segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ane retira vírgula entre sujeito e predicado com a força do útero

A Ane foi lá pra casa, ontem, passar o domingo comigo:

Ane: Isso é normal?

Adalberto: É normal, mas não é bom.

Ane: Eu odeio sentir inveja.

Adalberto: Eu também.

Ane: Mas ele falava dela com tanta admiração, sabe, Adal?

Adalberto: O Steban é meio sem noção, né? Te leva pra um jantar, pra ficar falando da ex.

Ane: O tempo todo. Me ajuda, primo?

Adalberto: Claro. Quer que eu ligue pra esse babaca e mande ele ir à merda com a ex-namorada?

Ane: Não. Corrige essa carta que eu escrevi pra ele. E troca algumas palavras por outras mais difíceis. Dessas que você costuma falar e eu não sei o que significa.

Adalberto: Deixa eu ver isso aqui.

Nem tinha tanto erro. Só estava meio cafona. Mas eu jamais falaria isso pra Ane. Ela ia me fazer escrever uma carta inteira pro cara, e eu não estava com paciência.

Adalberto: Só tira essa vírgula daqui.

Ane: De onde?

Adalberto: Você é tudo na minha vida. Direto. Sem vírgula depois do você. Não se separa sujeito de predicado.

Ane: Ai, que tudo isso, Adal. Vou escrever que eu sou o predicado da vida dele aqui embaixo. Ele vai me achar mais inteligente que a outra lambisgoia.

Claro que não!

Ane: Você não acha, primo?

Adalberto: Acho.

Ane: Mas eu queria deixar essa vírgula, depois do você, pra dar uma pausa mesmo, criar um suspense.

Adalberto: É mas esse suspense vai gerar um erro gramatical.

Ane: Que saco! Eu acho errado essa coisa de que a vírgula só pode ser usada, depois de períodos longos, pra gente respirar.

Adalberto: Mas isso não existe. O que existe são regras pra aplicação da vírgula. Não tem nada a ver com respiração, não.

Ane: Tem, sim. Eu lembro que a minha professora falava isso.

Adalberto: Ela estava errada.

Ane: Não estava.

Adalberto: Estava, sim.

Ane: Ah, tá bom, Adal. É você que tá certo, né?

Adalberto: Ane, que tal se você colsultar a gramática?

Ane: Tá bom. Vou fazer isso. Tchau.

Adalberto: Tchau.

Claro que ela não consultou gramática nenhuma. Foi entregar a cartinha pro Steban sem sequer corrigir o que eu tinha falado. Duas horas depois, a campainha tocou. Era ela:

Ane: Ai, primo, tô péssima.

Adalberto: Por quê?

Ane: Tem uma vírgula entre o sejeito e o predicado.

Adalberto: Ane, eu já te falei que não tem, que não aplica vírgula pra se respirar. Você consultou a gramática?

Ane: O Sebastian voltou pra ela.

Adalberto: Pra ex?

Ane: É.

Só então que entendi que a vírgula entre o sujeito e o predicado era a ex do Sebastian.

Adalberto: E aí?

Ane: A vagabunda estava lá. Veio pra cima de mim cheia de autoridade. Mas antes que essa lambisgoia abrisse a boca, eu dei um soco, com uma força que veio do útero, na cara dela.

Adalberto: E aí?

Ane: Ela caiu dura no chão.

Meu Deus!

Ane: Que cara é essa, Adal?

Estava estarrecido com essa agressão da Ane. Ela nunca foi disso. Pelo menos, acho que ela entendeu a minha explicação: vírgula entre sujeito e predicado é um erro.

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