domingo, 21 de abril de 2013

Primo ajuda Lu a adotar um gatinho (#soquenao)

Ontem, eu estava me arrumando para encontrar com uns amigos na praia, quando a Lu me ligou.

Lu: Está podendo falar?

Adalberto: Eu estou me arrumando para ir à praia, mas vai falando.

Lu: Eu estou me sentindo muito sozinha, carente, primo.

Adalberto: Sério? Eu vejo você, a cada semana, saindo com um carinha diferente... Achava que solidão não fosse o seu problema.

Lu: Eu saio com carinha diferente toda semana para, um dia, encontrar a pessoa certa.

Ótima justificativa!

Lu: Primo, eu preciso de um bichinho.

Adalberto: Como assim?

Lu: De um animal, ué. Eu quero alguém que seja só meu.

Adalberto: Alguém? Bicho não é gente, Lu!

Lu: Não é mas é como se fosse. Aliás, tem muito bicho melhor do que gente. E eu quero um para mim.

Adalberto: A cachorrinha de um amigo acabou de dar cria. Ele me ofereceu um filhote. Quer?

Lu: Qual a raça?

Adalberto: Shihtzu.

Lu: Não quero.

Adalberto: Por quê? Não gosta dessa raça?

Lu: Não. Não quero cachorro.

Adalberto: Então, por que perguntou a raça?

Lu: Sei lá.

Adalberto: Lu, vou sair agora. Marquei com uns amigos na praia.

Lu: Primo, eu quero adotar um gato.

Adalberto: Não apoio.

Lu: Por quê?

Adalberto: Você sabe que eu tenho pavor de gatos desde que eu fui atacado por um.

Lu: Mas você era criança.

Adalberto: E daí? Hoje eu sou um adulto, que se caga de medo de gatos.

Lu: Mas vamos comigo num lugar de adoção de gatos?

Adalberto: Existe isso?

Lu: Existe. Uma amiga me deu o endereço.

Adalberto: Lu, eu marquei praia com os meus amigos. Não vai dar para mim.

E para variar, a chantagem emocional da Lu prevaleceu. Quando dei por mim, estava num lugar que tinha uma feira de adoção de gatos, escolhendo o meu futuro sobrinho.

Lu: O que você achou daquele cinza?

Adalberto: Não gostei. Tem o bigode muito grande. Me dá nervoso.

Lu: E aquele marronzinho?

Adalberto: Muito gordo.

Lu: E esse aqui malhado?

Adalberto: Cego de um olho. Vai dar trabalho.

Lu: Adal, eu já te mostrei mas de cem gatos. Todos para você tem um defeito.

Adalberto: E sempre vão ter. Eu não gosto de gato.

Lu: Então, eu vou levar o primeiro que eu gostei.

Adalberto: Faz o que você achar melhor. O bicho vai ser seu, você que vai conviver com ele.

Lu: Então, é isso mesmo. Moça, me vê aquele ali, por favor.

A Lu falou de um jeito, que parecia que ela estava escolhendo uma peça de carne. Só faltou mandar embrulhar.

Moça: Senhora, não é assim. A senhora gostou do gato N1H1-8266T?

O gato da Lu tinha nome de gripe.

Lu: Não sei. Eu não vi o código. É aquele ali.

Moça: É esse mesmo. A senhora pode vir aqui comigo, por favor?

Eu fui atrás. Entramos num lugar, que me remeteu à sala da diretora do colégio de freira, onde eu fiz o meu Ensino Fundamental. Sentei ao lado da Lu e fiquei na minha.

Moça: Todo mundo que adota um gato tem que passar por uma entrevistinha. É para a gente saber se a pessoa tem condição de adotar um animal.

Lu: Beleza.

E depois de passar todos os dados pessoais, incluindo número de RG, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho e passaporte, vieram perguntas mais específicas.

Moça: A senhora tem passagem pela Polícia?

Lu: Não. Assim, eu tive um ex que me bateu e eu dei parte dele na Polícia. Mas nada por coisa que eu tenha feito, sabe?

Moça: Entendi.

Lu: Já roubei balinha das Lojas Americanas, quando eu era criança. Quem nunca, né?

Meu Deus!

Moça: Eu nunca.

Lu: Não? Você não teve infância, então, me desculpa.

Moça: Senhora, eu vou voltar para a entrevista. A senhora mora em andar alto?

Lu: Moro.

Moça: A senhora faz tratamento no cabelo com produto químico?

Lu: Faço. Escova progressiva. Tem formol, né?

Moça: A senhora corta as unhas com tesourinha ou cortador de unha?

Lu: Tesourinha. Odeio cortador de unha!

Moça: A senhora usa salto alto?

Lu: Sempre.

Moça: O salto faz muito barulho, quando bate no piso da casa da senhora?

Lu: Faz. É taco, né?

Moça: A senhora costuma sair e chegar tarde em casa.

Lu: Todo fim de semana.

Moça: A senhora costuma levar terceiros para a sua casa?

Lu: Terceiros sempre vão para o meu quarto.

Jesus!

Adalberto: Não liga, não. Isso é uma piada. Era para rir.

Moça: Eu vou aqui fora e a minha assistente vai voltar para dar um feedback para vocês. Com licença.

E em menos de um minuto, uma menina com cara de fofinha apareceu na sala onde estávamos.

Menina: Com licença.

Lu: Oi. E aí?

Menina: A senhora foi reprovada e não vai estar podendo adotar um animal da família dos felídeos na nossa unidade.

Tudo isso para dizer que a minha prima não podia adotar um gato.

Lu: O quê? Eu vou quebrar tudo aqui dentro, então! Vou levar aquele gato nem que eu saia daqui direto para a cadeia! Eu não fiquei aqui que nem uma palhaça, dando entrevista para aquela rabugenta, para nada!

Menina: Senhora, por favor.

Lu: Por favor, não. Só a Marília Gabriela e o meu analista podem me fazer tanta pergunta. Eu estou com raiva! Quero bater naquela desgraçada!

E quando a Lu levantou, a menina fofinha virou sargento.

Menina: Seguranças! Levem essa louca daqui! Agora!

E fomos colocados para fora do local.

Lu: Eu estou com ódio mortal de você!

Adalberto: Por quê?

Lu: Você não fez nada para me ajudar!

Adalberto: Lu, eu sou um. Você viu o tamanho desses caras.

Lu: Eu estou falando na entrevista. Você podia ter me ajudado a responder.

Realmente podia. Estava na cara que, pelas respostas que ela deu, ela não iria conseguir adotar gato algum naquele lugar. Nem o mais feio, caolha e sem pelos daquela feira. Mas eu fiz de propósito. Não quero gatos na casa das minhas primas!

Adalberto: Vamos para casa?

Lu: Eu não vou com você. Vou de ônibus. Pode ir.

Adalberto: Lu, por favor, para de bobeira.

E não precisei falar mais nada. Furiosa, ela atravessou a rua sem ver um malabarista, que usava bastões com fogo nas pontas, que foi se apresentar no sinal. A Lu deu um encontrão com o cara e, se eu não fosse rápido, ela teria virado churrasquinho de gato.

Fomos para a minha casa no meu carro.

Adalberto: Lu, vai tomar banho. Você está com cheiro de fumaça.

Lu: Claro. Foi praga de alguém. Queimei o meu vestido. Que raiva!

Adalberto: Lu, às vezes, não era para ser. Esquece essa coisa de ter um bicho.

Lu: Não vou esquecer nada. Eu vou no Jóquei, no Campo de Santana, mas não vou ficar sem meu gatinho. Eu quero.

Adalberto: Então, vai.

Lu: Vou mesmo. E eu vou agora, com esse vestido todo queimado mesmo. Tchau.

E saiu batendo porta.

Adalberto: Tchau.

Duas horas depois, eu tinha acabado de chegar à praia para encontrar com os meus amigos, que estavam me esperando há horas, quando ela me ligou.

Lu: Onde você está?

Adalberto: Acabei de chegar na praia.

Lu: Primo, eu estou aqui no Campo de Santana, toda lanhada.

Adalberto: O que aconteceu?

Lu: Eu fui pegar um gatinho para levar para casa, mas acho que ele não gostou de mim.

Adalberto: Está muito arranhada?

Lu: Estou. Quando o bicho me arranhou, eu fui bater nele. Aí, vieram outros para defender. Eu preciso de um banho de mertiolate no corpo. Não quero mais saber de gato! Vem aqui me buscar?

É claro que eu não ia. Não sou palhaço para ela me destratar e, depois, vir como um gatinho, roçando o rabo na minha perna para me conquistar.

Lu: Por favor, primo. Eu te amo tanto.

E não precisou dizer mais nada. Coloquei a bermuda que eu mal tinha acabado de tirar e fui buscar a minha prima. Meus amigos ficaram fulos da vida comigo e disseram que não vão me chamar mais para nada.

Não estou nem aí para eles.

Faço tudo pelas minhas primas.

Ane, Lu, Sara e Marjorie são meus bichinhos de estimação. Minhas gatinhas.

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