Ontem, quando cheguei em casa, foi surpreendido pelas quatro:
Adalberto: O que é que vocês estão fazendo aqui, em plena segunda-feira?
Lu: A gente tem a chave desse barraco. A gente vem a hora e o dia que a gente quiser.
Adalberto: Eu sei. Mas vocês não costumam fazer isso.
Marjorie: Adal, a gente quer saber o que você vai fazer de aniversário.
Sara: Até agora, você não se falou nada. A gente já estava preocupada.
Adalberto: Eu não tô a fim de comemorar.
Ane: Por quê?
Adalberto: Ah, sei lá. Trinta anos não se comemora, né?
Sara: Ai, que bobagem.
Marjorie: Isso não exite.
Ane: Que besteira.
Lu: Palhaçada!
Adalberto: É a crise dos 30. Uma colega de trabalho disse que ela é inevitável e acaba com a gente.
Lu: Você contou. Renata o nome dela, né?
Adalberto: É.
Sara: E você acreditou?
Adalberto: Acreditei e já comecei a sofrer, mesmo ainda sem sequer sentir um sinal de crise.
Lu: Essa mulher me paga!
Ane: Com certeza!
Adalberto: Gente, pelamordedeus!, vamos voltar à crise dos 30.
Marjorie: Eu não tive crise dos 30. A minha scary age era 18. Indicava que os 20 estavam batendo na porta, e eu tinha um pavor absurdo de chegar aos 20.
Adalberto: E aí?
Marjorie: Mais de dez anos já se passaram e eu esqueci de sofrer.
Ane: A minha scary age é 40. Outro dia, uma senhora na fila do mercado disse que, quando a gente entra nos enta nunca mais sai. Eu nunca tinha pensado nisso. Vou sentir angústia.
Lu: Vai porque quer. Você acha que a Madonna pensa nisso?
Marjorie: Óbvio que não.
Lu: Ela quer mais é curtir com os garotinhos que ainda não chegaram nos enta.
Sara: Não vale a pena sofrer por antecipação?
Adalberto: Você dizendo isso?
Sara: Não nesse caso.
Marjorie: Ah, tá.
Adalberto: Então, decidi.
Ane: O quê?
Adalberto: Quero uma festa surpresa.
Lu: Tá maluco?
Adalberto: Não.
Sara: Se você já sabe que vai ter, não tem como ser surpresa.
Adalberto: Mas a minha irmã já organizou uma festa surpresa pra ela, com a minha mãe, e disse que foi mais emocionante do que se ela não soubesse de nada.
Marjorie: Como assim? Em que ano?
Adalberto: Naquele que você levou ela pra sair. Dezoito anos. Pronto, falei.
Marjorie: Que puta. A Camila sabia de tudo?
Adalberto: Nos mínimos detalhes. Foi dela a ideia daquele mural com fotos dos amigos.
Sara: Gente, ela conseguiu me enganar direitinho.
Ane: Gente, eu tô passada.
Lu: Gente, vou dar na cara da Camila.
Adalberto: Depois. Agora, eu vou passar pra vocês a lista de convidados e as coisas que eu quero que vocês façam, mandem fazer, comprem, sei lá.
Sara: Mas já tinha tudo preparado?
Adalberto: Já.
Marjorie: Mas e a crise dos 30?
Adalberto: Puro drama. Só pra ficar ouvindo as pessoas dizerem que eu pareço mais novo.
Sara: Danado.
Marjorie: Cachorro.
Ane: Safado.
Lu: Filho da puta.
Verdade. Só sendo isso tudo pra ter a coragem de falar pra essas loucas, que eu estava sofrendo da crise dos 30, influenciado por uma colegade trabalho. Eu, pelo menos, não deveria ter falado o nome da colega de trabalho. Hoje, quando cheguei ao escritório:
Renata: Isso aqui é coisa sua?
Era um buquê de flores. Eu tive o ímpeto de dizer que sim, porque, se ela perguntou, é porque não sabia. O remetente devia ser anônimo e eu bem que podia levar o crédito por aquilo. Um dia, podia precisar dela, e aquelas flores contariam ponto a meu favor. Mas tive a brilhante ideia de falar a verdade:
Adalberto: Não.
Renata: Olha aqui o que o babaca escreveu no bilhete.
Crise dos 30 de cu é rola. E embaixo as letras ALSM. As iniciais das minhas primas. Ane, Lu, Sara, Marjorie.
Adalberto: Caralho, eu vou matar aquelas galinhas.
Renata: O quê?
Adalberto: Eu vou matar quem fez isso! Se eu descobrir, eu mato!
Renata: Calma. Eu só vim te mostrar. Aquilo que eu falei outro dia, lá no refeitório sobre crise dos 30, foi só pra te botar pilha. Estava de sacanagem. Nada a ver. Isso não existe.
Adalberto: Não, né?
Renata: Nada. Eu nunca tive isso. Crise dos 30 é lenda. Já cheguei nos enta, de onde acho que nunca mais vou sair, e tô bem à beça. Tô fazendo como a Madonna: curtindo um garotinho aqui, outro ali e nem lembro quantos anos eu tenho.
É... Nessa onda de um tentar sacanear o outro, os esforços foram todos em vão ou, adaptando o provérbio, os tiros saíram pelas culatras.
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