Ontem, eu estava tirando o soninho de depois do almoço no sofá da sala, quando
fui acordado por alguém que abria a porta da minha casa. Era a Sara, aos prantos, com a Lu.
Acordei completamente abobalhado, sem saber se, o que estava acontecendo, era sonho ou
realidade.
Adalberto: São vocês mesmas?
Lu: Adal, a Sara está
arrasada por causa de uma besteira.
Sara: Não é besteira.
Lu: É, sim.
Adalberto: É ou não é besteira, gente? Decide, porque se for, eu vou ficar muito
chateado. Eu estava dormindo.
Lu: Para mim, é.
Sara: Porque você não tem filhos. Primo, você acredita que os trigêmeos
me disseram que querem sair de casa?
Adalberto: Como assim? Eles ainda vão fazer dois anos no mês que vem e já querem se emancipar? Quem eles pensam que são?
Sara: Pois é, não sei.
Lu: Adal, não foi bem assim.
Eu estava lá na casa dela e vi tudo. Sabe aquela vizinha dela, que é uma chata,
que não deixa o filho fazer nada?
Adalberto: A Marluce?
Lu: Isso. Essa chata foi chorar lá com a Sara. Ela brigou com o filho e sabe o
que ele disse? Que não vê a hora de trabalhar para poder sair de casa. Detalhe:
o garoto tem sete anos.
Adalberto: A Marluce é
doida, gente. Ninguém aguenta ela.
Lu: Pois é, o marido abandonou na porta do altar não foi à toa.
Adalberto: Mas o que a Sara tem a ver com isso?
Sara: Eu fui no quartinho dos meninos e perguntei para eles: “vocês
querem sair de casa?”. E sabe o que eles fizeram?
Lu: Levantaram os dedos. Os três. O Gero era o mais empolgado, coitado. Todo animado, dizendo ”eu,
mamãe, eu, mamãe!”. Muito lindinho.
E a Sara chorou ainda mais, ouvindo a Lu lembrar a situação. Que situação!
Adalberto: Você ficou chateada com isso, Sarita?
Sara: Fiquei, Adal. Ninguém
está preparada para ouvir isso de filho. Eu saí de casa para casar. Não fiz como
vocês, que saíram para morar sozinhos.
Adalberto: Amore, não passou pela sua cabeça que eles só queriam sair de
casa naquele momento? Ir à pracinha, brincar no play, sei lá?
Lu: Eu tentei falar isso para ela, mas não tive como. A Sara não parava
de soluçar, de tanto que chorava, parecia que ia ter um treco. E quando eu abria a minha boca, ela dizia que
não queria saber de nada, que precisava falar com você.
Que lindo! Minhas primas sempre lembram de mim nas horas mais difíceis.
Adalberto: Vamos fazer o seguinte: vamos lá na sua casa, que eu vou
conversar com eles.
Não adiantava tentar colocar na cabeça da Sara, que ela tinha surtado sem a menor necessidade. Me despenquei com elas para Niterói, para falar com os trigêmeos.
E foi só botarmos o pé dentro da casa dela, que as crianças começaram a
gritar “mamãe, mamãe!”, todos sorrindentes. Já foi meio caminho andado.
Depois, chamei os três no quarto mais a Sara. Sabe aquela situação, quando os pais descobrem que os filhos
adolescentes estão fumando maconha, e se trancam com eles no quarto para uma
conversa muito séria? Parecia isso. Foi meio patético.
Adalberto: Olham bem no olho do dindo e me respondam uma coisa: vocês
querem ir embora dessa casa e deixar a mamãe e o papai sozinhos aqui para
sempre?
Gero, Lina e Liana: Não, dindo.
Adalberto: Obrigado, meus lindos. A mamãe vai falar com vocês agora.
Saí do quarto e deixei a Sara
sozinha com as crianças. Quinze minutos depois, eles saíram felizes e
contentes.
Sara: Adal, a gente vai
descer para brincar no parquinho. Vamos com a gente? Vamos Lu?
Topamos na hora. O parquinho do prédio da Sara é ótimo. Tem aqueles carrinhos carrinhos bate-bate, como dos parques de diversão, que eu adoro. Liguei
para a Marjorie e para a Ane, que chegaram logo em seguida.
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