segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Quando um megahair vira um megaproblema

Nos reunimos, na sexta-feira passada, na casa da Marjorie para celebrar o novo cabelo da Lu. Para as primas, qualquer coisa que aconteça na vida delas é um motivo para um encontro regado à cachaça, inclusive a colocação de um megahair. As opiniões divergiam.

Sara: Eu gostei. Mas não teria coragem de fazer o mesmo. Sei lá, quando a gente já vai ficando mais velha, o comprimento do nosso cabelo tem que ir diminuindo.

Ane: Eu adorei, amei! Ficou lindo.

Marjorie: Prima, eu não gostei. Acho você linda com o seu cabelo natural. Não precisava aumentar de volume e tamanho.

Adalberto: Eu também ainda não tenho uma opinião formada, mas acho que, se você está feliz, é isso que importa.

Lu: Posso falar? O carinha que eu estou ficando, o Gladsnelson, que pagou.

Ane: Jura?

Lu: Garota, ele é louco por mulher com cabelão. Isso aqui custou o olho da cara. Mas como foi ele que pagou, eu não estou nem aí.

Marjorie: Aí, você colocou o cabelão só porque ele pediu?

Lu: Foi. É ele que está me pegando. Fora que o cara tem bala, gente. Eu não estou acreditando nisso. Eu tirei a sorte grande. O Glad estava fazendo mistério, mas ontem, depois de duas semanas que a gente está ficando, ele me convidou para um churrasco amanhã na cobertura dele na Vieira Souto, para tudo!

Ane: Eu quero ir.

Lu: Lógico que você vai. Aliás, vocês quatro vão. Esse churrasco é para ele me apresentar à família. Deve ser um povo chique.

Sara: Ou metido, né? Esse pessoal da Zona Sul é tudo metido.

Marjorie: Que metido? Eu moro no Leblon e sou metida? Ser metido, além de ridículo, ficou totalmente cafona. Hoje em dia, só quem é pobre de espírito que é metido a rico, prima.

Adalberto: Concordo.

Lu: Eu acho que eles não são metidos, não. O Glad, pelo menos, é muito simples. Isso deve ser coisa de criação. Os pais dele devem ter educado ele assim.

Sara: Foi ele que disse para você convidar a sua família?

Lu: Não. Mas eu dei pinta de moça de família e disse que gostaria de aproveitar a ocasião para apresentar os meus primos para ele. Ele adorou a ideia.

Ane: E eu mais ainda. Será que ele não tem nenhum priminho para me apresentar, não?

Lu: Não sei, prima, fiquei sem graça de perguntar. Mas vai bem gata. Vai que...

Ane: Me ajuda a escolher roupa? Acho que vou ao shopping comprar alguma coisa. Eu não tenho nada.

Adalberto: Ah, eu não acredito. Toda mulher nunca tem roupa, quando tem que sair. O que acontece com as roupas de vocês nessas horas? Elas saem correndo, se escondem na gaveta das meias?

Lu: Cala a boca, garoto. Prima, eu não vou poder ir com você, porque tenho que benzer meu cabelo. A Juliana Paes falou no Faustão, que as atrizes, que botam cabelo, fazem isso.

Marjorie: Deve ser para tirar a energia da pessoa, que foi, originalmente, a dona do cabelo.

Lu: É isso mesmo. Eu não acredito muito nessas coisas, não. Se eu paguei, ele é meu e tem que ter a minha energia. só vou lá, porque não quero que nada estrague a meu namoro. Imagina se, depois, eu termino com o Glad, por causa de energia de cabelo...

Ane: Não pode. Vai, sim, prima. Te dou o maior apoio.

Lu: Adal, você vai comigo.

Marjorie: Não, ele vai comigo lá na fábrica me ajudar a pegar umas bolsas.

Sara: Eu não tirei dinheiro para o táxi. Ia pedir para o Adal me deixar em casa.

Ane: Ah, não, gente. Deixa ele ir comigo me ajudar a escolher a minha roupa para amanhã.

Lu: Sarita, eu te dou o dinheiro do táxi. E você não vai precisar me pagar. Agora, eu sou uma mulher rica, meu bem. Não vai me fazer falta. Ane, amore, hoje eu sou prioridade, entenda. De mais a mais o Adal não ia te ajudar em nada. Ele não sabe combinar as próprias roupas. Vai saber escolher roupa para você? E, Marjorie, nem vem. A gente sabe que você é a prima querida, que ele faz tudo com você. Hoje, você vai pedir para um dos seus ajudantes da fábrica te ajudar a pegar as bolsas. A protagonista hoje sou eu, meu bem. Meninas, beijo. Vamos, Adal.

E, quando dei por mim, estava tirando os sapatos para entrar no terreiro da Mãe Amália. As revelações não foram nada boas.

Mãe Amália: Minha filha, eu posso benzer esse cabelo, mas não vai adiantar.

Lu: Como assim? Joga água fervendo, dá um banho de canjica, de pipoca, de sal grosso, mas limpa esse cabelo, Mãe Amália.

Mãe Amália: Não posso. Ele está preso.

Lu: Ué, então eu tiro a chuquinha e solto. Eu prendi porque achei que ia facilitar na hora de benzer.

Mãe Amália: Não é isso. Ele está preso pelo espírito da menina, que foi a dona dele.

Lu: Sério? Por que ela fez isso comigo?

A mãe de santo olhava para o cabelo da Lu, como se estivesse lendo uma informação.

Mãe Amália: A mãe dela queria que ela cortasse o cabelo para vender. Elas eram muito pobres. Mas a religião da menina não permitia. Ela era muito religiosa, muito. Num dia, saiu para cortar o cabelo e não voltou mais para casa. Foi encontrada na manhã seguinte enforcada com o próprio rabo de cavalo.

Adalberto: Que horror.

Mãe Amália: É, e eu vejo aqui ainda o bilhete que ela deixou. Nele, estava escrito. O meu cabelo estará sempre comigo para onde quer que eu vá. Nem assim a mãe respeitou a vontade da filha e, apesar de muito triste, vendeu o cabelo da menina para quitar as dívidas. Mas o espírito dela não aceitou isso e... Olha, ela está aqui, está falando comigo.

Lu: Quem?

Mãe Amália: A dona do seu cabelo.

Gritamos de medo.

Adalberto e Lu: Aaaaaaaaah!

Amália: Calma, gente, deixa eu ouvir a menina. Oi, minha filha. Fala de novo. O quê? Está bem, vou falar para ela. Olha, minha filha, ela me disse aqui que vai amaldiçoar a sua vida, enquanto você estiver com o cabelo dela. Tudo na sua vida vai dar errado, enquanto você estiver com esse megahair.

Adalberto: Lu, arranca esse cabelo daí agora.

Lu: Adal, mas e o Glad? Ele não vai gostar de me ver sem cabelo.

Adalberto: Melhor! Pior é se essa garota amaldiçoar o seu relacionamento. Deixa esse cabelo aqui, que a Mãe Amália dá um jeito. Você não vai ficar rica namorando com o Gladsnelson? Então, vamos lá colocar outro cabelo de alguém desapegado.

Lu: Mas como a gente vai saber? E se eu pagar caro por outro cabelo de um espírito como o dessa menina?

Adalberto: Lu, vamos num lugar humilde e compramos um cabelo de alguma pessoa viva que aceite a nossa proposta. Melhor assim.

Lu: Mas eu ainda não estou rica. Eu só incorporei a mulher rica.

Mãe Amália: Incorporou o quê?

Lu: Nada, é modo de falar. Eu quis dizer que eu já adquiri o perfil da mulher, mas o Glad, o meu namorado, ainda não me liberou um cartão de crédito sem limite, sabe? Por enquanto, eu ainda dependo dele para satisfazer as minhas extravagâncias.

Adalberto: Lu, eu te empresto dinheiro, a gente compra um cabelo novo, você coloca num salão e, depois, você me paga tudo com juros altíssimos, já que você está podendo. Anda, corta logo esse cabelo maldito.

Lu: Me empresta uma tesoura, Mãe Amália.

Mãe Amália: Claro.

Lu: Adal, você corta para mim?

Mãe Amália: E ele sabe cortar cabelo?

Adalberto: E tem que ser cabeleireiro profissional para arrancar tirar o megahair da cabeça da minha prima?

Mãe Amália: Com certeza. A menina que era dona do cabelo não vai gostar de vê-lo todo mal cortado. Deixa que eu corto. Eu fiz curso de cabeleireira, sei cortar direitinho.

E enquanto a Mãe Amália cortava o megahair, a Lu desabou. Parecia que eu estava vendo a cena da Carolina Dieckman, em Laços de Família. Ou parte da cena, já que a Lu não ficou careca. Mas ela soluçava de tanto chorar... Era como se a mãe de santo estivesse tirando todas as suas forças.

Mãe Amália: Pronto. Você está livre. Eu cortei, conforme as orientações da dona do cabelo. Ela acompanhou todo o trabalho. E disse que, agora, você está livre. Pode ir e boa sorte.

Lu: E o que eu faço com esse cabelo?

Mãe Amália: Deixa comigo. Eu dou um jeito.

Lu: Obrigada, linda. Beijo.

Fomos a um bairro pobre de Nova Iguaçu negociar um cabelo novo.

Lu: Adal, olha ali aquela menina. O cabelo dela é igual ao que eu tinha comprado.

Adalberto: Coitadinha. Ela, sem aquele cabelo, vai ficar feia. O cabelo esconde parte do rosto, que não favorece muito.

Lu: Amor, o que não favorece é eu ficar sem cabelo e sem o Glad. vamos lá, agora, falar com ela.

Conseguimos comprar por uma bagatela. A mãe da menina não tinha noção de preço e vendeu o cabelão de filha por, praticamente, uma cocada e uma mariola. Fiquei com pena, mas, como o dinheiro estava saindo do meu bolso, me aproveitei da humildade alheia.

Lu: Agora, vamos no salão lá de Ipanema colocar esse cabelo.

Adalberto: Está maluca? Não foi lá que você colocou o outro cabelo?

Lu: Foi.

Adalberto: Então, sua louca, vai que o Gladsnelson passe por lá um dia e a cabeleireira comente isso com ele? Ele mora lá, vai que...

Lu: É mesmo, primo, eu não pensei nisso. Melhor a gente tentar algum salão por aqui mesmo.

No Centro de Nova Iguaçu encontramos um salão especializado em megahair. A Lu amou a cabeleireira que colocou o cabelo nela. Pareciam melhores amigas de infância. A menina contou toda a vida dela para a Lu, falou do primo que ela é apaixonada, que vai passar o carnaval em Cabo Frio e que não está gostando da nova novela das oito, apesar de ser noveleira de carteirinha.

Marijanny: Sei lá, eu acho que o autor errou a mão, sabe? Eu queria que o personagem daquela atriz ruivinha ficasse com o bandido. Mas não queria que o bandido fosse bandido. Queria que ele fosse o par romântico dela. Ele combina mais com ela, você não acha?

Lu: Acho. Eu já tinha falado isso para o meu primo, não foi, Adal? Viu? A Mari também acha, primo.

Elas, realmente, tinham muitas afinidades. A Lu estava em casa naquele salão, onde todas as pessoas falavam gritando.

Marijanny: Mas fala por que é que tu está botando outro cabelo igual?

Lu: Garota, se eu te contar, você vai cair para trás. É babado!

Marijanny: Conta, então, amiga. Adoro babados!

E a Lu contou toda a história do cabelo maldito, sem deixar uma vírgula de fora. Disse que o namorado é bem de vida, falou da mãe de santo, que o cabelo estava preso a um espírito, contou tudo.

Marijanny: Menina, que história mais bafo, hein.

Lu: Não te falei?

Marijanny: Ficou bom?

Lu: Está perfeito, amiga. Eu te amo. Olha, se eu pudesse, te levava comigo para o churrasco de amanhã.

Marijanny: Mas eu não ia poder. Eu também tenho um almoço na casa daquele meu primo.

Lu: Jura? Amiga, boa sorte. Eu te ligo para a gente combinar alguma coisa e você me contar tudo.

Marijanny: Quero só ver. Se não vier, eu vou atrás de você e arranco o teu cabelo. Da mesma forma que eu botei, eu tiro.

Lu: Amanhã, à noite, mesmo eu te ligo.

Marijanny: Está bom, meu amor. Liga lá para de noitinha. Eu vou aproveitar para passar no shopping, depois do almoço, e devo chegar em casa tarde. Eu pego duas conduções para voltar para casa, aí, já viu, né? Demoro a chegar.

O serviço da Marijanny ficou, de fato, muito bom. O cabelo da Lu ficou igual ao outro. Não deixou a dever em nada ao salão de Ipanema. O melhor de tudo: o preço. Me custou um terço do valor do outro salão.

Lu: Amor, se eu tivesse dinheiro, ia te dar o dobro de gorjeta. Mas é o meu primo que está pagando. Depois, a gente vai às forras.

Marijanny: Com certeza. A gente ainda vai se ver muito. Adorei te conhecer.

Lu: Vamos bombar juntas. Agora, deixa eu ir lá. Beijo.

Marijanny: Beijo, tchau, linda. Arrasa!

No caminho para casa, a Lu resolveu implicar com o cabelo novo.

Lu: Adal, será que eu devo benzer esse cabelo?

Adalberto: Ah, não, Lu. A gente conheceu a garota, que era dona do cabelo, vimos que ela é uma pessoa feliz, a mãe dela é uma querida. Não há necessidade.

Lu: Então, me deixa em casa, que eu tenho que fazer uma limpeza de pele e dormir umas doze horas para acordar amanhã linda. Já está tarde.

No dia seguinte, peguei todas as primas em casa. Esse namoro da Lu estava saindo caro para mim.

A apartamento do Gladsnelson é muito grande. Ponto. Fora isso, muito cafona. Nada combina com nada, muitas cores, um aquário imenso na parede da sala com um tubarão dentro... Não gostei. Mas a Lu amou. Isso é o que importa.

A família dele podia trabalhar tranquilamente no salão de Nova Iguaçu, onde a Lu colocou o cabelo. Todos falavam berrando. Os pais dele, os tios, as tias, os primos, as primas, os OITO enteados da Lu. Todos sem exceção.

Marjorie: E aí, prima, alguém aqui te atende?

Ane: Aquele primo do Glad de camisa colorida é um gatinho. O que mata é o jeito dele, né?

Marjorie: E a camisa, né? Onde já se viu uma camisa daquela com calça preta social surrada?

Lu: Vocês gostaram da minha sogra?

Sara: Não. Ela ficou indignada, quando eu disse que não trabalhava. Disse que mulher tem que trabalhar.

Lu: Coitada. Eu, casando com o filho dela, a primeira coisa que eu vou fazer é parar de trabalhar.

Ane: Prima, ter a sogra como aliada é garantia de relacionamento duradouro. Diminui a tua escala no trabalho, mas não sai de uma vez, não. Deixa ela pensar que você está se matando de trabalhar. E você no shopping comigo comprando várias coisas.

Lu: Ótima ideia. Combinado. Adorei.

O Gladdsnelson toda hora vinha até a nossa rodinha, perguntando se estávamos sendo bem servidos. Eu já estava entalado de tanta comida, mas ele não sossegava, enquanto não visse a gente mastigando.

Gladsnelson: Está tudo bem aí? Toma mais um pouquinho de guaraná, Adal.

Adalberto: Não, obrigado. Eu vou beber cerveja mesmo.

Gladsnelson: Mas e a blitz da Lei Seca? Vai pagar a multa? É baratinha, né?

Adalberto: Não. A Marjorie mora aqui pertinho, no Leblon. Eu vou dormir na casa dela.

Não tive coragem de dizer que eu não aguentava mais beber guaraná de garrafa de cerveja. É muito doce aquilo.

Quando ele virou as costas, soltei o veneno.

Adalberto: Gente, agora, deixa eu fazer o meu comentário sórdido. O Gladsnelson pode ser  rico, mas já foi pobre. O refrigereco entrega.

Marjorie: Verdade.

Adalberto: Pobre adora refrigereco. Eles saem da merda, mas levam o refrigereco junto. Não é possível... Que xarope ruim isso que eles chamam de guaraná.

Lu: Não, e você não sabe da maior. Eles são todos de Nova Iguaçu. Só faltava ele ser parente da fofa que botou o meu cabelo ontem. Imagina.

Nos assustamos com a gritaria que, do nada, começou naquela cobertura. Aquela família conseguiu abafar o pagode que estava tocando altíssimo. E para a nossa terrível surpresa, eles estavam fazendo festinha pela chegada da Marijanny. Ela é prima do Gladsnelson. E a Lu descobriu da pior maneira que estava namorando o primo, por quem a cabeleira era apaixonada.

Marijanny: Queridinha, o Glad é meu.

Lu: Amiga, você namora com ele? Ele não me disse que tinha namorada.

Marijanny: Queridinha, ele é meu e não sabe. A família inteira bota pilha para ele ficar comigo. A gente já teve um caso no passado, mas tu sabe como é que é bicheiro, né? Não para quieto, pega geral. Eu era novinha e não aceitei isso. Agora, eu estou mais madura, vi que ele não vai mudar, então, eu mudei e quero ele mesmo assim. Ele pode pegar quem ele quiser. Só não quero meu primo namorando. Eu acabo com o relacionamento, já infernizei a vida de muita mulher. Ninguém me aguenta. Quer experimentar?

Lu: Escuta aqui, garota, vocês está me ameaçando?

Marijanny: Estou. Vai encarar? Pica a mula da vida do meu primo ou conto para ele a história do cabelo. Se ele souber que tu  tirou o cabelo caro que ele pagou, que tu foi em macumbeira, ele vai te enfiar a porrada. Ele já me deu uma surra por muito menos. O cara bate, hein... E aí? O que é que tu vai fazer?

Adalberto: Ela vai embora. Aliás, todos nós vamos embora. Você fica aí com o teu primo, que ninguém vai atravessar o seu caminho. A gente vai sair à francesa e você me faz um favor. Sem que o Gladsnelson perceba, deleta o contato da Lu do celular dele.

Marijanny: Isso é mole para mim.

Saímos sem que ninguém percebesse. O povo já estava tão bêbado que nem sentiu nossa falta. Era tanta gente naquele lugar...

No caminho para casa, a Lu estava inconsolável.

Sara: Prima, pensa que, pelo menos, esse contraventor não sabe onde você mora. A menina vai tirar o teu número do celular dele e você vai ficar segura.

Marjorie: É só não ficar circulando por aqui, por Ipanema. Onde vocês se conheceram?

Lu: Num pagode lá no Cachambi.

Ane: Já não vai mais lá.

Marjorie: Isso. Evita os lugares onde você pode encontrar esse homem, prima. Olha, eu vou te falar: há males que vêm para o bem. Teve uma hora, que eu fui ao banheiro, e vi o Gladsnelson entregando um pacotinho para um primo dele. Devia ser drogas.

Adalberto: Sério?

Sara: Eu também vi. Só estava esperando a gente sair desse churrasco para contar para vocês.

Marjorie: Viu? Eu não estou louca.

Lu: Gente, vamos agora no primeiro salão que a gente passar em frente. Vou vender esse cabelo. Não quero ficar com essa coisa imensa horrorosa, que só me faz lembrar aquele safado. Eu te falei que eu tinha que benzer esse cabelo!

Adalberto: Benzer o cabelo ia tirar o Gladsnelson do caminho das drogas? O cabelo não te trouxe maldição nenhuma. Ele abriu os teus caminhos. Isso, sim.

Lu: Então, faz o seguinte: vamos até o terreiro daquela mãe de santo. Se o cabelo que o safado do Glad comprou para mim ainda estiver por lá, eu pego e vendo também. Eu saio dessa mas não saio dura.

Marjorie: Mas, gente, o Adal bebeu. Não pode ficar circulando pela cidade, dando mole. Olha a blitz da Lei Seca...

Adalberto: Não, eu nem cheguei a beber. Quando eu ia virar o copo, começou aquela confusão toda, eu fiquei desnorteado e nem bebi. Ainda bem.

Lu: Então, você me leva lá, primo?

Eu estava cansado e queria ir para casa dormir. Mas tinha dinheiro meu envolvido nessa história de cabelo. Era importante ela reaver a grana para me pagar o que devia.

Fomos todos ao terreiro da Mãe Amália. A Marjorie e a Sara não estavam muito felizes com isso. Elas não gostam dessas coisas. Só foram mesmo pela Lu, que estava arrasada.

A mãe de santo ficou surpresa, quase assustada com a nossa visita. Devia ser, porque ela estava dormindo. Estava com cara de sono e não tinha nem enrolado aquele lenço branco, que elas amarram na cabeça, direito. Estava mal colocado, entregando parte do cabelo desgrenhado de quem acabou de acordar.

Lu: Ei, esse cabelo é meu!

Mãe Amália: Qual cabelo, menina? Está maluca?

A Lu não pensou duas vezes. Arrancou sem a menor delicadeza o lenço da cabeça da mulher.

Lu: Esse.

E um cabelo imenso se desenrolou da cabeça da Mãe Amália.

Lu: Esse cabelo é meu, sua bandida. E eu vou arrancar ele da tua cabeça com mão.

A mãe de santo tentou impedir, mas a Lu não estava sozinha. As primas, cúmplices que só elas, deram uma forcinha. A Marjorie segurou os braços, a Sara, as pernas e Ane ajudou a Lu a arrancar o megahair da Mãe Amáilia. Eu tive pena dela. Mas não me meti, senão, ia sobrar para mim.

Lu: Pronto. Não sobrou um fio de cabelo que não seja dela. Agora, vamos vender esses cabelos. E, depois disso, não vou mais querer ouvir a palavra megahair na minha vida. Eu bato em quem falar isso na minha frente.

Passamos num salão perto do terreiro mesmo e conseguimos uma grana boa nos dois rabos de cabelo que a Lu tinha para vender. Ela passou por outro corte de cabelo, mas, dessa vez, não fez cena.

Lu: Primo, está aqui o dinheiro que você me emprestou.

Ane: Eles pagaram bem pelo cabelo?

Lu: Pagaram. Dei o dinheiro do Adal e ainda fiquei uma graninha boa para mim.

Marjorie: Vamos torrar tudo em cerveja?

Lu: Está maluca?

Sara: Olha que o dinheiro desses cabelos aí pode ser maldito... Não veio desses cabelos da discórdia? Melhor se livrar logo disso.

Lu: É mesmo. Primo, para no primeiro pé-sujo. Vamos gastar todo esse dinheiro com cerveja. E Sara, que não bebe, vai tomar guaraná de verdade. Nada de refrigereco!

E tomamos todas num bar onde o atendente não tinha os dentes do maxilar superior, mas não parava de falar. A princípio, a gente não conseguiu entender nada do que ele falava. Dava uma certa aflição... Mas, depois da quinta garrafa de cerveja, a gente se entendeu muito bem. Ele continuou falando, entrava por um ouvido e saía pelo outro, e a gente não fazia mais o menor esforço para entender. Foi divertido.

Bebemos até gastar todo o dinheiro da Lu. Não foi pouco, não...

Ontem, eu tinha acabado de acordar, quando ela me ligou, dizendo que viu o Gladsnelson na televisão, sendo preso.

Adalberto: Sério? Nossa, eles foram rápidos.

Lu: Como assim, Adal? Foi você que fez a denúncia?

Adalberto: Lu, isso não é coisa que se fale por telefone. Topa outra rodada de cerveja com as meninas, mais tarde, para comemorar a Justiça? A gente ainda tem o dinheiro que você me pagou para gastar. Eu quero me desfazer disso.

Lu: Eu vou ligar para as meninas. Nos vemos mais tarde, então.

Adalberto: Perfeito. Até mais tarde.

Ô, dinheiro maldito bom...

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