domingo, 25 de novembro de 2012

Viva a confusão de datas!

Na sexta-feira passada, atendendo ao pedido das minhas primas, tirei folga do trabalho. Achei que elas quisessem fazer alguma coisa comigo, sei lá. Levantei da cama às duas da tarde e ninguém, até então, havia me ligado. Passou-se uma hora, duas... Nada. Às seis, eu resolvi ligar para alguém, porque eu não sou palhaço.

Marjorie: Oi, priminho.

Adalberto: Oi, priminho é o cacete, né?

Marjorie: O que é isso, Adal?

Adalberto: Marjorie, você, a Ane, a Lu e a Sara pediram para eu tirar folga hoje e, até agora, nenhuma de vocês me ligou ou veio aqui em casa para me chamar para fazer alguma coisa...

Marjorie: Ué, mas a gente tinha que ir aí ou chamar você para fazer alguma coisa?

Adalberto: Ah, então, vocês queriam que eu tirasse folga para eu ficar descansando em casa?

Marjorie: É.

Adalberto: Eu cheio de coisa para fazer no trabalho...

Marjorie: Mas você descansou. Não foi bom?

Adalberto: Não. Fiquei na expectativa de fazer alguma coisa com vocês. Isso prendeu o meu dia.

Marjorie: Quer sair para tomar um sorvete?

Que ódio. Eu não tirei folga para tomar sorvete.

Marjorie: Vamos, primo?

Adalberto: Está bem. Vou só colocar uma roupa. Te pego aí?

Marjorie: Não! Quer dizer, nao. Eu passo aí.

Adalberto: Beleza. Te espero. Mas não demora. Eu já fiquei um dia inteiro sem fazer nada. Não aguento mais ficar dentro de casa.

Marjorie: Já vou sair. Até loguinho.

Quase duas horas depois, ela chegou. Fomos tomar sorvete e esse, de longe, foi o programa mais sem emoção que eu fiz com a Marjorie em toda a minha vida. Ela é designer de bolsas, é convidada para festas incríveis de grandes estilistas e sempre me leva de tiracolo. Foi, no mínimo, diferente sair com a Jojô para escolher sorvete de massa e calda de acompanhamento. Nada a ver com o que eu esperava para o meu dia.

Marjorie: Está gostando primo?

Óbvio que não.

Adalberto: Estou adorando. Obrigado pelo convite.

O telefone da Marjorie não parou de tocar durante todo o nosso programa furado na sorveteria, mas ela não atendia. Cancelava a ligação, blasé, e voltava a conversar comigo, como se nada tivesse acontecido. Isso me dava uma certa aflição. Cheguei à conclusão de que ela já deve ter feito isso comigo nas vezes que não quis me atender. Fiquei com raiva.

De repente, o celular tocou de novo - e essa já devia ser a milésima vez que isso acontecia - e ela atendeu. Que alívio.

Marjorie: Está bem... Ok... Beleza... Tchau.

Adalberto: Quem era?

Marjorie: Como assim, quem era?

Adalberto: Era a pessoa que estava te ligando desde a hora que chegamos aqui?

Marjorie: Por que você quer saber, primo?

Adalberto: Para saber se eu insisto, quando eu quiser falar com você, ou se não vale a pena.

Marjorie: Fica tranquilo. Sempre que você me ligar, eu vou te atender. Você é minha prioridade.

Sei...

Adalberto: Bom saber disso.

Marjorie: Vamos lá em casa comigo? Quero te mostrar umas coisas que eu comprei na minha última viagem.

Ela devia ter sugerido isso antes. Muito mais interessante ver as coisas que ela comprou na última viagem que ela fez, do que ficar batendo papo numa sorveteria. Eu já estava com frio e isso me deixou um pouco irritado.

Adalberto: Vamos, agora, então?

Marjorie: Vamos.

Quando chegamos em frente ao prédio da Marjorie, vi que todas as luzes do apartamento dela estavam apagadas e isso me deixou intrigado.

Adalberto: Jojô, você apagou todas as luzes, quando saiu de casa?

Marjorie: Apaguei.

Adalberto: Mas você gosta de deixar sempre a luz do corredorzinho acesa.

Marjorie: Não gosto mais. Parei de gostar. Agora, eu gosto de deixar a casa um breu.

Adalberto: Falar dessa maneira comigo também não combinava com ela. Mas tudo bem... Ela não devia estar naqueles dias.

Subimos num silêncio gutural. Isso nunca aconteceu. Por mais desconfortável que seja conversar no elevador, eu e as minhas primas conseguimos travar diálogos interessantíssimos dentro daquele espaço confinado, cheio de espelho, com pressão no ouvido e, dependendo da ocasião, cheio de gente.

A Marjorie abriu a porta do apartameto e pediu para que eu entrasse primeiro. MEDO!

Fui surpreendido por minhas outras primas cantando parabéns para mim. Tinha bolo, bola, docinho, refrigerante... Só que não era o meu aniversário.

As primas: Discurso, discurso, discurso...

Adalberto: Meninas, eu queria...

As primas: Eeeeeeeeehhhhhhh!

Adalberto: Agradecer por...

As primas: Eeeeeeeeeeeeeehhhhhh!

Adalberto: Essa festas, mas...

As primas: Eeeeeeeeeeeeeeeehhhhhhhhhhhhh!

Adalberto: Hoje não é o meu aniversário.

As primas: Hã?

As caras de decepção foram as melhores que eu já tinha visto em toda a minha vida. Senti vontade de rir.

Adalberto: O meu aniversário é no dia 27. Hoje é dia 24, dia do aniversário do tio Gabriel.

Ane: Putz, fui eu que confundi.

Sara: E eu nem me liguei no dia. Eu sei que é dia 27, mas eu achei que hoje era o dia 27. O tempo está passando tão rápido hoje em dia, né? Não era assim antigamente, não.

Lu: É mesmo. Esse ano voou. E eu não fiz nada. Continuo encalhada.

Marjorie: Gente, eu também não me liguei no dia. A Ane falou que era hoje e eu aceitei. Primo, entendeu, agora, por que não ligamos para você mais cedo? A gente ficou o dia inteiro organizando essa festinha.

O dia inteiro só para um bolo, umas bolas, uns docinhos e alguns refrigerantes. Poxa...

Marjorie: Entendeu por que eu não atendia as ligações? A gente combinou que, a cada ligação que elas me fizessem, eu deveria enrolar mais cinco minutos com você.

Adalberto: E por que você atendeu aquela última ligação? Como é que você sabia que era para atender?

Marjorie: Porque eu cancelei a ligação e elas ligaram de volta. Percebeu que, quando eu cancelava as ligações, ninguém me retornava imediatamente? Quando isso acotecesse, era porque eu devia atender.

Caramba...

Adalberto: Pena que vocês erraram a data. Essa ia ser a primeira vez que vocês iam conseguir fazer uma festa surpresa para mim.

Das outras vezes, eu sempre descobri a armação. Nessas outras vezes, não teve esse esquema de ligar-cancelar-quinze minutos ou ligar-cancelar-ligar de novo-está na hora...

Sara: E agora? A gente guarda para o dia 27?

Ane: Será que não vai estragar? O bolo tem que ficar na geladeira, né?

Lu: Ai, gente vamos comer isso tudo hoje. No dia 27, a gente faz outra brincadeira.

Marjorie: Concordo. Mãos à massa!

Adalberto: Gente, vamos fazer o seguinte, então. Já que a festa é minha, eu decido o que fazer. Vamos levar tudo isso para a casa do tio Gabriel e surpreendê-lo com uma festa de aniversário. Garanto que ele vai adorar. Ele deve estar em casa, deprimido, sozinho. Duvido que alguém tenha lembrado dele.

Marjorie: Ótima ideia primo. Partiu casa do tio Gabriel, então.

Lu: Demorou!

Sara: Só vou ligar para o Oswaldo saber que ele tem que me buscar lá no tio Gabriel. Se ele vier aqui e não me encontar, vai ter um filho.

Ane: Ah, chega. Vocês já têm três. Mais um, não!

Chegamos à casa do tio Gabriel, crente que estávamos abafando, mas do lado de fora ouvimos um som altíssimo. A música estava bombando e tinha uma galera animadíssima. Inclusive, meus pais, minha irmã, meu cunhado e o meu sobrinho, o Diego. Quem foi que falou que o tio Gabriel devia estar em casa, deprimido, sozinho?

Neide: Meu filho, vocês demoraram tanto. O que houve?

Adalberto: Ah, mãe, a gente demorou, porque resolvemos trazer essas coisas.

Neide: Levaram esse tempo todo para chegar aqui, por causa de um bolo, umas bolas, uns docinhos e uns refrigerantes? Poxa...

Ane: Demoramos porque fomos nós que fizemos tudo. Não foi nada comprado pronto.

A Ane apelou.

Neide: Quer enganar quem, Ane? A mim vocês não enganam, não.

Coitadas das minhas primas. Elas já tinham se enganado o suficiente, achando que era o meu aniversário. O melhor que elas poderiam fazer era ficar caladas. Mas isso não aconteceu, claro. E, depois de muitas cervejas, elas mesmas contaram para todo mundo sobre a comédia de erros que foi aquela sexta-feira.

Gabriel: No fim das contas, eu saí ganhando. Tomara que todo ano vocês façam essa confusão de datas.

Acho que, no fundo, no fundo, todo mundo saiu ganhando. O dia que tinha começado mocho terminou da melhor maneira possível. Graças as minhas primas.

E viva a confusão de datas!

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