quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ser burro ou ser incrível, eis a questão

Ontem, saí do trabalho, fui pra academia e, quando achava que ia descansar na minha caminha, descobri que a maratona ainda não tinha nem começado:

Adalberto: Alô.

Ane: Tô passando aí pra te pegar.

Adalberto: E pra onde eu vou? Posso saber?

Ane: Descobri onde o Nando mora.

Adalberto: Quem?

Ane: O carinha pediu pra eu rachar a conta do motel com ele.

Adalberto: O nome dele é Sizennando e a gente já tratou que chamaria ele de Size.

Ane: Os amigos dele todos chamam ele de Nando.

Adalberto: Anita, Size é o máximo que eu posso fazer por ele. Eu sei que ele não tem culpa. Eu também não pedi pra nascer Adalberto.

Ane: Ó, tem uma blitz aqui. Vou desligar. Vai se arrumando.

Em cinco minutos ela chegou lá em casa. Tinha acabado de fazer um despretensioso número dois. Abri a porta enrolado numa toalha:

Ane: Caralho, garoto, vôce ainda não se vestiu?

Adalberto: Não. Eu ainda nem tomei banho.

Ane: Como assim? E essa toalha?

Adalberto: Eu estava cagando, babe.

Ane: Já se limpou.

Adalberto: Mais ou menos.

Ane: Então, bota uma roupa e vambora. Parece que ele sai todo dia por volta das seis e meia e não volta mais.

Às vezes, eu me pergunto se sou muito subserviente as minhas primas... E, nessas horas, sempre me lembro a resposta.

No trajeto para a nossa missão, resolvi tirar umas dúvidas importantes:

Ane: Não. Você tá confundindo as pessoas, Adal.

Adalberto: Ué, não foi o Size que disse que gostou da sua casa, porque ela é grande e tem ar-condicionado.

Ane: Isso.

Adalberto: Que rachou a conta do motel com você e disse não podia viajar com você pra Angra, porque tinha que cuidar ada avó.

Ane: É.

Adalberto: Não foi ele que te pediu pra tirar um Nike doze molas, em vinte e quatro vezes, no cartão?

Ane: Não, garoto. Esse é o Danderneu. Que sustenta a família com auxílio do Bolsa Escola.

Adalberto: Verdade. É tanta mesquinharia e nome estranho, que eu me confundo.

Ane: Como que ele mora num casarão?

Adalberto: Deve ser um filhinho de papai, que não trabalha.

Ane: Filhinho de papai racha a conta de motel.

Adalberto: O pai dele deve ter acabado com a mamata.

Ane: É mesmo. Nem tinha pensado nisso. Você é incrível, primo.

A minha convicção foi por terra, quando paramos em frente ao casarão do Size e o vimos cortando a grama do jardim, bem atrás do carro que saía da garagem.

Ane: Olha lá que fofo. Ele tá trabalhando.

Adalberto: Também acho legal trabalhar. Só não acho legal mentir.

Ane: Adal, como você é burro. Junta uma coisa com a outra garoto. Ele deve ter começado a trabalhar em casa outro dia. Por isso que ele não me ligou mais.

O legal é que há menos de um minuto eu era incrível.

Adalberto: Vamobora.

Ane: Não. Vamo ver se ele vai sair às seis e meia e pra onde ele vai.

Duas horas depois, quando o carro da Ane entrou na reserva, não sei, não... Mas acho que voltei a ser incrível:

Ane: Adal, me empresta cinquenta reais pra eu botar álcool?

Adalberto: Claro. Ane, você não acha melhor a gente parar de seguir esse ônibus. Ele tá indo pra Nova Iguaçu.

Ane: Primo, é uma questão de vida ou morte. Eu preciso descobrir pra onde ele tá indo.

Eu tinha certeza que era pra casa dele. Mas falei diferente:

Adalberto: Ele deve estar cumprindo a rotina de serviço, que o pai passou. Tenho certeza disso.

Ane: Adal, você é mais que incrível.

Porra, então eu sou foda.

Adalberto: Olha ali, ele tá saltando do ônibus.

Ane: Fica aqui. Já volto.

Adalberto: Tá.

Nos vinte minutos até ela ver o Size entrar em casa, a Ane viu ele cumprimentando uns bêbados de um boteco com a maior intimidade. Até aí, nada.

Viu ele parando pra brincar com uns meninos que estavam brincando de embaixadinho no meio da rua. Até aí, nada.

Viu ele pegando uma criança no colo e rodando com ela no ar, assim como os nossos pais faziam com a gente. Mas até aí, nada.

E, quando ele colocou a criança no chão, e tascou um beijo na boca de uma mulher, acho que a Ane constatou que, quando ele me chamou de incrível, eu, na verdade, estava sendo burro. E vice-versa.

Na trajeto pra casa, o silêncio foi absoluto. Eu não arrisquei fazer qualquer comentário. Não estava com paciência pra ser chamado de burro. Nem de incrível.

Só quando a Ane me deixou em casa, voltamos a esse tipo de comentário:

Ane: Pode dizer que eu sou uma burra.

Adalberto: Você é incrível.

Mentira. Ela é uma burra.

Ane: Te amo, tá?

Tadinha. Ela é incrível, sim.

Adalberto: Também te amo, minha coisa preciosa.

Ane: Dorme com os anjos.

Adalberto: Pode deixar.

Saí do carro e me dei conta que estava desde a hora da academia sem tomar banho. Nesse ínterim, rolou um número dois com direito a más condições de assepsia e tudo.

É nessas horas que a gente quer que os elevadores tenham dispositivos de volocidade. Eu queria muito me teletransportar pro meu chuveiro. Mas o elevador lá de casa anda na velocidade cinco... Do créu. Foi só eu entrar nele que... Créu! Deu tempo de faltar luz no trajeto até o oitavo andar.

Três horas depois, consigo pisar dentro de casa. Tomo o meu banho e vou dormir... me achando incrível.

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