Eu estava servindo de psicólogo no MSN para uma amiga, que mora na Austrália, quando alguém parecia arrombar a porta da minha casa. Abri morrendo de medo:
Adalberto: Porra, Lu, assim você me mata do coração!
Lu: Não me fala em coração. Eu não quero mais chorar.
Adalberto: Por quê?
Lu: Era assim que o Ateneu me chamava.
Adalberto: Ué, não era pra você estar num cruzeiro com ele a essa hora?
Lu: É, mas alegria de pobre dura pouco. Sempe sonhei em fazer um cruzeiro romântico. Quando encontro um baratinho, que posso parcelar em dez vezes, o navio inteiro fica com caganeira.
Disfarcei o riso, que saiu involuntário, com um acesso de tosse.
Adalberto: Era o Royal Caribbean, então?
Lu: Essa porra aí mesmo, que eu vou processar.
Adalberto: Mas e o Ateneu?
Lu: O Ateneu quer me matar.
Adalberto: Mas ele não disse que te amava?
Lu: Não fala isso que eu choro.
Adalberto: Mas foi você mesma que me disse isso. Aliás, ele ia te dar uma aliança de noivado lá no cruzeiro. Você me falou alguma coisa assim...
Lu: Só que eu joguei as nossas alianças em alto mar?
Adalberto: Como assim? Desistiu do noivado?
Lu: Não, primo. Você acha que eu ia jogar fora, assim, a minha chance de casar com alguém?
Adalberto: Não. Pelo menos, não em alto mar.
Lu: Ele não quer nem mais olhar na minha cara.
Adalberto: Me conta o que aconteceu. Por que você jogou as alianças fora?
Lu: Eu não joguei as alianças fora!
Adalberto: Não? Então, eu tô maluco!
Lu: Adal, o navio inteiro ficou com caganeira. Os banheiros todos ocupados, eu me segurando e nada de ninguém desocupar. Acabei me cagando toda!
Adalberto: Mentira! E o Ateneu?
Lu: O Ateneu também estava internado num vaso sanitário! Não tô dizendo que o navio todo estava com caganeira?
Adalberto: Mas e aí?
Lu: Aí que eu não tinha como tomar banho, tirei a bermuda cagada e a calcinha, claro, limpei o meu rabo, coloquei um biquini e joguei a roupa suja toda no mar. Não queria que ele me visse daquele jeito.
Adalberto: Tá. E as alianças?
Lu: Estavam no bolso da bermuda!
Adalberto: Por que não enfiaram a porra da aliança no dedo?
Lu: Porque a gente ia guardar. A gente ficou noivo na hora do almoço. Foi lindo...
Adalberto: E por que guardou? Aliança é pra ficar no dedo.
Lu: Mas esse noivado era o de mentirinha!
Adalberto: E existe isso?
Lu: A família dele é cheia de frescura. Noivado, pro pai dele, tem que ser com festa.
Adalberto: E por que vocês não esperaram, então?
Lu: Ai, primo, eu sempre sonhei com um cruzeiro, um amor, um pedido de casamento...
Adalberto: E como você teve coragem de dizer pra ele, que jogou as alianças fora?
Lu: Eu lembrei daquela peça que a gente viu, que a senhorinha joga o anel que ganhou do menino no mar, lembra?
Adalberto: Pra que sempre que ela olhasse pro mar, se lembrasse dele, porque dali, o anel nunca ia sair. "Ensina-me a viver" o nome da peça.
Lu: Mas, na prática, isso não adiantou, primo. Ele quase me arremessou no mar pra eu procurar as alianças!
Adalberto: Ele não é louco de fazer uma coisa dessas!
Lu: Não é louco? Eu precisei de ajuda da segurança navio.
Adalberto: Esse cara não te merece!
Lu: Não! Mas eu mereço ele.
Adalberto: Faz o seguinte, então: liga pro Ateneu e diz que eu dou de presente as alianças novas. Eu não vou ser padrinho? Eu compro, ué.
Lu: Mas aquelas alianças são as dos tataravós do Ateneu. Quando alguém na família casa, tem que ser aquelas merdas!
Adalberto: Aquelas merdas que você jogou fora, com a sua roupa cheia de merda. Que merda!
Brincadeirinha fora de hora.
Lu: Ai, primo, não acho graça nenhuma nisso! Você pode me apresentar aquela sua advogada? Vou descontar a minha raiva toda nesse cruzeiro.
Adalberto: Tá. Amanhã, eu te passo. A minha agenda, com o telefone dela, tá no trabalho.
O telefone tocou. Era a Marjorie.
Lu: O que ela queria?
Adalberto: Perguntou se a gente não queria ir com ela na passeata dos royalties.
Lu: Passeata contra essa navio que eu estava?
Adalberto: Não! Royalties do petróleo são uma coisa. Royal Caribbean é outra. Se bem que tá tudo dando merda.
Na passeata, a Lu tirou foto com a Xuxa, trocou um beijinhos com um deputado estadual (que eu não revelo o nome nem sob tortura) e, ainda, se acabou ao som do MC Créu. Aliás, ela me surpreendeu, dançando na velocidade cinco! No dia seguinte, a ressaca era tanta, que ela nem se lembrou de me pedir o telefone da minha advogada.
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Hilário!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirbrigado! me diverti escrevendo essa bodega.
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