sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Roubo, seguido de mentira providencial, desencoraja Sara do Projeto "Ser feliz em Santo Antônio do Pinhal"

Hoje cedo, eu estava no sinal parado com o vidro aberto (eu sou um idiota mesmo por andar com vidro aberto no Rio de Janeiro), quando a Sara teve a brilhante ideia de me ligar:

Adalberto: Fala, Sarita.

Sara: Adal, você viu a matéria do Bom Dia Brasil?

Adalberto: Não, lindona, eu trabalho, né?

Sara: Eu sei, primo, mas você tem faltado tanto o trabalho.

Adalberto: Eu?

Sara: Você não foi na segunda nem na quarta. Achei que não fosse trabalhar nos dias pares.

Adalberto: Na segunda, eu estava de ressaca e, na quarta, estava passando mal de tanto que eu comi no aniversário do meu pai.

Sara: Então, já vi que, se você ficar sem comer e beber, seu chefe vai lucrar.

Adalberto: Engraçada você, né? Peraí... Pronto.

Sara: O que você estava fazendo?

Adalberto: Parando com o carro.

Sara: Você estava dirigindo, falando ao telefone, é?

Adalberto: Não. Estava parado num sinal. Ele abriu, aí eu parei aqui no acostamento. Mas fala por que você tá me ligando a essa hora, minha coisa preciosa.

Sara: Então, deu no Bom Dia Brasil uma, que Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, tem baixíssimos índices de criminalidade.

Adalberto: E daí?

Sara: O último assassinato que aconteceu lá foi há nove anos, primo.

Adalberto: Mas por que você tá me falando isso?

Sara: Eu vou mudar pra lá. Não quero criar os meus filhos aqui nessa cidade, que a gente vive com medo.

Adalberto: Eu não vivo com medo, amo o Rio de Janeiro e o perigo, graças a Deus, passa longe de mim.

Ladrão: Sai do carro, filho da puta. Perdeu, perdeu.

Caralho, que boca maldita essa minha! Pra que é que eu fui dar conversa pra Sara, parado no acostamento de uma via expressa? Eu pedi, né?

Fiquei estatelado. O ladrão abriu a porta do carro, eu saí, ele tomou o meu celular e levou tudo. Tudo! Minha mochila, com carteira e documentos, papéis do trabalho, o livro que eu estava lendo, que é de um amigo meu e alguns montes de santinhos, dos quais a minha mãe me entope. Os santinhos, que Deus me perdoe, não fazem a menor falta. Na minha casa, com certeza, tem muito mais.

Antes mesmo de chamar a Polícia, liguei pra Sara. Apesar da energia ruim que essa filha da puta atraiu ter sido responsável por essa merda toda, ela tá grávida de três bebês. E, a propósito, os três vão ser meus afilhados:

Sara: Adal, eu tô uma pilha de nervos aqui.

Se tem uma frase que a Sara aprendeu a usar e não parou mais, depois que engravidou, é essa: "estou uma pilha de nervos". Será que a gravidez inteira eu vou ter que ouvir isso:

Adalberto: Calma, meu amorzinho, tá tudo bem.

Sara: Como assim tá tudo bem, Adal? Você podia ter morrido. Meus filhos não iam conhecer o padrinho.

Nossa, que drama. Mas essa Síndrome de Scarlett O´Hara já não é novidade. A Sara sempre foi exagerada.

Adalberto: Graças a Deus nada aconteceu. Você tá bem.

Sara: Tô. Mas você vai comigo pra Santo Antônio do Pinhal. Não dá mais pra ficar nessa cidade.

Adalberto: Sara...

Sara: Você vai, não vai, primo?

Adalberto: Sara, agora, eu preciso ir a uma delegacia. Vamo deixar Santo Antônio do Pinhal pra depois.

Sara: Eu vou pegar um táxi e te encontro.

Adalberto: Tá. Mas traz dinheiro, porque o ladrão levou tudo e me deixou zerado.

O tempo que a Sara demorou pra chegar, eu cancelei meus cartões, o celular e registrei queixa no delegacia. Mas, supreendentemente, quando ela chegou, ao seu lado vinha o safado que me roubou, acompanhado de dois policiais.

Resumindo: a Sara, que tinha me dado azar pela manhã, me trouxe sorte agora, à tarde. Ela não é filha da puta mais, não. Mudei de ideia. É uma linda.

Fui correndo dar um abraço nela, que não entendeu nada:

Adalberto: Brigado, prima, brigado, brigado, brigado. Eu te amo.

Sara: Imagina se eu não ia vir aqui... Você é meu primo e amigo, esqueceu. E eu me senti meio culpada por tudo. Você só foi roubado, porque parou o carro pra falar comigo.

Adalberto: Imagina, você não tem culpa de nada, coisa fofa. O que você tem é uma energia muito da positiva. Tanto que, você chegou junto com o bandido.

Pra que é que eu fui falar isso? Ela ficou tão apavorada e histérica, que quase pariu ali mesmo. A delegacia inteira foi pouco pra ajudar ela se recuperar do pavor.

Quando a tranquilidade se restabeleceu e eu consegui recuperar TODAS as minhas coisas -- inacreditável isso; coisa de bandido inexperiente -- fui contar pra Sara a novidade:

Adalberto: Sabe o carinha que roubou meu carro?

Sara: O que é que tem essa praga?

Adalberto: É de Santo Antônio do Pinhal.

Sara: Mentira.

Adalberto: Viu? Deve ser por isso que o índice de criminalidade é baixo lá. Eles se despencam de lá da caixa prego pra roubar aqui na Cidade Maravilhosa.

Mentira. O cara é de Belford Roxo. Inventei essa história pra Sara só pra tirar o Projeto "Ser feliz em Santo Antônio do Pinhal" da cabeça dela.

Sara: Vamo ficar por aqui mesmo. Aqui, mal ou bem, a gente já sabe onde é mais perigoso, onde é mais tranquilo, onde a gente pode passar, onde não pode... Né, primo?

Adalberto: Claro. Você tá certíssima.

Certíssima!

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