sábado, 6 de abril de 2013

Dia da Mentira com quadradinho de oito

No domingo passado foi Páscoa e a Marjorie ficou de levar um ovo de chocolate para mim no dia seguinte. Nem fui trabalhar só para ver qual ovo ela tinha comprado para mim. E quando ela chegou a minha casa, a triste surpresa.

Marjorie: Primeiro de abril!

Adalberto: Como assim primeiro de abril?

Marjorie: Hoje é dia primeiro de abril. Dia da Mentira, ué.

Adalberto: Mas o que você fez não é certo. Você começou uma mentira ontem, na Páscoa, um dia santo. Você pode ser castigada por isso, sabia?

Marjorie: Ah, eu estou morrendo de medo.

Adalberto: Eu faltei ao meu trabalho, só por causa do ovo que você disse que ia me trazer, sabia?

Marjorie: Você faltou ao trabalho, porque qualquer coisa é um motivo para você não ir trabalhar.

Pior que é verdade.

Adalberto: Mentira! Eu não sou assim. Eu até gosto de trabalhar.

Marjorie: Arrã, quer enganar quem?

Adalberto: Marjorie, não muda de assunto, não. Você vai ter que comprar um ovo de Páscoa para mim. Esse seu primeiro de abril não vale.

Fora que, se eu estivesse grávido, o meu filho ia nascer com cara de ovo de Páscoa, tamanha era a minha vontade.

Marjorie: Ai, garoto. Ovo de Páscoa é barato. Vai à rua e compra um.

Adalberto: Eu não quero qualquer um. Eu quero um daqueles que você sempre me dá. Você é rica e pode pagar caro em ovo de Páscoa. Eu é que não posso pagar caro em ovo de Páscoa, se na minha geladeira nem ovo de galinha tem.

Marjorie: Adal, eu até comprei o seu ovo, mas como hoje é dia primeiro de abril, eu quis pregar uma mentirinha em você.

Fiquei mais tranquilo.

Adalberto: Você não vale nada.

Marjorie: Nem você.

Adalberto: Agora, eu não sei se a Ane vem aqui para casa hoje. Quando eu falei com ela ontem, que não iria trabalhar, porque você ia me trazer um ovo de Páscoa, ele disse que vinha almoçar comigo. Será que ela vem mesmo ou será que ela aderiu à moda de primeiro de abril antecipado?

Marjorie: Eu não falei com ela ontem.

E, do corredor da sala, surgiu a Ane.

Ane: É claro que eu viria.

Adalberto: Ué, você estava onde?

Ane: No quarto de hóspedes.

Adalberto: Você dormiu aqui?

Ane: Dormi. Tem problema? Se tiver, fala que eu devolvo a chave.

Adalberto: Não. Eu te dei a chave para isso. Mas eu gosto de ser avisado, quando as pessoas dormem na minha casa.

Ane: Pois é, mas, hoje em dia, está tão difícil de passar um primeiro de abril em você, que a minha maneira de te enganar foi dizer que viria hoje para cá e, em vez disso, vim ontem. Uma mentirinha boba.

Adalberto: Uma mentirinha boba, que também começou ontem, na Páscoa. E, assim como a da Marjorie, está invalidada. A mentira tem que começar e terminar no Dia da Mentira.

Marjorie: Essa é a sua regra?

Adalberto: É. Se quiser mentir para mim, tem que ter regra. Isso mesmo.

E a campainha tocou.

Adalberto: Já vai! É alguém conhecido, o porteiro não interfonou.

E, quando abri a porta, era a Sara.

Sara: Oi.

Adalberto: Como assim oi? Você me ligou ontem de Cabo Frio. Você estava lá com o Oswaldo e os trigêmeos. E ia passar a semana toda, porque o Oswaldo está em folga no trabalho. Já sei: essa foi o sua singela mentirinha de primeiro de abril, que também começou no dia anterior?

Sara: Não. A gente ia, realmente, passar a semana toda lá no hotel, em Cabo Frio. Mas eu não aguentei a menina do quarto ao lado do nosso, que não parava de olhar para o Oswaldo. A gente ia tomar café e ela ia atrás. A gente ia para a piscina e ela ia atrás. A gente ia almoçar e ela ia atrás.

Marjorie: Não acredito que você voltou só por isso, prima. Jura?

Sara: Claro que voltei por isso. Vocês sabem que eu não sou tão bem resolvida assim. Fora que a menina tem metade da minha idade e está com tudo em cima. Vocês acreditam que a mãe dela não vê, que ela é uma safadinha?

Ane: Acredito.

Sara: Não vê malícia em nada da filha. Ria de tudo o que a filha fazia. Para criar filho assim, é melhor nem ter. Eu acho...

Adalberto: Meninas, eu estou com fome. E não tem nada aqui em casa, além de orégano, sorvete de flocos e molho shoyo. Topam comer num lugar aqui perto? Vocês pagando a minha, claro.

Ane: Como assim a gente pagando a sua?

Adalberto: Pelas mentiras infames de vocês. Quem mente errado paga o almoço. Essa é a regra.

Marjorie: Você é um ridículo, sabia?

Adalberto: Não, minha mãe diz que eu sou lindo e eu acredito. Vamos?

Sara: Não. E a Lu?

Adalberto: A Lu foi a única de vocês, que tentou me passar uma mentira de maneira certa. No Dia da Mentira. Mas é tão surreal, que eu percebi que era mentira, mas fingi que acreditei para não acabar com a graça da prima. Ou seja, ela não vem. Vamos?

Marjorie: Vamos. Eu também estou morrendo de fome.

E quando abri a porta, dei de cara com a Lu, um homem mal encarado e umas meninas muito estranhas.

Lu: Eu não falei que eu vinha?

Adalberto: Como assim, Lu? Essas são as meninas do...

Lu: Bonde das Maravilhas. São! E você vai fazer o quadradinho de oito com elas.

Adalberto: Mas nem cremado! Meninas, vocês me desculpem, eu achei que ela estava de onda com a minha cara, porque hoje é o Dia da Mentira.

Lu: Eu nem lembrava do Dia da Mentira.

Adalberto: Pois é, mas hoje é o Dia da Mentira, sim. Meninas, então vamos deixar para uma próxima? Hoje, eu estou com a minha coluna doendo, dormi de mal jeito, sabe? A gente marca outro dia e vocês vêm aqui com calma me ensinar a fazer essa dança.

Lu: Adal, elas vieram de longe. Elas vão entrar e descansar um pouco aqui na tua casa, pelo menos.

Contanto que não fizessem o quadradinho de oito, tudo bem.

Adalberto: Está bem.

Lu: Esse aqui é o Admilson. Ele é irmão de uma delas.

Quando ele riu para mim, seus dentes de ouro reluziram. Eram muitos. Eu, que tenho fotofobia, quase fiquei cego.

Adalberto: Muito prazer.

Admilson: Então, você não acreditou que a Lu conhece gente famosa?

Não era bem isso. Eu não tinha acreditado que a Lu ia ter a coragem de trazer o Bonde das Maravilhas na minha casa.

Adalberto: Pois é... Agora, vê... O Bonde das Maravilhas na minha casa. Que orgulho!

Admilson: Pô, se você quiser, no teu aniversário, chamar as meninas para fazer um show, pode chamar. Elas te dão de presente o show. Você é um cara maneiro.

De jeito nenhum. Imagina eu, no meu aniversário, com os meus amigos, e, de repente, chega o Bonde das Maravilhas. Eu me jogo da janela mais próxima. Fato!

Adalberto: Obrigado, queridão. A gente vê isso mais para frente.

Admilson: Fechado.

Enquanto ias meninas do Bonde das Maravilhas dormiam no meu quarto e a Lu ficou namorando o Admilson no quarto de hóspedes, tive a brilhante ideia de comprar umas cervejas e uns petiscos, já que não dava mais para sair para almoçar.

Marjorie: Ué, a gente não vai mais sair para almoçar?

Adalberto: Não, Jojô. Nós temos visitas ilustres dormindo na minha casa. Não vou abandonar a minha casa, com gente que eu nem conheço dentro. Ainda mais... Deixa para lá.

Marjorie: É, você está certo.

E depois da décima garrafa de cerveja, já nem sabíamos mais quem éramos. Eu, particularmente, fiquei muito torto.

O pior é que foi exatamente nessa hora que as meninas acordaram. Elas estavam com toda a disposição do mundo. E, maliciosas que só, aproveitaram que estávamos bêbados, colocaram o CD do grupo para tocar e, quando dei por mim, eu estava de cabeça para baixo (segurado por elas, claro) fazendo o quadradinho de oito.

Tomara que ninguém tenha filmado isso.

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