Se fosse pela preguiça, eu ficava em casa deitado o resto do dia, mas eu tinha que almoçar e, na minha dispensa só tinham coisas desconexas, como um pote de milho, pó de café, mostarda escura e aveia. É... Não dava para matar a fome com isso.
E quando eu ia dar a primeira garfada no meu PF, a Ane me ligou.
Ane: Primo, você precisar vir aqui, agora, me socorrer.
Adalberto: Ane, eu estou almoçando. Me liga daqui a um minutinho?
Ane: Garoto, eu estou indo presa. E a Marjorie acabou de desmaiar. Levaram ela para um hospital.
Adalberto: O quê? Como assim?
Ane: A gente estava indo passar o fim de semana em Búzios. Mas, aqui na altura de Itaboraí, uma moto com duas meninas e dois bebês foi ultrapassar um carro na contramão e bateu no meu. Detalhe: as meninas são menores de idade, estavam sem capacete e a moto é roubada.
Adalberto: Alguém morreu?
Ane: Não. Só sofreram pequenos arranhões.
Adalberto: Foi uma batida leve, então?
Ane: Foi. Aqui está meio engarrafado, o carro não estava em alta velocidade, tanto que só arranhou um pouquinho na lateral. As meninas e os bebês estão bem. Só eu e a Marjorie mesmo que nos ferramos nessa. Ela desmaiou de nervosismo e bateu forte com a cabeça no chão. E eu estou indo presa.
Adalberto: Meu Deus! Mas a menina que pilotava a moto estava toda errada e você é quem vai presa?
Ane: Elas são mulheres de bandido e, quando a polícia estava a caminho para fazer o registro de ocorrência, a comunidade inteira sumiu com a moto e as crianças.
Adalberto: E aí?
Ane: Aí, que eu fui obrigada a dizer que atropelei as meninas e estou indo presa.
Adalberto: E você está falando isso na frente dos policiais?
Ane: Não. Eles estão terminando de preencher o registro de ocorrência e eu vim aqui para frente falar com você. Vem para a delegacia de Itaboraí agora e traz a Lu. O bandido, que é marido de uma das meninas que bateu, no meu carro é Jordson, que traiu ela com a Fabriciana, lembra?
Adalberto: Claro. Esse cara não vale nada.
Ane: Só a Lu pode me tirar dessa. Vem para cá com ela, primo, por favor. Tenho que ir. Presa. Beijo.
Isso não me fez, exatamente, perder a fome. Mas deixei o meu prato intacto para tirar uma prima de uma encrenca.
A Lu estava saindo do salão onde trabalha, quando eu cheguei para buscá-la.
Lu: Que coisa mais chique! Meu chofer veio me buscar.
Coitada. Mal sabia o que a esperava.
Lu: A que devo a honra dessa surpresa?
Adalberto: A problemas com um bandido chamado Jordson, lembra?
Lu: Aquele cretino! O que aconteceu?
Adalberto: Entra no carro, que eu te conto no caminho.
Enquanto isso a Marjorie acordava no hospital,sem saber onde estava. E ninguém soube explicar como ela havia chegado ali. Aos poucos, ela foi recordando o acidente, perguntou para as pessoas pela Ane, mas ninguém sabia responder. Saiu do hospital sem rumo.
A delegacia estava cheia. O Jordson tinha ido acompanhar a mulher. A Ane já estava sozinha e com medo. Já havia passado duas horas, que o acidente tinha acontecido e nada de chamarem eles para prestar depoimento.
Enquanto isso, eu chegava em Itaboraí causando. Tentei ultrapassar um sinal vermelho, quando uma pessoa atravessa a rua.
Lu: Não faz isso! Está maluco! Aquela doida, ali, vai atravessar a rua.
Dei um freio, que chamou a atenção de toda a cidade.
Adalberto: Foi mal. É a pressa.
Lu: A gente não pode atropelar ninguém nesse lugar. Sem atropelar, eles já dizem que a gente atropelou...
Adalberto: Ué, a doida que eu ia atropelar é a Marjorie. Jojô!
Marjorie: ai, não acredito! O que vocês estão fazendo aqui?
Adalberto: Entra no carro. A gente está com pressa.
Chegamos à delegacia na hora que a Ane foi chamada para prestar depoimento. A Lu parecia que tinha saído de um filme.
Lu: Senhores, eu tenho confissão a fazer.
E ninguém olhou para ela. Afinal, aquilo não era um filme. Era a realidade dura de uma delegacia de Itaboraí.
Lu: Jordson, seu canalha, você vai contar a verdade no seu depoimento.
Jordson: Cala a boca!
Lu: Não calo, não. A tua mulher faz a cagada e a minha prima que assume? Nã, na, ni, nã, nã! Você me traiu com a Fabriciana e eu já não te perdoava por isso. Agora, quer sacanear a vida da minha prima? De jeito nenhum, seu calhorda!
Jordson: Fica quieta para você não se dar mal também.
Lu: Eu me dar mal? Quer que eu conte para a Polícia, que você é o Totonho Valeta? Braço direito de bandido, quer? Aí, você já fica logo por aqui também. De vez.
Jordson: Fica quieta para você não se dar mal também.
Lu: Eu me dar mal? Quer que eu conte para a Polícia, que você é o Totonho Valeta? Braço direito de bandido, quer? Aí, você já fica logo por aqui também. De vez.
Jordson: Sai daqui, senão, eu te mato.
Lu: Então, mata! Mata, se tu é homem!
Nunca desafiem um bandido. O cara sacou uma arma da cintura e deu um tiro na direção da Lu. Mas a arma não estava carregada. Para a nossa sorte.
Mas a histeria foi grande. Um corre-corre, quando o Jordson tirou a arma da cintura... Todos os esforços se voltaram para pegar esse bandido, que correu como um louco, quando viu que a arma não estava carregada. Uma confusão só.
Eu fui com as minhas primas para fora.
Adalberto: Vamos embora desse lugar. Você tem condições de dirigir?
Ane: Garoto, eu tenho que prestar depoimento. A minha identidade está lá com eles.
Adalberto: Naquela confusão, eu consegui pegar os seus documentos.
Ane: E o documento do carro?
Adalberto: Está aqui também.
Ane: Mas, no registro de ocorrência, tem as minhas informações. Eles vão ter como me achar.
Adalberto: Eu também peguei o registro de ocorrência. Esse atropelamento não existiu. Vamos!
Lu: Arrasou!
Em terra de ninguém é assim. Qualquer brecha pode ser uma oportunidade.
Lu: Arrasou!
Em terra de ninguém é assim. Qualquer brecha pode ser uma oportunidade.
Ane: Primo, eu te amo!
Adalberto: Ama nada. Nem me chamou para ir com você para Búzios. Aliás, você e dona Marjorie. Estão na minha lista negra. Mas vamos logo, antes que a gente seja preso por fuga. Estou morrendo de fome. Larguei meu PF intacto para vir salvar vocês.
Ane: Para onde vamos?
Marjorie: Para a casa da Sara. Eu liguei para ela contando tudo. Disse que vai fazer um jantar para a gente.
Adalberto: Partiu, então.
O jantar estava ótimo. Comi até esquecer que estava com fome. E bebi até esquecer que o atropelamentou-que-não-existiu existiu.
Adalberto: Ama nada. Nem me chamou para ir com você para Búzios. Aliás, você e dona Marjorie. Estão na minha lista negra. Mas vamos logo, antes que a gente seja preso por fuga. Estou morrendo de fome. Larguei meu PF intacto para vir salvar vocês.
Ane: Para onde vamos?
Marjorie: Para a casa da Sara. Eu liguei para ela contando tudo. Disse que vai fazer um jantar para a gente.
Adalberto: Partiu, então.
O jantar estava ótimo. Comi até esquecer que estava com fome. E bebi até esquecer que o atropelamentou-que-não-existiu existiu.
Conheço essa história... Emocionanteeeee !!!
ResponderExcluirahahahahahahaha. pois é...
ResponderExcluirTenho uma sensação de já ter ouvido algo parecido. rsrsrsrsr
ResponderExcluirOlá, achei seu blog e amei.
ResponderExcluirbrigado! beijo.
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