segunda-feira, 26 de março de 2012

O triste fim do casamento da Ane

Na segunda-feira passada, liguei para a Ane para dar uma notícia, que eu não imaginava que ia deixá-la tão abalada.

Há seis meses, ela se casava com um amigo meu ítalo-americano, só para ajudá-lo a tirar documentação brasileira. Depois tudo resolvido, o próximo passo foi a separação

Ane: Como assim separação?

Adalberto: Ane, o Gianfrancesco casou com você só para tirar documentação brasileira, esqueceu?

Ane: Isso não justifica ele querer se separar de mim.

Adalberto: Ah, não? Você queria ficar casada com um cara que nem conhece direito?

Ane: Adal, a questão não é essa.

Adalberto: Então, qual é a questão?

Ane: Eu queria continuar casada.

Adalberto: Ane, essa ilusão não ia preencher a sua necessidade.

Ane: Mas preenchia de maneira paliativa.

Adalberto: Mas o paliativo não é suficiente.

Ane: Mas ajuda.

Adalberto: Mas não é amor.

E, durante três longos segundos, uma respiração triste revelou a tristeza, que a minha prima tentou me esconder.

Ane: Adal, eu tive um probleminha com clonagem de cartão de crédito e estou saindo agora para resolver no banco. A gente fala sobre isso mais tarde, pode ser?

Adalberto: Pode.

Coitada. Senti vontade de implorar para o Gianfrancesco continuar casado com a Ane pela vida toda, ou de arrumar outro marido fake para ela, ou de eu mesmo me casar com ela, ou o melhor saída: que ela encontrasse alguém que a amasse de verdade.

Mas no fim do dia, tive que retornar ao assunto.

Ane: Amanhã?

E uma palavra de apenas uma letra engasgou como bala Soft na minha garganta.

Adalberto: É.

Ane: Tudo bem.

Adalberto: Eu te ligo quando sair de casa.

Ane: Ok.

No caminho para o cartório, puxei uma conversa para quebrar o clima pesado do trajeto ao cartório.

Adalberto: Resolveu o problema do cartão de crédito?

Ane: Levei uns comprovantes para o banco e, agora, estou esperando eles resolverem.

Adalberto: Compraram muita coisa com o cartão clonado?

Ane: Foi o meu salário o todo.

Adalberto: Que merda.

Ane: Agora, além de pobre, eu vou ser uma divorciada.

E esse comentário foi o ponto final do nosso diálogo.

No cartório, tive receio de que ela fosse fazer algum tipo de escândalo com o Gianfrancesco. Mas, para a minha surpresa, ela se comportou da melhor maneira.

Eu é que queria arrebentar a cara dele. Logo eu, que fui o responsável por arrumar esse casamento. Na época, eu pensei em ajudar o amigo, mas não imaginei que fosse arruinar com a vida da minha prima.

Eu podia, pelo menos, ter feito uma procuração para assinar a separação no lugar dela. Ia ser um pouco estranho eu ir ao cartório me separar do meu amigo. Mas não ia ser triste.

Depois da separação assinada até a o momento em que a Ane entrou no meu carro, ela não esboçou nenhum sentimento, além da seriedade que escondia tudo o que eu já podia imaginar.

No carro, a visão periférica, conseguiu identificar alguma poucas lágrimas que não conseguiram se conter. Mas eu fiz como se estivesse com uma viseira de cavalo.

Ane chorou seis dias e seis noite copiosamente. Não conseguiu ir trabalhar nesse período.

Hoje, o sétimo dia após o fatídico término, a Ane recebeu uma ligação do banco. Eles identificaram a pessoa que clonou o cartão dela. Um representante da máfia italiana, chamado Gianfrancesco Brinkley.

Toda aquela tristeza que a Ane estava sentindo deu lugar à raiva, à decepção e ao arrependimento.

Agora, a Interpol, a Ane e eu estamos atrás dele. A Polícia quer prendê-lo, a minha prima quer cuspir na cara dele e eu quero baixar a porrada nesse mafioso.

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