Na segunda-feira passada, liguei para a Ane para dar uma notícia, que eu não imaginava que ia deixá-la tão abalada.
Há seis meses, ela se casava com um amigo meu ítalo-americano, só para ajudá-lo a tirar documentação brasileira. Depois tudo resolvido, o próximo passo foi a separação
Ane: Como assim separação?
Adalberto: Ane, o Gianfrancesco casou com você só para tirar documentação brasileira, esqueceu?
Ane: Isso não justifica ele querer se separar de mim.
Adalberto: Ah, não? Você queria ficar casada com um cara que nem conhece direito?
Ane: Adal, a questão não é essa.
Adalberto: Então, qual é a questão?
Ane: Eu queria continuar casada.
Adalberto: Ane, essa ilusão não ia preencher a sua necessidade.
Ane: Mas preenchia de maneira paliativa.
Adalberto: Mas o paliativo não é suficiente.
Ane: Mas ajuda.
Adalberto: Mas não é amor.
E, durante três longos segundos, uma respiração triste revelou a tristeza, que a minha prima tentou me esconder.
Ane: Adal, eu tive um probleminha com clonagem de cartão de crédito e estou saindo agora para resolver no banco. A gente fala sobre isso mais tarde, pode ser?
Adalberto: Pode.
Coitada. Senti vontade de implorar para o Gianfrancesco continuar casado com a Ane pela vida toda, ou de arrumar outro marido fake para ela, ou de eu mesmo me casar com ela, ou o melhor saída: que ela encontrasse alguém que a amasse de verdade.
Mas no fim do dia, tive que retornar ao assunto.
Ane: Amanhã?
E uma palavra de apenas uma letra engasgou como bala Soft na minha garganta.
Adalberto: É.
Ane: Tudo bem.
Adalberto: Eu te ligo quando sair de casa.
Ane: Ok.
No caminho para o cartório, puxei uma conversa para quebrar o clima pesado do trajeto ao cartório.
Adalberto: Resolveu o problema do cartão de crédito?
Ane: Levei uns comprovantes para o banco e, agora, estou esperando eles resolverem.
Adalberto: Compraram muita coisa com o cartão clonado?
Ane: Foi o meu salário o todo.
Adalberto: Que merda.
Ane: Agora, além de pobre, eu vou ser uma divorciada.
E esse comentário foi o ponto final do nosso diálogo.
No cartório, tive receio de que ela fosse fazer algum tipo de escândalo com o Gianfrancesco. Mas, para a minha surpresa, ela se comportou da melhor maneira.
Eu é que queria arrebentar a cara dele. Logo eu, que fui o responsável por arrumar esse casamento. Na época, eu pensei em ajudar o amigo, mas não imaginei que fosse arruinar com a vida da minha prima.
Eu podia, pelo menos, ter feito uma procuração para assinar a separação no lugar dela. Ia ser um pouco estranho eu ir ao cartório me separar do meu amigo. Mas não ia ser triste.
Depois da separação assinada até a o momento em que a Ane entrou no meu carro, ela não esboçou nenhum sentimento, além da seriedade que escondia tudo o que eu já podia imaginar.
No carro, a visão periférica, conseguiu identificar alguma poucas lágrimas que não conseguiram se conter. Mas eu fiz como se estivesse com uma viseira de cavalo.
Ane chorou seis dias e seis noite copiosamente. Não conseguiu ir trabalhar nesse período.
Hoje, o sétimo dia após o fatídico término, a Ane recebeu uma ligação do banco. Eles identificaram a pessoa que clonou o cartão dela. Um representante da máfia italiana, chamado Gianfrancesco Brinkley.
Toda aquela tristeza que a Ane estava sentindo deu lugar à raiva, à decepção e ao arrependimento.
Agora, a Interpol, a Ane e eu estamos atrás dele. A Polícia quer prendê-lo, a minha prima quer cuspir na cara dele e eu quero baixar a porrada nesse mafioso.
segunda-feira, 26 de março de 2012
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Tem muitas "Anes" e muitos "Gianfrancescos" neste mundo... um abraço Adalberto!
ResponderExcluirCom certeza! Abraço, querido!
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