sábado, 1 de setembro de 2012

Marjorie perde contrato milionário com artista plástico, mas viva Neil Armstrong!

Há uma semana, uns amigos argentinos da Marjorie chegaram ao Brasil para visitá-la. Um deles, segundo ela, é uma sumidade internacional na área das Artes Plásticas. Eu nunca ouvi falar o nome do cara, mas parece que ele já ganhou vários prêmios internacionais. Mas, enfim, depois de exaustivas tentativas de nos apresentar à gringalhada, fomos eu, Sara, Lu e Ane, ontem, à praia encontrá-los e acabar com mais essa pendência nas nossas vidas.

Sebastian: Hola chicos.

Adalberto: Hola.

Marjorie: Adal, esse é o Sebastian.

Adalberto: Ah, eu imaginei. 

Tinham mais cinco pessoas além do Sebastian. Mas ele era o único com cara de artista plástico. Eu não sei explicar direito, mas tem alguma coisa bem peculiar que só os artistas plásticos têm. Os outros aparentavam normais.

Sebastian: Tudo bem?

Adalberto: Fala português?

Sebastian: Um pouquinho.

Todo mundo que não sabe falar quase nada de português, costuma dizer que fala "um pouquinho". Como eu não estava com paciência de falar outro idioma que não fosse o meu, a resposta do Sebastian foi o álibi que eu precisava para conversar apenas em português. Continuei falando no meu ritmo e não estava nem aí se para o Sebastian. Sei lá, não fui muito com o cara. O santo não bateu. 

Sebastian: A Marjorie me falou muito bem de você.

Adalberto: Ah, que bom. Olha, essas aqui são minhas primas Sara, Ane e Lu.

Aí, começou a sessão "apresentações". Conhecemos a Lola, o Nestor, o Juan, o Paco e o Cesar. E, em seguida, os comentários maldosos à meia boca.

Lu: Adal, essa Lola deve ser uma periguete. Só ela de mulher no meio desses homens todos.

Adalberto: Ah, e eu que vivo com vocês sou o quê?

Ane: Nada a ver, Adal. Você é nosso primo lindo.

Sara: Eu não vou nem pedir para o Oswaldo me buscar para não correr o risco de cruzar com essa sirigaita.

Adalberto: Gente, fala mais baixa. Vamos conter a emoção e diminuir um pouco o tom, por favor.

E a guerra começou.

Lola¿Tu eres la chica que nos ha vendido las gafas oscuras aqui en la playa ayer?

Ane: Como assim? Está me achando com cara de ralé?

A Marjorie tentou amenizar o princípio de fúria da Ane.

Marjorie: Ane, gafas oscuras em espanhol significa obras de arte noir.

E mandou mal para caramba.

Ane: Marjorie, você está pensando que eu sou burra. Esqueceu que eu já fiquei com um chileno. Eu sei muito bem o que são gafas oscuras. Olha aqui, minha filha, eu não sou vendedora de gafas oscuras, não, está bem?

Adalberto: Ane, eu não vejo problema nenhum em vender óculos escuros na praia? É um trabalho como outro qualquer.

Sebastian: Claro que sim. O problema é que los óculos eram falsificados.

Aí, ferrou...

Adalberto: E você está querendo chamar a minha prima de contraventora? Está maluco? Bebeu água sanitária?

Marjorie: Adal, calma, por favor.

Sara: É, gente, vamos falar de outra coisa?

Marjorie: Vamos. Vocês viram que o Neil Armstrong morreu no sábado passado?

A Marjorie foi inteligente e deu início a um assunto de conhecimento de todos. Pena que, sem querer, ela plantou a discórdia.

Adalberto: Ah, eu vi. 

Ane: Se era bonzinho ele foi para o céu, pelo menos, ele já sabia onde iria pisar.

Lu: Sua sem graça. Fique sabendo você que ele não era bonzinho, não. Ele era muito bom. Muito bom mesmo. Ai, que recordações esse homem me traz... Aliás, eu devia mandar rezar uma missa de sétimo dia para ele hoje.

Marjorie: Por que isso tudo?

Lu: Por que isso tudo? O Mimi foi o primeiro homem a me deixar nas nuvens. 

E, assim, eu cheguei a duas conclusões: o Neil Armstrong, inegavelmente, já tinha dado uns pegas na Lu e, pior do que isso, foi tinha um apelido escroto brasileiro: Mimi. Inacreditável Futebol Clube!

Sara: Lu, isso é sério? Você é o Neil Armstrong.

Lu: Já, minha prima, está achando que eu vim a esse mundo de bobeira?

Marjorie: Como é que foi isso?

Lu: Então, parece até coincidência, mas o chileno que eu acabei de falar tem a ver com essa história.

Marjorie: Então, conta logo. Estou morrendo de curiosidade.

E eu estava tentando fazer um link da Lu com o Mimi, mas a minha pobre, humilde e parca imaginação não conseguia reunir esses dois extremos num espaço só. Ou melhor: numa cama.

Lu: Garota, quando eu fui esquiar com o Javier no Chile, o Mimi estava lá com uma periguete. A gente deu um perdido nos nossos respectivos e nos embrenhamos no meio da neve mesmo.

Ah, era isso! Não foi numa cama...

Lola: Então, você era a periguete que ficou o Mimi em Valle Nevado?

Adalberto: Ué, ligaram a tecla SAP? O que é isso?

Sebastian: Nosotros hemos estudiado juntos aquí en Brasil.

Adalberto: Então, volta a falar português, porque eu não sou palhaço.

Pronto! Foi o que faltava para eu perder a nesga de paciência que eu tentei preservar para a mala do Sebastian.

Lola: Esa chica...

Ane: Fala em português, palhaça!

Lola: Essa periguete ficou com o Mimi, quando ele foi me visitar no Chile!

Lu: Minha querida, você deu mole e eu peguei. De mais a mais ele já estava no segundo casamento e não era você a mulher dele. Está dando ataque de ciúmes por quê?

Lola: Porque eu era a amante oficial do Mimi.

Adalberto: É sério que você também chamava o Neil Armstrong de Mimi?

Lola: Claro! Era a minha maneira carinhosa de chamar o meu amor.

Lu: Ah, minha querida, então, essa era a nossa maneira carinhosa de chamar o NOSSO amor.

Lola: Eu vou arrebentar a tua cara, sua vagabunda.

Além de saber falar o português muito bem, a Lola descia do salto de uma maneira ímpar. Literalmente! quando ela sacou a sandália para tacar na Lu, começou a guerra. Lu, Ane e (pasmem!) Sara deram um festival de chutas, tapas na cara, pontapés e lanhadas na cara da pobre coitada da Lola, que ficou vendo estrelas de tão arrebentada que estava. Eu a Marjorie ficamos estatelados. Até aí, tudo bem. Não eram as nossas primas que estavam apanhando... O pior foi ver o Sebastian e os outros argentinos, que não abriram a boca em nenhum momento, também estatelados.

Eu fui o primeiro a quebrar o silêncio.

Adalberto: Vem cá, vocês vieram aqui para fazer figuração mesmo? Faz alguma coisa, gente! As minhas primas vão matar a amiga de vocês!

E foi a maior merda que eu fiz. Eles chamaram a Polícia e fomos todos parar na Deat, a Delegacia Especial de Apoio ao Turista.

A Sara, a Ane e a Lu foram presas. A Lola ficou vendo estrelas no E a Marjorie não sabia onde enfiar a cara. Só quando fomos a um caixa 24 horas para sacar a grana da fiança das meninas é que ela teve a brilhante ideia de me contar que a fábrica de bolsas dela estava para fechar um contrato milionário com o escritório do Sebastian.

Adalberto: Por que você não me falou isso antes? Eu teria me esforçado para tolerar a mala do Sebastian.

Marjorie: Sei lá, quando é assim, eu prefiro acreditar que não era para ser.

Adalberto: Verdade. Então vamos fazer o seguinte: vamos tirar as meninas da prisão e encher a cara de cerveja num pé-sujo para comemorar esse contrato de merda de que você se livrou?

Marjorie: Como assim contrato de merda, Adal? O contrato era ótimo! 

Adalberto: Mas não era para ser, Jojô! Você mesma acabou de dizer. E se era não para ser, é porque seria uma merda.

Marjorie: Então, beleza. Você me convenceu. Mas elas pagam a conta.

Adalberto: Perfeito!

E viva Neil Armstrong! O nosso eterno Mimi!

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