No fim de semana passado, eu Ane, Marjorie, Lu e Sara fomos para o sítio de uma amiga da Lu, em Itaguaí. O Oswaldo estava viajando a trabalho e a Sara foi a viagem toda reclamando:
Sara: Acho um absurdo a empresa mandar um funcionário viajar com a mulher grávida em casa.
Marjorie: Prima, eles nem pensaram nisso.
Adalberto: É. Não é nada pessoal.
Sara: É, mas eles deviam pensar. Deviam pensar, sim. Eu, hein... Vê se pode uma coisa dessas.
Lu: Adal, para o carro. Quero comprar biscoito polvilho.
Essa devia ser a milésima vez que eu parava o carro pra comprar besteira de beira de estrada. Teve bananada, pipoca de saco rosa (que eu amo!), goiabada, sorvete, docinho, casquinha, pele...
Adalberto: Porra, eu vou chegar com obesidade mórbida nesse sítio. Não vou nem poder enrar na piscina.
Ane: É só você não comer.
Lu: É bom que sobra mais pra gente.
Sara: Eu não aguento comer mais nada. Já comi muita besteira.
Marjorie: Eu queria uma maçãzinha, primo. Será que não rola?
Adalberto: Se você vir algum vendedor, me fala que eu par o carro.
Marjorie: Tá.
A uns cinco quarteirões do sítio, já dentro da cidade de Itaguaí, a Marjorie viu um vendedor de maçã:
Marjorie: Primo, para aqui. Tem um vendedor de fruta ali na frente.
Adalberto: Eu não paro mais em lugar nenhum. Tô com uma dor de barriga aqui, que é mais forte do que eu.
Lu: Ah, garoto, para aqui rapidinho.
Adalberto: Não. Vocês podem vir andando. É pertinho. Olha, é melhor vocês não pedirem pra eu parar, não, hein. Ou a merda vai feder aqui nesse carro.
Sara: Então, não para, primo.
Ane: Vai na fé.
Lu: Eu também tô com dor de barriga. Mas, diferente do Flamengo, eu tô com freio.
Adalberto: Eu tô sem freio; quase me cagando aqui.
Ane: Ai, que cheiro podre é esse?
Adalberto: Um indício da minha grade necessidade.
Ou seja, eu peidei.
Marjorie: Corre, Adal, pelamordedeus!
Ane: Gente, não tô conseguindo respirar.
A Lu ainda demorou uns dois minutos para tirar a chave da bolsa, o que me deixou apreensivo:
Adalberto: Gente, eu tô achando que as Olimpíadas de 2016 vão acontecer antes da Lu enconrar a chave desse portão.
Marjorie: Pior é que, agora, também tô sentidno vontade de ir ao banheiro.
Ane: Eu também.
Sara: Eu também.
Lu: Achei!
Fui correndo tão rápido pro banheiro, que qualquer Claudinei Quirino perdia fácil pra mim nessa disputa. Quando acabei, fui dar a notícia desagradável:
Adalberto: Gente, o banheiro tá sem água. Ninguém entra lá, por favor.
Marjorie: Como assim? Eu também tô aqui no desespero já.
Adalberto: Bom, quem avisa amigo é.
Sara: Primo, eu também preciso muito ir a banheiro. Esqueceu que eu como por quatro agora?
Marjorie: Quatro?
Sara: Eu e mais três, ué.
Marjorie: Ah...
Ane: Eu também não tô me aguentando.
Lu: Eu ainda consigo segurar um pouco.
Adalberto: Meninas, fiquem à vontade. Eu fiz a minha parte.
Marjorie: Putz, e fez muito mal a sua parte, hein, primo. Gente, o banheiro tá interditado. Não tem a menor condição da gente entrar lá. O Adal cagou no pau.
Adalberto: No pau, não. Caguei no vaso mesmo.
Ane: Gente, que furada esse nossa vinda pra cá, hein.
Marjorie: Lu, a sua amiga não falou nada, que aqui costuma faltar água?
Lu: Não, gente. Ela emprestou a chave da casa, o que já é muito, né?
Adalberto: Ficar numa casa sem banheiro é a mesma coisa que ficar debaixo da ponte.
Sara: Também acho.
Ane: Gente, banheiro é umas das coisas mais importantes de uma casa.
Marjorie: Lu, você devia ter visto isso.
Lu: Gente, se vocês não estão satisfeitos, pode ir embora.
Marjorie: Tá bom. Vamobora, Adal?
Adalberto: Como assim?
Ane: A gente precisa cagar. Não dá pra ficar aqui.
Adalberto: Lu, você vai com a gente?
Lu: Não. Mas pode ir. Eu pego um ônibus.
Adalberto: Ah, não. Você veio com a gente, vai voltar com a gente.
Marjorie: Adal, eu concordo com você. Mas dentro de uma situação normal. O problema é que, aqui, tá todo mundo sem freio.
Lu: Menos eu.
Ane: Então, tchau, meu bem.
Lu: Tchau, ué. Ainda não foram.
Adalberto: Você vai ficar chateada comigo?
Lu: Claro que não. Chateada é pouco. Eu tô é puta com você e com essas lambisgoias, que fizeram eu me despencar do Rio pra cá e vão embora, assim, por besteira. Eu podia ter trazido outras pessoas, tá? Mas, não, escolhi vocês. Uma burra que eu sou.
Sara: Lu, a gente não tá indo embora por besteira.
Adalberto: Claro que estão. Bananada, goiabada, sorvete, pipoca de saco rosa e biscoito de polvilho são o quê? Besteira, ué.
Marjorie: Adal, cala a boca.
Eu obedeci. Uma mulher nervosa e com dor de barriga é pior do que mulher de bigode.
Paramos num sítio vizinho pra implorar, pelo menos, pra Sara, que tá grávida, um banheiro. O lugar não poderia ter sido melhor. Parece que foi escolhido a dedo. Estava tendo um churrasco de formatura de Medicina de uma faculdade, que eu já me esqueci o nome.
Bebemos, comemos, cagamos, dançamos, tomamos banho de piscina, rimos, cagamos mais, dormimos... Ah, foi muito bom.
Horas depois, lembramos de ligar pra Lu. Coitada. devia estar passando mó aperto lá no sítio fedido e sem água.
Adalberto: Amore, a gente veio parar aqui no sítio ao lado. Tá rolando mó festa aqui. Vem pra cá.
Lu: Vou, não, primo. Brigada.
A voz dela estava muito boa. A Lu negando ir a um churrasco, cheio de gente... Achei estranho. Mas já estava tão bêbado que não pude dar maior importância ao caso.
A gente acabou ficando o sábado inteiro por lá mesmo e só voltamos pra casa no domingo, depois do almoço. Tentamos ligar pra Lu, mas o celular dela estava fora da área. Fomos ao sítio em que ela estava, mas parecia não ter ninguém.
Ane: Ela, com certeza, foi embora ontem mesmo. A Lu é orgulhosa, Adal. Ela não ia contar pra gente esse fracasso.
Realmente, não. Até porque, de fracasso, não teve nada.
Na segunda, quando consegui falar com ela, fiquei sabendo de tudo:
Lu: O número da casa estava meio apagado na chave. Eu ache que era 37, mas era 87.
Adalberto: Não acredito. E como você descobriu?
Lu: Fui pro meio da rua pra saber se a falta d'água era geral ou se era só lá no sítio.
Adalberto: E aí você descobriu que estava no sítio errado.
Lu: Por um Deus grego, o Indiomar.
Adalberto: Sério? E aí?
Lu: Passamos o fim de semana inteiro juntos. O sítio da minha amiga é uma maravilha. Tem tudo o que você pode imaginar. Até tirolesa tinha. Amei. Aproveitei pra fazer minha lua-de-mel. Agora, só falta casar.
Adalberto: E a gente lá no churrasco de uns formandos de Medicina, achando que você estava passando o maior perrengue...
Lu: Tadinhos. Enquantos vocês se esbaldavam com a carne dos médicos, o Indiomar brincava de médico com a MINHA carne.
Adalberto: Ah, sua vaquinha!
Lu: Viu que, comigo, não tem erro, né?
É... Essa, sim, cagou no pau. E sem freio.
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