domingo, 12 de fevereiro de 2012

O que é um peido para quem está cagado? ou A fantasia que não caiu bem

O carnaval no Rio começou e eu não vi. Ontem, eu estava preparado para ir curtir o meu primeiro bloco, fantasiado de mosquito da dengue, quando resolvi atender o telefone de casa. Pela bina, vi que era uma ligação da Sara.

Adalberto: E aí, prima, vamos para o bloco?

Sara: Com dengue?

Adalberto: Isso. A Lu te contou a minha fantasia?

Sara: Fantasia de quê?

Adalberto: Da dengue, ué!

Sara: Não, garoto! Eu estou com dengue e o Oswaldo precisa sair para trabalhar. Tem como você vir ficar com os trigêmeos, porque eu não consigo levantar da cama?

Nessas horas, eu odeio ser padrinho dos filhos da Sara.

Não havia a menor possibilidade de eu tirar a minha fantasia para tomar conta dos bebês. Eu já tinha marcado com Deus e o mundo de encontrar no bloco.

Tentei tirar o meu da reta.

Adalberto: Sarita, eu vou ver com a Marjorie se ela pode ficar com você até eu chegar do bloco. Eu não consigo nem tirar a minha fantasia sozinho. Vou falar com ela e já te retorno.

A Marjorie não pôde me salvar.

Marjorie: Adal, eu estou de cama há três dias com dengue. Ia te ligar nesse instante para você ir fechar a fábrica para mim, porque a minha gerente teve que sair mais cedo.

Putz!

Adalberto: Amore, vou ver com a Ane se ela pode quebrar esse galho para mim. Eu estou de saída para um bloco de carnaval, com uma fantasia de dengue que eu sequer consigo tirar de mim. Te ligo em um minuto.

Com a Ane, eu constatei que, a cada ligação que eu fizesse, pior ficaria a minha situação.

Ane: Adal, eu não tenho a menor possibilidade de fazer nenhum favor para você. Mas você tem como me ajudar. Eu estou sentindo muita dor no corpo. Passa aqui em casa e me leva no hospital?

Adalberto: Ah, não!

Ane: Primo, eu não estou me aguentando.

Adalberto: E eu não te ligasse? Você nem ia lembrar que eu existo.

Ane: Garoto, eu já te mandei uns cinco torpedos.

O celular estava no silencioso. Fui checar e, realmente, vi uns torpedos desesperados da Ane.

Adalberto: Por que você não me ligou?

Ane: Porque eu não queria te acordar. Adal, eu não estou me aguentando de dor. Já chorei e tudo aqui nesse apartamento sozinha.

Coitadinha. Fui correndo buscá-la. Com a fantasia de dengue.

A médica deu o parecer, que eu já estava esperando.

Médica: É dengue.

Adalberto: Eu tinha certeza disso. Aliás, eu só não ganho na loteria, porque eu não jogo.

Ane: Adal, você me leva para casa?

Adalberto: Claro. O que é um peido para quem está cagado?

Ane: Ai, que nojo.

No corredor do hospital, encontramos com a Lu com uma cara de defunto.

Ane: Lu, o que você está fazendo aqui?

Adalberto: Você não imagina? Ela está com dengue, claro. Olha só a cara de morte dela.

Lu: Eu não estou com dengue.

É melhor eu continuar sem jogar na loteria.

Lu: Eu estou com ódio do mundo.

Adalberto: O que foi que aconteceu?

Lu: Fui fazer uma visita surpresa para um carinha, que eu pego de vez em quando e acabei virando babá dele. Ele está com dengue.

Ane: E você está na seca.

Lu: Por aí.

Adalberto: E cadê ele?

Lu: Foi fazer xixi. Você leva ele em casa para mim, primo?

Adalberto: Lu, eu estou indo agora levar a Ane em casa, que também está com dengue.

Lu: Então, ele mora em Botafogo, pertinho da casa dela. Eu não quero gastar mais dinheiro com táxi para não ter retorno nenhum.

Retorno = sexo.

Adalberto: Está bem, eu quebro esse galho para você.

Lu: Ai, que bom. Eu vou pegar um ônibus, então, para casa.

Adalberto: Beleza.

Lu: Agora, me diz uma coisa, Adal: por que você veio fantasia de dengue para o hospital?

Adalberto: Só agora você percebeu isso? Eu ia para um bloco de carnaval, mas a dengue alheia me impediu.

Lu: Essas coisas só acontecem com você, primo.

O pior é que ela estava com a razão.

Saí do hospital, deixei a Ane e o peguete da Lu em suas casas. Depois, fui fechar a fábrica da Marjorie. E, por fim, fui para a casa da Sara tomar conta do trigêmeos.

No fim de semana que vem, vou pensar numa fantasia que me traga mais sorte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário