sábado, 30 de março de 2013

Boca maldita da Lu entra em jogo e tira time de campo

Na terça-feira, enquanto eu almoçava tranquilamente, a Lu me ligou desesperada.

Lu: Adal, o Engenhão foi interditado e o Alfrenísio terminou comigo.

Adalberto: Que cara louco! Então, a culpa pela interdição do estádio é sua?

Lu: Pior que é.

Senti um frio na espinha daqueles.

Adalberto: Como assim, Lu? O que é que você andou aprontando?

Lu: No domingo, quando ele me deixou em casa mais cedo para ir ver jogo de futebol com os amigos, eu esbravejei com ele. Eu disse que, se ele fosse mesmo me deixar por causa de um grupo de onze homens tocando bola de um lado para o outro, que o Engenhão ia desabar. E, agora, a cobertura do estádio está perigando cair.

Adalberto: Ah, Lu, mas isso não é culpa sua. Foi só uma triste coincidência.

Lu: Triste coincidência? Está bem. Que o seu prédio exploda, se foi mesmo só uma triste coincidência.

Adalberto: Lu, vira essa boca para lá! Essa sua boca é maldita.

Lu: Ah, viu? Adal, eu preciso que você me ajude. 

Adalberto: O que você quer que eu faça, Lu?

Lu: Vai ter uma manifestação em frente à Assembleia Legislativa do Rio. Eu tenho certeza que ele vai estar lá. Vamos comigo?

Adalberto: De jeito nenhum. Eu não vou me embrenhar no meio de uma manifestação para procurar um homem, que está te desprezando.

Lu: É? Então, que o seu prédio exploda!

E um estampido forte veio de fora. Era de uma obra, que está acontecendo no imóvel ao lado. Mas fiquei com medo da boca maldita da Lu.

Adalberto: Eu vou com você. Mas, antes, quero que diga que nada vai acontecer com o meu prédio.

Lu: Está bem. Nada vai acontecer com o seu prédio. Ele nunca irá explodir. A não ser que...

Adalberto: A não ser nada. Tchau.

E bati com o telefone na cara dela.

Fomos os primeiros a chegar ao Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

Lu: Que estranho isso, primo. Manifestante costuma chegar com horas de antecedência. Faltam quinze minutos para começar e nada. Ninguém.

Adalberto: Está estranho mesmo.

Mas eu estava adorando.

Lu: Vou pedir informação ali na banca de jornal.

E o jornaleiro informou que a manifestação seria na próxima terça.

Adalberto: Eu sabia que tinha alguma coisa de errado.

Lu: E agora, Adal?

Adalberto: Espera até terça-feira que vem, ué.

Lu: Óbvio que não. Primo, eu tenho que resolver a minha vida. Não posso esperar uma semana. 

Adalberto: E o que você pretende fazer?

Lu: Amanhã vai ter jogo do Flamengo lá em Volta Redonda e ele vai. E nós também.

Adalberto: Mas o Alfrenísio não é Fluminense?

Lu: É mas essa praga vai em tudo o que é jogo. Ele torce contra, faz análise de jogo, anota os pontos fortes dos times... Um saco!

Adalberto: E é isso que você quer para a sua vida? Imagina você casada com um homem desses. Você quer um marido ou mesa redonda? 

Lu: Adal, ele não vai ser assim para sempre. Eu tenho fé em Deus e, agora, na minha boca.

Boca maldita!

Lu: Então, você vai comigo amanhã?

Adalberto: Eu vou ter que inventar alguma desculpa nova para não ir ao trabalho. Você me ajuda?

Lu: Ajudo. Sou mestre em contar histórias tristes.

E, no dia seguinte, estávamos nós a caminho de Volta Redonda, quando uma amiga da Lu ligou.

Lu: Adal, volta.

Adalberto: Como assim, Lu? A gente está no meio do trajeto.

Lu: Adal, o pai da Edilmara morreu. Eu tenho que ficar com ela.

Adalberto: Sério?

Lu: Sério. Ela nem era tão amiga, assim, do pai. Mas pai é pai, né, primo?

Adalberto: E o Alfrenísio?

Lu: Ele vai voltar. Por galinha de casa não se corre atrás.

Que louca! Por que ela não chegou a essa brilhante conclusão, antes de me fazer sair de casa?

Enfim, voltamos para a casa. A Edilmara foi encontrar com a Lu no meu apartamento. Nem parecia que ela tinha perdido o pai. Estava com um salto altíssimo, um vestido curtíssimo e uma maquiagem fortíssima. Ela era o superlativo em pessoa.

Lu: Amiga, que Deus te abençoe nesse momento. Saiba que, de onde quer que o seu paizinho esteja, ele está olhando por você e que...

Edilmara: Amiga, chega. Já chorei muito no enterro. O meu rímel não é à prova d´água.

Que insensível! Era o pai dela que tinha morrido!

Edilmara: Vamos comigo para o Forró do Tota?

Lu: Hã?

Até a Lu, que é meio sem noção, ficou surpresa com o despojamento da amiga.

Edilmara: Amiga, eu preciso de você nesse momento. O Sergelandro terminou comigo na semana passada. E disse que não tinha mais volta. Com a morte do meu pai, eu tenho certeza que ele vai se sensibilizar e vai voltar para mim.

Lu: Amiga, eu não acho que...

Edilmara: Você é minha amiga incondicionalmente?

Odeio essas chantagens!

Lu: Sou. 

Edilmara: Então, vamos comigo.

Lu: Adal, você vem com a gente?

Adalberto: Não, muito obrigado. Vão com Deus. Ah, Edilmara...

Edilmara: Oi?

Adalberto: Nada não.

Eu ia falar que estava muito sentido pela morte do pai dela. Mas aquele não era o momento para isso.

Edilmara: Não vem mesmo? Vai ser bonzão.

Adalberto: Não, querida. Vou ficar por aqui. Quero dormir cedo.

Edilmara: Está bem. Azar o seu. Beijo.

Que descarada!

Eles ficaram nó forró até tarde da noite. Na verdade, a festa acabou quando o Alfrenísio apareceu por lá, todo feliz pela derrota do Flamengo, com uma menina. Ele voltou para uma ex, que mora em Volta Redonda. A Lu ficou possessa com a Edilmara. Ela precisa atribuir a culpa em alguém. 

Lu: Por causa de você ele voltou para aquela safada!

Edilmara: Por causa de mim? 

Lu: Claro. Você mandou eu voltar.

Edilmara: E você voltou porque quis. Eu te peguei pelo braço?

Lu: Não. Você usou o psicológico, que é bem pior. Fez chantagem!

Edilmara: Ah, garota, sai daqui!

Lu: Saio mesmo. Com você, eu não quero mais nada.

Edilmara: Tchau, recalcada!

Lu: E que o Sergelandro nunca maios queira saber de você.

E, mais uma vez, a bolca maldita da Lu fez efeito. Mas ela muito colaborou para isso. Quando ela saiu do forró, não pensou duas vezes. Ligou para o Sergelandro, marcou de sair e, de quarta-feira para cá, ele virou o amor da vida dela. 

A Edilmara ficou uma arara quando soube. Mas a Lu não está nem aí. Está feliz pelo namorado e, principalmente, pela vingança contra e ex-amiga sem noção. 

O único problema é que o Sergelandro é viciado em vôlei. Hoje, ele saiu da casa da Lu cedo para ir ao Maracanãzinho, torcer por um grupo de seis homens que se matam para acertar uma bola na quadra do adversário, por um time que tem nome de empresa de sabão em pó.

Já estou esperando a boca maldita da Lu entrar em ação...

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