Ontem, depois do trabalho, decidi passar na casa da Marjorie. Quem abriu a porta para mim foi o Joenilton, o carinha que estava ficando com ela.
Adalberto: Tudo bem, querido? Minha prima está por aí?
Joenilton: Ela está tentando se matar ali na janela.
O pior foi a maneira blasé que ele me falou isso.
Adalberto: Como assim? Marjorie!
Não sei se foi coincidência ou drama, mas na hora que eu apareci, ela fez que ia se jogar na janela. Consegui segurá-la pelas pernas.
Adalberto: Quer morrer, sua maluca?
Marjorie: Quero, ué.
Fiquei de cara rachada. Quem tenta o suicídio quer, no mínimo, morrer...
Marjorie: Me deixa morrer!
Adalberto: Por quê?
Marjorie: Porque ele terminou comigo.
Fiz um olhar fulminante para o Joenilton, que disse tudo. Ele saiu sem dizer uma única palavra.
Adalberto: Marjorie, você está maluca? Nunca te vi sofrendo por homem nenhum.
Marjorie: Porque, até hoje, só eu que terminei com os meus namorados.
Adalberto: A ordem dos fatores não altera o produto.
Marjorie: Não altera? Quem dá pé na bunda vira ídolo pop. Acabei de descobrir isso.
Adalberto: Ah, que bobagem. Isso ainda vai te acontecer mais umas mil vezes.
Marjorie: Mil. Eu não estou preparada mais para meio pé na bunda. Esse já foi mais do que suficiente.
Adalberto: Então, se mata.
Putz! Falei merda.
Adalberto: Quer dizer, toma um calmante.
Marjorie: Eu odeio tomar remédio.
Adalberto: Então, vamos tomar um chopinho com as meninas?
Marjorie: Adal, eu estou querendo me matar. O Joenilton me largou.
Adalberto: Quem é o Joenilton na na noite? Olha, eu vou te contar uma coisa: ele fala “mortandela” e “mendingo”.
Marjorie: Mentira!
Claro que era mentira. Mas eu sabia que ia acertar o alvo.
Adalberto: Nossa, ele medonho. Sabe naquele dia que a gente foi comer no Deliciante?
Marjorie: Sei.
Adalberto: Foi só você levantar para ir ao banheiro para ele tirar sujeira do ouvido com a unha.
Marjorie: Ai, que nojo!
Adalberto: Detalhe: ele comeu a sujeira. E, depois, te beijou.
Marjorie: Quero vomitar.
Adalberto: Aí, eu te apoio. Vomita mesmo porque é isso que você precisa fazer. Se matar não vai te levar a lugar algum. E se precisar de outro empurrãozinho, eu posso te contar mais uma.
Marjorie: Tem mais?
Adalberto: Ele arrota assoprando com cheiro de estrume.
Foi o suficiente. Ela vomitou. E vomitou com gosto. Não consegui esconder minha felicidade. Parecia que eu estava recebendo homenagem do meu filho no teatro da escolinha, no Dia dos Pais. E olha que eu nem tenho filho... Mas a emoção é a mesma.
Adalberto: E aí, foi tudo?
Marjorie: Acho que sim.
Adalberto: Ainda quer se matar, por causa do seu ídolo pop Joenilton?
Marjorie: Joenilton? Quem é Joenilton?
Adalberto: Não faço a menor ideia. Vamos tomar um chopinho?
Marjorie: Só se for agora.
É assim que se fala!
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