sábado, 29 de setembro de 2012

Festa de aniversário dos trigêmeos da Sara acaba num lugar bem escondidinho

Há mais ou menos um mês atrás, a Sara se deu conta de que faltava muito pouco para o aniversário dos trigêmeos e de que nada havia sido feito até então. Ela veio até a minha casa me cobrar atitude, como se eu fosse o pai das crianças.

Sara: Em caso da falta de um pai, é o padrinho que assume a responsabilidade.

Adalberto: Mas os seus filhos têm um pai, que, por sinal, dorme todo dia ao seu lado, na cama. Por que você não cobra atitude do Oswaldo?

Sara: Esquece o Oswaldo, Adal. O pai para essas coisas é você.

Adalberto: E o que você quer que eu faça?

Sara: Que você me ajude com os preparativos da festa das crianças, ué. Falta um mês.

Adalberto: Lindona, vamos fazer o seguinte: a Ane trabalha para o pai e tem mais flexibilidade em tirar dias de folga. Vai agilizando as coisas com ela que, daqui a dez dias, vencem as minhas férias e eu vou ter todo o tempo do mundo para te ajudar. Está bom assim?

Sara: Perfeito.

Perfeito nada. Essa foi a maior merda que eu fiz na minha vida. A Ane, viajandona do jeito que é, daquelas que acredita em qualquer coisa que falam para ela, fez a cabeça da Sara para fazer uma superprodução para os trigêmeos, porque já que o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012, conforme o calendário maia, essa seria a única festa de aniversário que eles vão ter.

Dez dias depois, fui me encontrar com elas para ajudar nos preparativos.

Adalberto: E aí, meninas?

Ane: Tudo certo, Adal.

Medo.

Ane: Não precisamos de você mais para nada.

Sara: Como não? E a conta?

Ane: Ah, verdade. Só para pagara  conta.

Adalberto: Mas eu vou pagar tudo sozinho?

Ane: Claro! Padrinho é para isso.

Sara: Mentira, Adal. Ela está querendo te assustar. Você só precisa me dar um milhão.

Eu ri porque, sinceramente, achei que ela estava de brincadeira. Um milhão é algo completamente fora da minha realidade, e que, mesmo trabalhando a vida toda, eu jamais conseguiria juntar isso. E ela sabia muito bem disso.

Ane: Está rindo de quê? É sério, Adal.

Adalberto: Como assim sério? Um milhão eu só conseguiria entrando para o Big Brother Brasil.

Ane: Ah, mais não ia mesmo. Insuportável do jeito que você é? Iam te tirar na primeira semana.

Adalberto: Então, pronto. Nem entrando para a casa do Big Brother Brasil eu conseguiria um milhão. Sara, isso é brincadeira, né?

Sara: Não, Adal. É sério. A conta ficou em dez milhões. Dividimos entre mim, você, Ane, Oswaldo, Marjorie, Lu, tia Neide, tio Beto, Camila e Dudu.

Adalberto: Como assim? As pessoas já sabem disso?

Sara: No caso... Não.

Adalberto: Sara, que loucura é essa? Por que você fez isso? Você está usando droga?

Sara: Adal, o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro. Essa vai ser a única festa que eu vou poder fazer para os meus filhos.

Adalberto: Quem falou isso?

Ane: A Ane.

Adalberto: Ane, que loucura é essa?!

Ane: Alto lá! loucura, não! Isso é calendário maia. Filme "2012". Você não viu, não?

Adalberto: Não! Eu prefiro nem ver essas baboseiras. Não acredito nessas coisas. O homem não é Deus para dizer quando o mundo vai acabar. Sara, me admira você, que é tão temente a Deus, acreditar numa loucura dessas?

Sara: Ah, Adal, desculpa.

Adalberto: Desculpa, não. Você tem um milhão de reais na conta? Responde!

Sara: Não.

Adalberto: E você, Ane? Tem?

Ane: Não. Mas o meu pai tem. E ele pode me emprestar.

Adalberto: Ah, legal isso. O meu pai não tem. E mesmo se ele tivesse, ele não ia poder me emprestar, porque ele também vai ter que pagar um milhão para esse capricho de vocês duas. Olha, a pior coisa que eu fiz na minha vida foi pedir para a Sara resolver os preparativos dessa festa contigo. Você é doida! Aliás, vocês duas são doidas!

Sara: O pior é que não tem nem como voltar atrás, Adal. Já fechei com todo mundo.

Adalberto: Todo mundo quem? Com quem você fechou essa palhaçada?

Ane: Com a Xuxa, a Angélica, o Luciano Huck, o Faustão, o Serginho Groissman, a Ana Maria Braga, a Mara Maravilha, a Eliana, a Mariane, a Paty Beijo, a Maísa, o Rodrigo Faro, o Datena, o Ratinho, o Leão, o Leão Lobo, a Sônia Abrão, a Hebe, a Fátima Bernardes, o William Bonner, a Patrícia Poeta, a Ana Paula Padrão, o Didi, aliás, a turma inteira do Didi, o Bozo, o Topetão... Ai, é tanta gente... Cansei. Fala para ele o resto, Sara.

Adalberto: Não, não precisa! Não precisa falar o resto. Eu já vi que vocês, realmente, são duas loucas. Eu vou ligar para um hospício agora e pedir para virem buscar vocês agora! Vocês têm que ser amarradas com camisa de força! Como é que você faz uma coisa dessas, Sara?

Sara: Adal, você sabe que eu nunca gostei de nenhuma apresentadora infantil. Eu fui a todos os programas e nenhuma nunca me chamou para brincar.

Adalberto: Então, pronto! Você chamou um monte delas por quê?

Sara: Porque só pagando que elas não vão me desprezar. Só assim elas vão olhar para mim, falar comigo.

Caramba, fiquei com uma pena da Sara. A loucura dela não estava embasada no calendário maia. Mas num trauma de infância.

Adalberto: Ô, Sarita, vem cá.

Dei um abraço apertado nela e não consegui falar mais nada. E com base no calendário maia, no trauma da Sara e outros tipos de chantagem emocional, ajudei-as a contar para o resto da família sobre essa bomba.

E não adiantou nada. Todos quiseram matar a Sara. Até a Ane já estava meio arrependida da merda que tinha feito. Mas, agora, eu é que estava empenhado nessa causa. Eu sei o que é um trauma de infância. Eu não como ave, porque, quando era bem novinho, vi minha tia matando uma galinha para comer. Todo mundo me sacaneia por causa disso, insistem para eu experimentar comer, mas eu não consigo. É mais forte do que eu. Nem se me pagassem dez milhões eu comeria uma coxinha de galinha.

Todos pedimos empréstimos na esperança de que o mundo de fato acabasse no dia 21 de dezembro para não ter que passar a vida inteira pagando prestação. E, uma semana antes, eu, Ane, Lu e Marjorie fomo à casa da Sara para saber o que ela precisava falar com a gente, que era tão urgente.

Sara: Eu mandei fazer essas roupas aqui e nós vamos resgatar o Adalboy e as insuperáveis.

Adalboy e as insuperáveis era o nosso grupo musical. Coisa de criança, mas a gente até que levava a sério. Eu tinha certeza que íamos ficar famosos e viver da música. E as meninas também. A Sandy e o Júnior, que eram mais ou menos da nossa idade, cantavam pior e tinham um repertório bem mais fraco do que o nosso. Não era possível que a gente não ia fazer sucesso. Eu compus mais de 50 músicas. Tudo bem... Tinham umas que só tinham dois versos e vários lá, lá, lá, lá, lá. Mas eram músicas de qualidade. Se fosse hoje em dia, na era do lê, lê, lê, oi, oi, oi, tchu, tchá e todas as outras músicas monossilábicas que fazem o maior sucesso, a gente estaria bombando.

Adalberto: Claro! Nada melhor do que resgatar o Adalboy e as insuperáveis nesse momento! Um monte de gente bacana ia para festa dos trigêmeos.

Lu: Vai que o o Faustão chame a gente para se apresentar no programa dele?

Ane: E a gente explodindo com os nossos hits monossilábicos para todo o Brasil!

Marjorie: Bom, pelo menos, a gente vai ficar ficar rico e ter condições de pagar esses dez milhões.

Adalberto: Lógico! E o mundo não ia nem precisar acabar mais. Nunca mais! Sara, eu adorei essa ideia. Aliás, adorei tudo. Você a a Ane mandaram muito bem em organizar essa festa. Eu amo vocês!

O dia 27 de setembro caiu numa quinta-feira. E a Sara fez questão de comemorar na data.

A Angélica foi me buscar de táxi em casa, e eu achei que isso fizesse parte de alguma apresentação. Quem sabe o Adalboy e as insuperáveis não iam dar uma palinha com o Vou de táxi? Várias coisas se passaram pela minha cabeça, mas eu estava tão nervoso, ansioso e temeroso que não perguntei nada.

Só uma observação: a pinta da Angélica parece maior e mais feia. Prefiro pela televisão.

Cheguei na mesma hora que as meninas. Ane, Marjorie e Lu chegaram em táxis dirigidos, respectivamente, por Mara Maravilha, Eliana e Xuxa. Paty Beijo e Mariane eram as hostess. Achei estranho mas chegar à porta da HSBC Arena me embrulhou o estômago. Eu tinha ensaiado tudo com as meninas, mas ainda assim estava inseguro. Não é a Ivete Sangalo que diz que é normal sentir um friozinho na barriga antes de se apresentar? Artista que é artista sente isso.

Quando entramos, uma coisa me saltou aos olhos: os convidados eram xexelentas, mal vestidos e o pior: fediam mais do que gambá. E o curioso foi ver os outros apresentadores e artistas, servindo a eles.

Adalberto: Sara, o que é que Luciano Huck está fazendo com aquela bandeja cheia de croquete?

Sara: Servindo, ué. Eu contratei ele para isso. Não só ele como todas as outras celebridades. Celebridade hoje aqui somos nós.

Adalberto: E quem são essas pessoas imundas:

Sara: O povo que passa fome e fica zanzando pelas ruas, atrás de saquinho de Come e Damião. Eu quero essa gente de barriga cheia. Hoje, eles vão comer muito. E pelas mãos de quem tem muito. Olha lá que lindo o Faustão servindo quibe naquela mesa! Adoro!

Adalberto: Meus Deus. Como você é cruel.

Sara: Cruel nada, primo. Isso é inversão de valores.

Adalberto: É...

Minha mãe ficou inconformada ao ver o rei Roberto Carlos, recolhendo as latinhas que aquela gente sem educação jogava no chão. E tomou um baita esporro da Sara, porque estava ajudando o pobre coitado no serviço.

Sara: Tia Neide. Para agora de recolher latinha. O Roberto Carlos, o Fábio Júnior e o Chico Buarque estão aqui para isso. O seu lugar é lá em cima! Sentada no camarote. Vai para lá, anda! A nossa apresentação já vai começar.

A minha camareira foi a Marina Lima. Confesso que fiquei meio sem graça por ela. Eu sinto vergonha alheia, não tem jeito.

Era muito artista trabalhando naquela festa. Eu estava assutado. O povo da Tropicália cuidando do som, os Novos Baianos, da luz. Essa gente toda iria me ver cantando! Senti uma responsabilidade e uma dor de barriga fortíssimas.

E na hora do show, quando eu vinha descendo de uma corda, tipo uma tirolesa, que me levava ao centro do palco, me caguei lá do alto e sujei as primas, que estavam embaixo, fazendo a coreografia da primeira música. Todos riram copiosamente. Principalmente, os artistas. O Jô Soares quase morreu de tanto que achou graça da nossa cara. O cara ficou sem ar!

A Sara disse que não era para parar. E continuamos assim mesmo. Todos sujos de merda. O cheiro nem incomodou muito. No lugar já imperava uma fedentina anterior a minha cagada.

O curioso é que parecia que a gente estava agrandando aos xexelentos. Até que acabou a comida. A Sara se preocupou tanto em convidar a nata da classe artística, que não pensou na quantidade certa de comida. Essa gente come...

O Roberto Carlos parou de ter trabalho. Os xexelentos pegavam as latinhas jogadas no chão e tacavam na gente. isso, claro, acompanhado por muitas vaias. A Sara queria continuar. Eu continuei com o show até que fui atingido na altura do supercílio, que sangrava incessantemente. Saí do palco chorando de dor e as meninas vieram atrás de mim. Minha mãe, meu pai, minha irmã, o Dudu, o Oswaldo e os trigêmeos estavam nos esperando no nosso camarim.

Neide: O pessoal está lá fora querendo bater em vocês. Eles querem mais comida.

Sara: Manda a Xuxa ir lá fora agora e trazer todas as barraquinhas de cachorro-quente que ela vir pela cidade. vamos encher essa gente de cachorro-quente!

Neide: A Xuxa quer matar você, Sara. Ela e todas as outras apresentadoras infantis que te desprezaram na infância. Foi maldade o que você fez com o Roberto Carlos. Ele também está furioso! Aliás, todos os artistas estão querendo pegar você. E essa confusão vai espirrar em todos nós aqui. As crianças estão correndo risco e nós também. Eu não quero morrer agora. Até o dia 21 de dezembro, a gente ainda tem, praticamente, três meses.

Adalberto: Olha, arrombaram a porta do camarim. Vamos fugir!

Saímos pelos fundos e entramos no helicóptero alugado em que a Sara. O piloto se negou e levantar voo. Não nos restou outra alternativa, além de dar um soco na cara dele e deixá-lo caído no chão. Por sorte, o meu pai sabia conduzir um helicóptero. Pena que o senso espacial dele não é nada bom. Viemos parar no interior do Espírito Santo, no meio do mato, onde estamos até agora. Depois de dois dias sem comer nada e de andar mais de 30 quilômetros, chegamos a um vilarejo, que tem internet discada. Que glória! Eu não preciso de mais do que isso para escrever para os meus amigos.

Quem puder nos ajudar, o lugar se chama Escondidinho do Jaluru. É bem escondido mesmo. Mas dá para achar. A gente chegou até aqui...

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