Regina. Até para varrer chão, nessa empresa, é preciso decência.
Depois disso, o cara pediu demissão e jamais tivemos notícias dele.
Agora, sabe aquela máxima de que quem bate esquece? Há controvérsias. No domingo, estávamos eu e Ane COMPLETAMENTE entediados na minha casa, assistindo ao Domingão do Fautão, quando fomos acometidos pela presença do Beraldino e seu grupo de pagode no programa.
Tive uma sensação de que já tinha ouvido uma das músicas que o grupo cantou. Conheço muitos pagodes, graças ao meu porteiro, que não dá trégua com o seu radinho.
A Ane ficou PAS-SA-DA.
Ane: Adal, eu estou passada.
Adalberto: Garota, eu não dava nada por esse menino.
Ane: Nem eu. Mas, agora, eu dou. E dou fácil.
Adalberto: Interesseira.
Ane: Interesseira, não. Ele está mais bonito.
Adalberto: Ele está rico e famoso.
Ane: Ai, Adal.
Adalberto: Ane, você esqueceu do esporro que você deu no cara?
Ane: Eu estava estressada. Ele deve ter entendido. Tenho certeza. Ele é um fofo.
Adalberto: Cala a boca, o Faustão está falando com ele.
Eu não consegui ouvir o que o Faustão perguntou para o Beraldino, mas a resposta parecia que estava engasgada.
Beraldino: ... Muito obrigado pela oportunidade e pelo apoio, Faustão. É de pessoas como você, que dão oportunidade para o samba, pagode, funk, axé, MPB, RAP, rock que o Brasil precisa. Preconceito não leva ninguém a lugar nenhum. Eu posso não conhecer muito bem o trabalho da Maria Bethânia, da Vanessa da Mata ou da Elis Regina, mas isso não me impede de ser um artista competente e comprometido com o meu trabalho e o meu público.
Ane: Adal!
Adalberto: Isso foi para você.
Ane: Estou passada. O cachorro não esqueceu.
De fofo, o Beraldino foi rebaixado para cachorro.
Adalberto: Boa memória ele tem.
Ane: Esse cara é um ingrato, trabalhou lá na empresa, tinha carteira assinada, tíquete refeição, vale-transporte, décimo terceiro...
Ou seja, tudo o que ela deu para o Beraldino não passou de uma obrigação do empregador.
Adalberto: Ane, vamos trocar de canal?
Eu estava com MUITO medo de ela arremessar alguma coisa na minha televisão de LCD. Ainda faltavam duas prestações para eu terminar pagar. E uma das coisas que mais me irrita nessa vida é ter que pagar por algo que eu não estou usufruindo.
Ane:Adal, vamos para um bar agora, senão eu vou tacar uma pedra nessa sua televisão.
Adalberto: Não!
E, imediatamente, desliguei a TV. Precisava calar a boca do Beraldino.
Ane: Esse grupo nunca vai fazer sucesso verdade. Depois dos quinze minutos de fama, ninguém mais vai ouvir falar deles.
Calei a boca e fiquei na minha para não contrariar a minha prima. Pelo pouco que vi, a plateia INTEIRA do Faustão sabia de cor e salteado TODAS as músicas do grupo do Beraldino.
Já no bar, depois de mais de dez chopes que tomamos cada um, peguei a Ane dançando uma das músicas do grupo do Beraldino. A tal que o meu porteiro sempre ouve.
Eu estava bêbado, mas ainda tinha discernimento.
Filmei tudo com o meu celular, mas ainda não tive coragem de mostrar o vídeo para ela. Até queria vê-la roxa de raiva de si mesma ao ver a filmagem, mas ainda tenho quatro prestações para pagar do meu celular...
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