Só hoje o meu ano começou de fato. O período entre Natal e Ano Novo foi mais intenso do que tudo o que vivi em 2011. Para começar o nosso amigo-oculto de Natal, na casa dos meus pais, foi um fiasco.
A brincadeira começou com a minha mãe.
Neide: Eu tirei uma pessoa muito chata, gorda, feia, mas que eu amo muito.
Camila: Meu pai!
Neide: Acertou.
Adalberto (pai): E eu tirei uma gordinha, que também é muito chato e feia, mas que eu também amo muito.
Sara: Tia Neide!
Adalberto (pai): Acertou.
E assim, começava o amigo-oculto mais sem graça do mundo.
Ane: Alguém tem que recomeçar.
Sara: Posso, primo?
Adalberto: Por mim...
Sara: Olha, gente, eu desconfio muito da pessoa que eu tirei. É que ele não me dá satisfação de tudo o que faz, não me liga para dizer se vai chegar mais tarde, toda sexta-feira tem futebol com os amigos, não repara quando eu corto o cabelo, esquece o nosso aniversário de casamento...
Adalberto: Sara, você vai mesmo lavar roupa suja no dia do Natal?
Sara: Ué, você já sabe quem eu tirei?
Marjorie: Ai, Sara, pelo amor de Deus.
Lu: Oswaldo, vai lá pegar o seu presente.
O melhor foi saber quem o Oswaldo tirou.
Oswaldo: Eu só queria que ela desconfiasse menos de mim.
Marjorie: Ah, não acredito que o Oswaldo tirou a Sara!
Eu acreditei. Afinal, tratava-se de um amigo-oculto da minha família. Não podia ser normal.
Na sequência, a minha irmã tirou o Eduardo, seu marido. E adivinhem quem ele tirou.
Eduardo: Eu tirei a Camila.
A Camila é a minha irmã. Olha só que emocionante foi essa brincadeira!
Adalberto: Agora, eu recomeço. Eu tirei o cara mais gato, lindo, inteligente, charmoso, interessante, gostoso do mundo.
Marjorie: Adal, você se tirou?
Adalberto: Sim.
Lu: E quem disse que você é isso tudo?
Adalberto: Eu não sou isso tudo. A gente não diz o contrário do que a pessoa é, quando vai revelar quem tirou?
Lu: Ah, tá. Então, você falou a verdade.
Adalberto: Cretina!
Marjorie: Adal, por que você não trocou de nome, quando viu que se tirou?
Adalberto: Porque eu não aguento mais receber presente, que eu não vou usar de vocês. Quem recomeça?
Ane: Eu. Tirei a pessoa mais horrorosa, xexelenta, escrota e burra da face da Terra.
Lu: Bom, se você também falou o contrário do que a pessoa é, você só pode ter me tirado.
Ane: Não. Eu me tirei.
Marjorie: Ah, gente, que coisa mais sem graça.
Essas foram as palavras mais sábias da noite de Natal.
Adalberto: Aproveita que você está indignada e descasca a pessoa que você tirou. Recomeça.
Marjorie: Eu me tirei.
Ane: Ué, por que você também não trocou de nome, quando viu que se tirou, meu bem?
Marjorie: Porque eu fui a última a pegar o papelzinho com nome. Não tinha como eu trocar.
Lu: Gente, posso recomeçar?
Adalberto: Vai, Lu.
Lu: Eu acho que houve alguma coisa errada. No meu papelzinho está escrito Du. Du é o Eduardo, não?
Camila: Ué, no papel que eu tirei estava escrito Eduardo mesmo. Não Du.
Sara: Isso mesmo. A Lu que fez confusão. Eu escrevi Lu. Não Du.
Adalberto: Ou seja, ela tirou a si mesma e perdeu uma ótima oportunidade de se dar um presente incrível.
Eduardo: Lu, passa para cá o meu presente, então.
Lu: Droga! A tua sorte é que eu não gosto de bermuda de tactel.
O Eduardo foi o que mais se deu bem nesse brincadeira. E olha que ele nem tem o sangue da família...
Marjorie: Foi a Sara que escreveu os nomes nos papeis?
Adalberto: Foi. A letra dela é horrível.
Lu: É. E eu me ferrei nessa, porque comprei um presente para o Eduardo.
Adalberto: Não liga, não, lindona. Eu me ferrei em todos os amigos-ocultos que eu participei até hoje. Esse foi o primeiro que eu recebi algo que vou usar.
Tenho que confessar: foi completamente sem graça. Mas eu me dei um presente que eu queria. Eu me amo por isso!
Neide: Meninos, vamos comer?
Adalberto: Vamos!
Comemos tudo e bebemos todas. Essa foi a melhor parte do evento, que esse ano, não contou com a chegada do Papai Noel.
O meu pai bebeu tanto, que à meia-noite, não tinha a menor condição de vestir aquela roupa vermelha quente.
Sara: Os meus filhos não vão ver o Papai Noel no primeiro ano de vida deles.
Neide: Ah, minha filha. Eles só têm três meses. Deixa para o ano quem vem. Já vão estar maiores e vão curtir mais.
Camila: É mãe, mas o meu filho também não viu Papai Noel. Ele já tem 4 anos.
Neide: Camila, o Diego já está até dormindo. E, de mais a mais, ele tem pavor de Papai Noel.
É... O Diego tem mesmo pavor de Papai Noel. E se ele visse como o avô dormindo no chão, roncando como um porco, e descobrisse que ele cara era o Papai Noel da família, ele teria ainda mais razão em não gostar de Papai Noel.
Nos dias seguintes, que antecederam o Ano Novo, não tive como trabalhar, tamanha era a minha ressaca. E no dia 31, participei da Corrida de São Silvestre, à tarde, para tentar perder de uma só vez os três quilos que ganhei de presente de Natal.
Desmaiei no meio do percurso.
E quando acordei no hospital, depois de algumas horas, já era Ano Novo.
Feliz 2012!
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