Marjorie: Esse trânsito está surreal, né?
Adalberto: O pior é saber que eu moro em frente ao local do show, podia ir andando e chegar em cinco minutos.
Lu: A gente devia ter dormido no teu apartamento ontem. Fomos burros.
Marjorie: Verdade. A gente ficou com preguiça e, agora, está pagando por isso.
Adalberto: Eu estava muito cansado. E você queria que eu dirigisse. Não ia rolar.
Lu: Aquela festa só serviu para deixar a gente cansada. Mal tinha comida.
Marjorie: Tinha, sim.
Adalberto: Eu não comi nada.
Lu: Nem eu. Não gosto daquilo.
Marjorie: Como assim, daquilo? Tinha tanta coisa...
Adalberto: Tinha?
Marjorie: Tinha.
Lu: Então, querida, você deve ter ido a outra festa. Onde eu fui, não tinha uma bolinha de queijo para contar a História.
Adalberto: É. Foi nesse lugar que eu fui também.
Marjorie: Não tinha bolinha de queijo, mas tinha carpaccio de carne, carpaccio de salmão, carpaccio de bacalhau, caviar de esturjão, caviar d´escargot, pasta de foie gras...
Adalberto: Para, senão, eu vou vomitar.
Marjorie: Ah, para de frescura. Você não sabe o que é comida de verdade.
Lu: Comida de verdade é arroz, feijão, bife e batata frita.
Adalberto: Concordo.
Marjorie: Ah, vocês são tão basicões. Eu adorei o cardápio da festa.
Lu: Eu, não. Comida chique não é comida.
Adalberto: Não tem gosto, não tem cara boa e não satisfaz.
Marjorie: Não enche.
Lu: Realmente. Aquela comida não enche.
Marjorie: Não enche é para vocês, suas malas sem alça!
Adalberto: Jojô, olha para frente!
Era tarde. Ela atropelou um homem, que atravessava no sinal verde.
Marjorie e Lu: Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!
Para a nossa sorte, uma ambulância passou na hora do acidente. Por um momento, achei que já era o resgate do homem que a Marjorie atropelou. Por um momento, também achei que eu estava num país do Primeiro Mundo, tamanha a rapidez do atendimento, que nem sequer chegou a ser solicitado. Por um momento, finalmente, tive muito orgulho de ser brasileiro.
Até que a ambulância parou e, quando fui levar o cara atropelado para dentro dela, deparei-me com a Ane e a Sara. E, assim, todos os meus momentos anteriores foram por água abaixo.
Adalberto: Como assim, vocês aqui?
Sara: Primo!
Ane: Claudinelson!
Ok que o mundo é um ovo. Mas daí a gente encontrar com a Ane dentro de uma ambulância e ela conhecer o cara que a Marjorie tinha acabado de atropelar era demais, né?
Ane: Eu vou arrebentar você!
Ela levantou da maca, toda troncha e começou a bater no pobre coitado. Eu, que o segurava no meu colo, tomei alguns socos por tabela.
Marjorie: Para, sua maluca! Eu acabei de atropelar essa cara. Ele está todo ferrado.
Ane: Você é uma incompetente! Tinha que ter matado essa desgraçado!
Lu: Você conhece ele de onde, garota?
Ane: Esse safado é do Rio Grande do Sul, mas que mora em São Paulo e que eu conheci aqui no Rio, quando eu voltei daquela viagem que eu fiz para a Bahia para visitar um meu amigo do Pará, que, atualmente, mora no Mato Grosso do Sul.
Adalberto: Calma! Fala devagar! Você passou por todas as regiões do Brasil sem respirar.
Ane: Esse homem me abandonou! E eu estava completamente apaixonada.
Claudinelson: Lá vem você de novo, com essa Síndrome de Scarlet O´Hara. O tempo passa e você não muda! Para de drama! Não começa.
Deu para ver que ele conhecia bem a Ane.
Ane: Para de me chamar de dramática!
Adalberto: Gente, depois vocês discutem relação. Ane, o que foi que aconteceu com você? Por que você está aqui nessa ambulância? Diz, para mim, que isso é uma pegadinha.
Ane: Isso não é uma pegadinha. Eu virei o carro numa curva.
Ane: Esse homem me abandonou! E eu estava completamente apaixonada.
Claudinelson: Lá vem você de novo, com essa Síndrome de Scarlet O´Hara. O tempo passa e você não muda! Para de drama! Não começa.
Deu para ver que ele conhecia bem a Ane.
Ane: Para de me chamar de dramática!
Adalberto: Gente, depois vocês discutem relação. Ane, o que foi que aconteceu com você? Por que você está aqui nessa ambulância? Diz, para mim, que isso é uma pegadinha.
Ane: Isso não é uma pegadinha. Eu virei o carro numa curva.
Sara: Ela é doida. Nunca mais entro num carro com ela no volante. Ainda bem que eu não levei nem um arranhão. Graças a Deus.
Motorista da ambulância: Gente, eu preciso sair. Só um de vocês pode acompanhar os acidentados.
Adalberto: Deixa que eu vou com eles, Sarita. Vou ficar aqui para evitar novas agressões. Vai você e a Lu com a Marjorie para o show da Madonna. Se der, eu passo lá depois, quem sabe, a tempo de ouvir "Like a virgin". "Like a virgin" está no repertório desse show?
Marjorie: Não sei. Acho que não. Mas isso não é hora, né, Adal?
Ane: Ah, eu também adoro "Like a virgin". Eu me identifico demais com essa música.
Lu: Depois, quando eu estiver só com você, eu falo com o que você se identifica demais.
Marjorie: Vamos, Lu, senão a gente vai chegar atrasada. O trânsito não está nada bom.
Lu: Vamos, sim. Tchau, Adal.
Sara: Beijo, primo.
No caminho para o hospital, o clima tenso entre Ane e Claudinelson já não mais existia.
Ane: Por que você não me procurou?
Claudinelson: Porque você mora aqui e eu lá. Foi a maneira que eu encontrei para não sofrer.
As desculpas masculinas são as melhores!
Ane: Eu sofri tanto.
Claudinelson: O importante é que a gente teve essa oportunidade para ficar juntos de novo. Vamos fazer com que esse momento seja eterno enquanto durar.
Ane: Mas eu não quero ficar com você só nesse momento, né, Claudinelson! Eu queria que ele durasse, pelo menos, mais um pouco. E que desse para você ir lá em casa e, quem sabe, a gente até fizesse um...
Adalberto: Gente, eu estou aqui.
Ane: Desculpa, primo. Então, Clau? O que você acha de, depois, a gente ir lá em casa?
Claudinelson: Pô, ia ser Xuxa.
Xuxa? Como assim, Xuxa?
Ane: Ia, não. Vai ser Xuxa.
Adalberto: Gente, desculpa perguntar, se for algum código obsceno vocês não precisam responder, mas o que vem a ser Xuxa?
Ane: Xuxa é tudo o que é legal, primo. É um vocabulário nosso.
Adalberto: Legal.
Claudinelson: É que, quando a gente se conheceu, foi numa boa boate, o som estava alto e ela não entendia quando eu falava "sussa", pensava que era Xuxa.
Adalberto: E o que vem a ser sussa?
Claudinelson: Sussa de sossegado, tranquilão, maneiro, legal, beleza, sei qual é, entendi, está certo, está safo...
Ou seja, sussa tem mais acepções do que a minha paciência pôde aguentar.
Claudinelson: ... Bacana, incrível, gostei...
Adalberto: Está bom, querido. Já entendi.
Claudinelson: Então, está Xuxa.
Adalberto: Super! Super Xuxa.
Ane: Sabe que eu acabei comendo aquela parte do meio do abacaxi...
Claudinelson: Mentira? Xuxa!
Ai, que saco esse negócio de Xuxa, hein! Cansa...
Claudinelson: Viu que não tinha nada a ver com negócio de coceira?
Ane: Quem me falou isso foi a mãe dele.
Adalberto: A minha?
Ane: É. A tia Neide sempre dizia que não era para comer aquela bolinha do meio do abacaxi, porque dava coceira.
Adalberto: Ela nunca me disse isso.
Por que será que a minha mãe nunca me disse isso? Será que ela não se preocupa comigo?
Adalberto: Ela falou alguma coisa sobre comer aqueles fiapinhos do mamão? Eu como. Será que faz mal?
Ane: Não sei, Adal. Mas eu bem que queria que o meiuca do abacaxi me desse coceira, só para mandar o Claudinelson vir me coçar. Você tinha me prometido, lembra?
Claudinelson: Claro. E eu ia voltar só para coçar você.
Ane: Só para coçar?
Claudinelson: E fazer aquelas outras coisas, que você sabe.
Ane: Você foi o cara que eu mais gostei, sabia? Carinhoso. Mas selvagem quando tinha que ser.
Só um burro para não saber quando ele devia ser selvagem com ela.
Claudinelson: Quando eu era selvagem com você?
Ah, não!
Ane: Eu não vou falar aqui, na frente do meu primo, né?
Adalberto: Obrigado pela parte que me toca.
Claudinelson: Ah, fala. Qualquer coisa, depois, você apaga.
A Ane sorriu maliciosamente e eu fiquei sem entender lhufas.
Ane: Ah, seu safado!
Adalberto: O que foi?
Ane: Nada, primo. Quando ele fala que é para apagar, também é coisa do nosso próprio vocabulário.
Adalberto: E o que significa?
Ane: Nada, primo. Depois te conto.
Claudinelson: Coisas do Dicionário Claudilane...
Ane: Eu nem cheguei a fazer a tatuagem.
Claudinelson: Não? Mentiu para mim?
Ane: Eu esperei você me procurar. Queria ter certeza que você era meu. Ainda bem que eu não fiz. Imagina eu andar com uma tatuagem no meu pé, escrito "Claudinelson - Amor verdadeiro, amor eterno" e não ter você...
Adalberto: Ane, você ainda não desistiu da ideia de fazer uma tatuagem igual a que a Deborah Secco fez na época em que ela namorou o Falcão, do Rappa?
Ane: O Claudinelson merecia.
Claudinelson: Merecia?
Ane: Merece.
Claudinelson: Então, você vai fazer?
Finalmente, depois de ouvir muita baboseira, chegamos ao hospital.
Ane: Depende de você.
Adalberto: Ah, mas não vai mesmo! Agora, isso depende de mim. Se até a Deborah Secco conseguiu aprender que não se tatua nome de homem no corpo, você também vai aprender. E vai aprender na marra.
E puxei-a pelo braço.
Adalberto: Vamos!
Motorista da ambulância: Senhor, a entrada do hospital é ali.
Adalberto: Eu sei, meu amigo, mas é para a saída mesmo, que a gente está indo. O problema dela é falta de vergonha na cara. E, para isso, eu sei qual é o remédio.
Claudinelson: E eu? Quem vai ficar aqui comigo?
Adalberto: Se vira, otário!
Levei a Ane em casa, falei poucas e boas. Disse tudo que estava entalado. Nem a Deborah Secco foi poupada.
Ane: Você nunca mais vai falar comigo?
Adalberto: Vou. Claro que vou. Mas agora vamos beber, porque eu também quero perder a vergonha na cara. Agora, você, aprenda uma coisa...
E passei a maior lição de vida, que alguém já pôde ensiná-la.
Adalberto: Uma mulher não deve perder a vergonha na cara por causa de homem nenhum. Mas por causa da bebida, sim.
Ane: Então, vamos entornar o pote, primo!
Bebemos todas e mais três no primeiro bar que paramos. E jamais soubemos se a Madonna cantou ou deixou de cantar "Like a virgin". Foi Xuxa! Quer dizer, foi muito legal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário