Hoje, o carinha que a Marjorie tá saindo, o Silvérico, apareceu lá no trabalho pra levar um presente pra eu entregar pra ela. Esse cara é muito estranho. Desde que descobriu que a minha prima tem uma graninha boa, faz de tudo pra mostrar que é O CARA pra se casar. Agora, tá fazendo ceninha pra eu tirar a má impressão que ele me passa. Ele sabe que o meu santo não bate com o dele. Enfim, saí cedo do trabalho pra almoçar com a Marjorie e a Sara, no Baixo Méier, e entregar essa porra desse presente:
Sara: Tô adorando estar grávida. Só assim, vocês vêm almoçar comigo no Baixo Méier sem reclamar.
Marjorie: A uma grávida não se discorda!
Adalberto: Nem sempre.
Sara: Lá vem você, primo...
Adalberto: Ué, tô falando o que eu acho.
Marjorie: Esse garoto é muito chato, prima. Não liga, não. Eu concordo com tudo que você falar. Assino embaixo mesmo.
Sara: É? Que bom, prima. Vou precisar do seu apoio mesmo. Ainda mais agora, que eu tomei a decisão de me separar do Oswaldo.
Adalberto: Como assim? Que palhaçada é essa? Eu não concordo com isso.
Marjorie: Nem eu. Tá maluca?
Sara: Você acabou de dizer que a uma grávida não se discorda.
Marjorie: Mas pra toda regra há uma exceção.
Sara: Hoje eu fui fazer a ultra pra saber o sexo do bebês. Quando eu saí da clínica e liguei pro Oswaldo, ele disse que estava muito ocupado e não podia falar. Ouseja, ele não tá nem aí pra mim nem pros filhos dele. Não quero isso pra mim, não. Cansei.
Adalberto: Sarita, qual é o sexo dos meus afilhados?
Marjorie: Tô morrendo de curiosidade. Esquece o Oswaldo agora. Depois, a gente volta nele.
Sara: Um menino e duas meninas. Vocês têm sugestão de nome?
Adalberto: Claro! Vinícius, Laura e Beatriz.
Sara: Sem graça! Não vou botar os nomes dos filhos da Fátima Bernardes nos meus filhos.
Marjorie: Prima, eu vou ser a madrinha de qual?
Sara: Não sei. Ainda vou ver isso. Primeiro, eu tenho que arrumar um padrasto pra me ajudar a criar os meus filhos. Sozinha não dá. Eu não trabalho.
Marjorie: Ai, prima, homem é tudo igual. Eu tô saindo com um carinha... o Adal conhece, o Silvérico. O cara me liga de manhã pra me dar bom dia, de tarde pra dizer que tá com saudade e de noite pra me dar boa noite. Eu tô adorando. Mas sei que, homem que ama, é assim no começo. Daqui a pouco isso acaba.
Daqui a pouco, nada. Como assim a minha prima tá adorando os cortejos baratos desse babaca interesseiro?
Adalberto: Você tá gostando mesmo desse cara?
Marjorie: Adal... Tô. Tem coisas nele que me irritam? Tem. Ele só transa comigo de meia, por exemplo. Diz que é por causa do ar-condicionado. Sente frio nos pés. Mas me irrita.
Foi a deixa que eu precisava.
Adalberto: Ele não te falou que tem seis dedos no pé esquerdo?
Marjorie: Mentira! O Silvérico tem seis dedos no pé?
Adalberto: Tem.
Mentira, claro.
Sara: Como é que você sabe, Adal?
Adalberto: Ele conversou comigo e pediu a minha opinião sobre esse assunto.
Marjorie: E aí?
Adalberto: Eu disse pra ele te falar a verdade.
Marjorie: E ele?
Adalberto: Ele disse que ia te falar, ué. Pelo tempo, achei que você já soubesse.
Sara: Gente, mas qual é o problema em ter seis dedos no pé? Isso te incomoda, prima?
Às vezes, parece que a Sara se faz de boba. Claro que uma besteira como essa incomoda a Marjorie. Aliás, não só incomoda, como a deixa neurastênica.
Eu lembro que, quando o pessoal do Pânico na TV começou com aquela história de que a Cicarelli tinha seis dedos num dos pés, ela disse que a beleza da modelo tinha ido pro saco. Pra mim, com um, dois até três dedos a mais no pé a Cicarelli continua sendo uma das mulheres mais lindas do mundo.
Marjorie: Ai, brochei total.
Adalberto: Ah, prima, dá uma chance pro cara. Ele só tem seis dedos no pé esquerdo.
Marjorie: Só seis dedos no pé esquerdo? Esse cara é um babaca, um ridículo, um fraco, um pequeno, um menor, um baixo, um indiferente, um escroto, um animal, um canalha, um covarde, um otário, um imbecil...
E assim, eu consegui queimar o filme do Silvérico com a Marjorie. Mas precisava reconquistar o meu espacinho no céu.
Sara: Gente, eu tô com sono. Vou andando pra casa.
Marjorie: Já?
Sara: Tô cansada, prima.
Adalberto: Quer que eu te leve?
Sara: Não, primo. Fica aí. Eu tô bem.
Adalberto: Tá mesmo?
Sara: Tô. Prestes a terminar o meu casamento, mas tô tranquila. Deus sabe o que faz.
E eu também.
Adalberto: Olha só, a gente falou tanto, que eu acabei esquecendo de te dar isso aqui.
Sara: Que embrulho é esse?
Marjorie: Eu tô pra te perguntar desde a hora que você chegou.
Adalberto: O Oswaldo foi fazer um serviço lá perto do meu trabalho e me entregou esse presente. Pediu pra eu te entregar, porque sabia que eu vinha me encontrar com você, sua bobona.
Sara: Sério?
Adalberto: Sério.
Marjorie: Ai, que lindo, prima. Viu? Ele te ama.
Sara: Mas por que você não falou antes, Adal? Eu já ia me separar do Oswaldo, tadinho...
Marjorie: É! Não entendi nada. Primo, você já foi melhor, hein. Essa de você só me contar hoje, que o Silvérico tem seis dedos no pé e de esquecer de dar o presente do Oswaldo pra Sarinha foram duas grandes falhas. que papel, hein...
Sara: Concordo.
Eu, não. Aliás, mais uma vez, não concordei com a grávida.
Grandes falhas... Grandes sacadas! Isso, sim!
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