terça-feira, 30 de julho de 2013

Depois da viagem para Cabo Frio, com direito a dueto irritante de "Faroeste caboclo", Ane e Lu acabam nas mãos dos Papas

Passei o feriadão da Jornada Mundial da Juventude em Cabo Frio, com Ane e Lu. Ficamos na casa de praia de uma amiga do Méier, a Danienny. Como estava muito frio e o tempo muito fechado, não fizemos muita coisa, além de comer, encher a cara, conversar e dormir. Mas foi divertido.

Ontem, enquanto nos preparávamos para voltar para o Rio, Ane e Lu foram mais espertas, tomaram uma dose de cachaça e eu, que fui dirigindo e falei que não iria voltar dirigindo, me ferrei.

Adalberto: Vocês sabem o que significa isso?

Lu: Que a gente não pode voltar para casa dirigindo.

Ane: Por causa da blitz da Lei Seca.

Adalberto: Não. Significa que vocês são duas falsas, que não valem nada.

Lu: Vamos logo, garoto. Entra nesse carro!

Voltei bufando na estrada. Mas só nos primeiros cinco minutos. Depois, já estava rindo das besteiras que elas falavam. De repente, ficou um silêncio. Do nada, elas dormiram. Meia-hora, depois acordaram cheias de energia.

Lu: Liga esse som, Adal.

Adalberto: Está quebrado.

Ane: Como assim? No mês passado, o som do seu carro também estava quebrado. Virou mania quebrar rádio de carro.

Adalberto: Não, é falta de dinheiro mesmo. Esse é o mesmo rádio quebrado do mês passado.

Lu: Pobreza!

Adalberto: Eu sou funcionário público. Ou eu viajava com vocês para Cabo Frio ou eu trocava o rádio do carro.

Ane: Você fala de Cabo Frio, como se fosse Paris.

Lu: É. Está na lama você, hein...

Adalberto: Gente, vamos parar de reclamar? Vocês não querem música? Vamos cantar alguma coisa, como a gente fazia no ônibus da escola?

Ane: Beleza. Faroeste Caboclo.

Adalberto: Ah, não! Vocês sabem muito bem, que eu tenho trauma, porque sou o único ser humano, que nasceu na década de oitenta, que não sabe cantar Faroeste Caboclo. Essa, não vale.

Lu: Coitado. Vamos lá, Ane. "Não tinha medo o tal João de Santo Cristo // Era o que todos diziam quando ele se perdeu // Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda // Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu"...

Adalberto: É sério isso?

Lu e Ane: "Quando criança só pensava em ser bandido // Ainda mais quando um tiro de soldado o pai morreu // Era o terror da sertania onde morava // E na escola até o professor com ele aprendeu"...

Adalberto: Que ódio eu tenho de vocês!

Elas voltaram cantando a viagem inteira. Senti vontade de bater com o carro, só de raiva. Mas lembrei que estava com a prestação do seguro atrasada e entubei a cantoria.

Quando a música acabou, já estávamos quase chegando na casa da Ane. Ela era a primeira a ser desovada. Mas fomos surpreendidos por uma figura ilustre.

Ane: Gente, o Papa está ali naquele carro.

Adalberto: Sério?

Lu: É mesmo, Adal. Ai, que lindo, ele acenou para a gente. Quero chorar, estou arrependida de ter ido para Cabo Frio, esse Papa é um fofo.

Ane: Sabe que eu também me arrependi de ter feito essa viagem?

Adalberto: Só porque viram o Papa passando de carro? Por ter me irritado a viagem inteira, cantando Faroeste Caboclo vocês não se arrependem. Engraçado isso.

Lu: Adal, não joga na nossa cara isso, eu estou querendo chorar. Vai atrás do Papa!

Ane: Por favor, primo, vai atrás do Papa. Ele vai embora hoje. Segue aquele carro, por favor!

Adalberto: Não! De jeito nenhum!

Lu: Então, você não vai para o céu! Vai arder no mármore do inferno.

Manobrei o carro na hora. Quase que bati num Fiat 147. Deus me livre desse mico. Ninguém merece bater num carro caquético, que nem é mais fabricado.

Fui a mais de 100 quilômetros por hora, tomei todas as multas possíveis e imagináveis, mas consegui alcançar o carro do Papa. Ufa!

Apertei a buzina com tudo para chamar a atenção de Francisco.

Papa fake: Pô, para que isso, brother? Não está vendo que o sinal está fechado?

Adalberto: Ué, você não é o Papa?

Papa fake: Não viaja, brother. Estou voltando de uma festa à fantasia. O Papa foi embora ontem, à noite. A essa hora, ele já deve estar em casa dando uma descansada. O bagulho aqui foi doido, o cara não parou um minuto.

Lu: Sabia que é muita falta de respeito ir para uma festa à fantasia de Papa, depois de tudo o que o Papa fez aqui no Rio?

Ane: É mesmo. Você não tem escrúpulos nenhum.

Papa fake. Eu sei disso. Eu e o meu amigo aqui também não tem. Olha só, ele também está fantasiado de Papa. Vocês estão a fim de ser as nossas freirinhas? A gente põe vocês para rezar. Vamos?

Surtei.

Adalberto: Como assim? Vocês estão pensando que estão falando com quem? As minhas primas...

Lu: Tchau, Adal, a gente vai com eles.

Ane: Obrigadinha pela carona. Bye bye.

E saíram do meu carro, entraram no papamóvel e foram embora.

Adalberto: As minhas primas são umas safadas! Não valem nada!

Papa fake: Agora, já era. Ajoelhou, tem que rezar.

Queria xingar, dar um tiro, cuspir, bater, acabar com aqueles dois papinhas de merda. Mas só ia piorar a situação. Fiz o que pude.

Adalberto: Vão com Deus.

E com um sinal de bênção no ar, como o Papa faz para os seus fiéis, cumpri meu papel cristão.

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