quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ane perde a vergonha na cara, mas, no fim, tudo acaba Xuxa

A programação do último domingo era ir ao show da Madonna, no Parque dos Atletas. A problemática: as primas também iam. Eu e a Lu, que tínhamos dormido na casa da Marjorie, no Leblon, fomos de carona com ela. A Ane pegou a Sara em casa, no Méier, e foi por outro caminho.

Marjorie: Esse trânsito está surreal, né?

Adalberto: O pior é saber que eu moro em frente ao local do show, podia ir andando e chegar em cinco minutos.

Lu: A gente devia ter dormido no teu apartamento ontem. Fomos burros.

Marjorie: Verdade. A gente ficou com preguiça e, agora, está pagando por isso.

Adalberto: Eu estava muito cansado. E você queria que eu dirigisse. Não ia rolar. 

Lu: Aquela festa só serviu para deixar a gente cansada. Mal tinha comida.

Marjorie: Tinha, sim.

Adalberto: Eu não comi nada.

Lu: Nem eu. Não gosto daquilo.

Marjorie: Como assim, daquilo? Tinha tanta coisa...

Adalberto: Tinha?

Marjorie: Tinha.

Lu: Então, querida, você deve ter ido a outra festa. Onde eu fui, não tinha uma bolinha de queijo para contar a História.

Adalberto: É. Foi nesse lugar que eu fui também.

Marjorie: Não tinha bolinha de queijo, mas tinha carpaccio de carne, carpaccio de salmão, carpaccio de bacalhau, caviar de esturjão, caviar d´escargot, pasta de foie gras...

Adalberto: Para, senão, eu vou vomitar.

Marjorie: Ah, para de frescura. Você não sabe o que é comida de verdade.

Lu: Comida de verdade é arroz, feijão, bife e batata frita.

Adalberto: Concordo.

Marjorie: Ah, vocês são tão basicões. Eu adorei o cardápio da festa.

Lu: Eu, não. Comida chique não é comida. 

Adalberto: Não tem gosto, não tem cara boa e não satisfaz.

Marjorie: Não enche.

Lu: Realmente. Aquela comida não enche. 

Marjorie: Não enche é para vocês, suas malas sem alça!

Adalberto: Jojô, olha para frente!

Era tarde. Ela atropelou um homem, que atravessava no sinal verde.

Marjorie e Lu: Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!

Para a nossa sorte, uma ambulância passou na hora do acidente. Por um momento, achei que já era o resgate do homem que a Marjorie atropelou. Por um momento, também achei que eu estava num país do Primeiro Mundo, tamanha a rapidez do atendimento, que nem sequer chegou a ser solicitado. Por um momento, finalmente, tive muito orgulho de ser brasileiro. 

Até que a ambulância parou e, quando fui levar o cara atropelado para dentro dela, deparei-me com a Ane e a Sara. E, assim, todos os meus momentos anteriores foram por água abaixo.

Adalberto: Como assim, vocês aqui?

Sara: Primo!

Ane: Claudinelson!

Ok que o mundo é um ovo. Mas daí a gente encontrar com a Ane dentro de uma ambulância e ela conhecer o cara que a Marjorie tinha acabado de atropelar era demais, né?

Ane: Eu vou arrebentar você!

Ela levantou da maca, toda troncha e começou a bater no pobre coitado. Eu, que o segurava no meu colo, tomei alguns socos por tabela.

Marjorie: Para, sua maluca! Eu acabei de atropelar essa cara. Ele está todo ferrado.

Ane: Você é uma incompetente! Tinha que ter matado essa desgraçado!

Lu: Você conhece ele de onde, garota?

Ane: Esse safado é do Rio Grande do Sul, mas que mora em São Paulo e que eu conheci aqui no Rio, quando eu voltei daquela viagem que eu fiz para a Bahia para visitar um meu amigo do Pará, que, atualmente, mora no Mato Grosso do Sul.

Adalberto: Calma! Fala devagar! Você passou por todas as regiões do Brasil sem respirar.

Ane: Esse homem me abandonou! E eu estava completamente apaixonada.

Claudinelson: Lá vem você de novo, com essa Síndrome de Scarlet O´Hara. O tempo passa e você não muda! Para de drama! Não começa.

Deu para ver que ele conhecia bem a Ane.

Ane: Para de me chamar de dramática!

Adalberto: Gente, depois vocês discutem relação. Ane, o que foi que aconteceu com você? Por que você está aqui nessa ambulância? Diz, para mim, que isso é uma pegadinha.

Ane: Isso não é uma pegadinha. Eu virei o carro numa curva. 

Sara: Ela é doida. Nunca mais entro num carro com ela no volante. Ainda bem que eu não levei nem um arranhão. Graças a Deus.

Motorista da ambulância: Gente, eu preciso sair. Só um de vocês pode acompanhar os acidentados. 

Adalberto: Deixa que eu vou com eles, Sarita. Vou ficar aqui para evitar novas agressões. Vai você e a Lu  com a Marjorie para o show da Madonna. Se der, eu passo lá depois, quem sabe, a tempo de ouvir "Like a virgin". "Like a virgin" está no repertório desse show?

Marjorie: Não sei. Acho que não. Mas isso não é hora, né, Adal

Ane: Ah, eu também adoro "Like a virgin". Eu me identifico demais com essa música.

Lu: Depois, quando eu estiver só com você, eu falo com o que você se identifica demais.

Marjorie: Vamos, Lu, senão a gente vai chegar atrasada. O trânsito não está nada bom. 

Lu: Vamos, sim. Tchau, Adal.

Sara: Beijo, primo.

No caminho para o hospital, o clima tenso entre Ane e Claudinelson já não mais existia.

Ane: Por que você não me procurou?

Claudinelson: Porque você mora aqui e eu lá. Foi a maneira que eu encontrei para não sofrer.

As desculpas masculinas são as melhores!

Ane: Eu sofri tanto.

Claudinelson: O importante é que a gente teve essa oportunidade para ficar juntos de novo. Vamos fazer com que esse momento seja eterno enquanto durar.

Ane: Mas eu não quero ficar com você só nesse momento, né, Claudinelson! Eu queria que ele durasse, pelo menos, mais um pouco. E que desse para você ir lá em casa e, quem sabe, a gente até fizesse um...

Adalberto: Gente, eu estou aqui.

Ane: Desculpa, primo. Então, Clau? O que você acha de, depois, a gente ir lá em casa?

Claudinelson: Pô, ia ser Xuxa.

Xuxa? Como assim, Xuxa?

Ane: Ia, não. Vai ser Xuxa.

Adalberto: Gente, desculpa perguntar, se for algum código obsceno vocês não precisam responder, mas o que vem a ser Xuxa?

Ane: Xuxa é tudo o que é legal, primo. É um vocabulário nosso.

Adalberto: Legal. 

Claudinelson: É que, quando a gente se conheceu, foi numa boa boate, o som estava alto e ela não entendia quando eu falava "sussa", pensava que era Xuxa.

Adalberto: E o que vem a ser sussa?

Claudinelson: Sussa de sossegado, tranquilão, maneiro, legal, beleza, sei qual é, entendi, está certo, está safo...

Ou seja, sussa tem mais acepções do que a minha paciência pôde aguentar.

Claudinelson: ... Bacana, incrível, gostei...

Adalberto: Está bom, querido. Já entendi.

Claudinelson: Então, está Xuxa.

Adalberto: Super! Super Xuxa.

Ane: Sabe que eu acabei comendo aquela parte do meio do abacaxi...

Claudinelson: Mentira? Xuxa!

Ai, que saco esse negócio de Xuxa, hein! Cansa...

Claudinelson: Viu que não tinha nada a ver com negócio de coceira?

Ane: Quem me falou isso foi a mãe dele.

Adalberto: A minha?

Ane: É. A tia Neide sempre dizia que não era para comer aquela bolinha do meio do abacaxi, porque dava coceira. 

Adalberto: Ela nunca me disse isso.

Por que será que a minha mãe nunca me disse isso? Será que ela não se preocupa comigo?

Adalberto: Ela falou alguma coisa sobre comer aqueles fiapinhos do mamão? Eu como. Será que faz mal?

Ane: Não sei, Adal. Mas eu bem que queria que o meiuca do abacaxi me desse coceira, só para mandar o Claudinelson vir me coçar. Você tinha me prometido, lembra?

Claudinelson: Claro. E eu ia voltar só para coçar você.

Ane: Só para coçar?

Claudinelson: E fazer aquelas outras coisas, que você sabe.

Ane: Você foi o cara que eu mais gostei, sabia? Carinhoso. Mas selvagem quando tinha que ser. 

Só um burro para não saber quando ele devia ser selvagem com ela.

Claudinelson: Quando eu era selvagem com você?

Ah, não!

Ane: Eu não vou falar aqui, na frente do meu primo, né?

Adalberto: Obrigado pela parte que me toca.

Claudinelson: Ah, fala. Qualquer coisa, depois, você apaga.

A Ane sorriu maliciosamente e eu fiquei sem entender lhufas.

Ane: Ah, seu safado!

Adalberto: O que foi?

Ane: Nada, primo. Quando ele fala que é para apagar, também é coisa do nosso próprio vocabulário. 

Adalberto: E o que significa?

Ane: Nada, primo. Depois te conto.

Claudinelson: Coisas do Dicionário Claudilane...

Ane: Eu nem cheguei a fazer a tatuagem.

Claudinelson: Não? Mentiu para mim?

Ane: Eu esperei você me procurar. Queria ter certeza que você era meu. Ainda bem que eu não fiz. Imagina eu andar com uma tatuagem no meu pé, escrito "Claudinelson - Amor verdadeiro, amor eterno" e não ter você...

Adalberto: Ane, você ainda não desistiu da ideia de fazer uma tatuagem igual a que a Deborah Secco fez na época em que ela namorou o Falcão, do Rappa?

Ane: O Claudinelson merecia.

Claudinelson: Merecia?

Ane: Merece.

Claudinelson: Então, você vai fazer?

Finalmente, depois de ouvir muita baboseira, chegamos ao hospital.

Ane: Depende de você.

Adalberto: Ah, mas não vai mesmo! Agora, isso depende de mim. Se até a Deborah Secco conseguiu aprender que não se tatua nome de homem no corpo, você também vai aprender. E vai aprender na marra.

E puxei-a pelo braço.

Adalberto: Vamos!

Motorista da ambulância: Senhor, a entrada do hospital é ali. 

Adalberto: Eu sei, meu amigo, mas é para a saída mesmo, que a gente está indo. O problema dela é falta de vergonha na cara. E, para isso, eu sei qual é o remédio.

Claudinelson: E eu? Quem vai ficar aqui comigo?

Adalberto: Se vira, otário!

Levei a Ane em casa, falei poucas e boas. Disse tudo que estava entalado. Nem a Deborah Secco foi poupada.

Ane: Você nunca mais vai falar comigo?

Adalberto: Vou. Claro que vou. Mas agora vamos beber, porque eu também quero perder a vergonha na cara. Agora, você, aprenda uma coisa...

E passei a maior lição de vida, que alguém já pôde ensiná-la.

Adalberto: Uma mulher não deve perder a vergonha na cara por causa de homem nenhum. Mas por causa da bebida, sim.

Ane: Então, vamos entornar o pote, primo!

Bebemos todas e mais três no primeiro bar que paramos. E jamais soubemos se a Madonna cantou ou deixou de cantar "Like a virgin". Foi Xuxa! Quer dizer, foi muito legal.

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