sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Confusão com participação especial de Carla Perez

Num dia como qualquer outro, uma confusão tomou conta do salão de beleza onde Lu trabalha. A princípio, ela não acreditou que a barulheira que ouvira da sala de estética, no segundo andar da unidade, acontecia ali dentro mesmo. Era um tal de “eu vou te matar” de um lado, “eu vou dar na tua cara” do outro e, no meio disso tudo, um monte de impropérios criativos, sempre precedidos pelo pronome feminino sua, como “sua vagaranha”, “sua prostiputa”, “sua ariranha”, “sua arrombanhada”... Arrombanhada? Esse eu, realmente, nunca tinha ouvido falar até então. E nem consigo imaginar qual a palavra que se aglutinou com arrombada. Enfim, acho que a Lu se confundiu, quando me contou a história. Sem problemas.

Curisosa que só, Lu desceu as escadas do salão tão apressadamente que tropeçou num dos degraus e caiu nos braços de ninguém menos (como ela fez questão de me contar) que... Carla Perez, a ex-Loira do Tchan. Pra quem não conhece e nem tem obrigação disso!, loira ela continua sendo, acho que até mais do que quando era dançarina, mas o Tchan – grupo de música baiana do qual ela foi integrante – isso, sim, ficou no passado. Foi extinto. Dizem as más (nesse caso, eu acho péssimas) línguas que o grupo retornou com uma nova formação. Blurgt!

Enfim, ao cair nos braços de Carla, ela serviu como um escudo para a ex-Loira e recebeu uma forte pancada de algo parecido com um frasco de creme de abacate na cabeça. No momento de raiva, acho que o olfato de Lu ficou relegado ao segundo plano, porque até agora, se eu perguntar, ela não lembra da fragrância do bendito creme.

Suely: Sua arrombanhada!

Lu: Ah, você me sujou to-da! Eu vou te matar, sua cafetina!

Carla Perez: Eu te ajudo, amiga!

Suely: Ah, é dois contra um? Ok. Vou chamar as minhas colega tudo lá da Portelinha.

A palavra Portelinha não soou nada bem naquele recinto de madames. A histeria foi ensurdecedora. Um corre-corre que não dava em lugar algum. Lu acredita que Suely seja mulher de algum traficante do morro da Portelinha, porque, segundo ela, Suely não tem classe, não fala o português corretamente e, depois dessa... Eu acho isso puro julgamento de valor com fundamentos rasos. E também acho que Lu não é a melhor das minhas primas pra falar assim de alguém, mas...

Lu: Carla, Carla!

Carla Perez: Oi?

Lu: Vamos lá pra minha sala!

Carla Perez: Como assim, menina, eu quero sair daqui agora...

Mas ouviu a voz de Suely e mais um monte de outras mulheres furiosas.

Suely e amigas: Erez, erez, erez, eu vou matar a Carla Perez! Erez, erez, erez, eu vou matar a Carla Perez!

Carla Perez: Vamos subir!

Lu: Bora!

Na sala depilação:

Carla Perez: Ai, obrigada, me abraça – e chora copiosamente nos braços de Lu.

Lu: Para de chorar! Você é ou não é uma artista?

Carla não conseguiu perceber sentido na pergunta de Lu.

Carla Perez: Qual o seu nome?

Lu: Lu. E o seu?

Carla Perez: Ué, Carla.

Lu: Ah, é Carla mesmo?

Carla Perez: É.

Lu: Sei lá, artista é uma incógnita. A gente nunca sabe...

Carla Perez: Incóg o quê?

Lu: Incógnita, mistério, ah, sei lá...

Carla Perez: Eu não sou mistério nenhum, eu sou uma idiota. Fui negar dar autógrafo pra mulher, só porque tinha acabado de fazer a unha, agora, tô com a unha toda quebrada e to prestes a ser morta.

Lu: Bate na madeira três vezes! Deus é pai, não é padrasto. E tem mais, nós vamos sair vivas daqui e vamos botar essa vadia na cadeia. Que é o que ela merece.

Carla Perez: Será? Tô com medo.

Lu: Ih, Carla, tem alguém subindo aqui. Vem por aqui.

Dois dias depois, ia ao ar o programa da Marleninha Dal. Eu, Marjorie e Ane fomos assiti-lo na casa da Sara.

Carla Perez: Tudo isso por causa de um autógrafo...

Lu: Tudo isso porque quelazinha não sabe se colocar no lugar da celebridade. Celebridade também faz unha e toma cuidado pra não borrar. Celebridade faz cabelo, faz xixi, faz coco...

Marleninha: (risos) Ai, ai, Carlinha, essa sua amiga é muito espirituosa.

Carla Perez ficou sem ter o que falar. Acho eu que ela não teve coragem de dizer que a Lu não era sua amiga, após ter recebido uma grande ajuda dela.

Lu: Ah, palhaçada. Marleninha. Se fosse comigo, essa mulher já estava morta. Atrás das grades é muito pouco pra ela.

Carla Perez: Eu sou contra a violência. Acho que na cadeia ela vai aprender a lição. Queria aproveitar deixar o meu telefone de contato posso?

Na casa da Sara:

Ane: Tava demorando...

Sara: Ela não precisava se expor tanto. Assim, vão acabar descobrindo a nossa...

Marjorie: Cala a boaca!

Sara: O que foi?

Marjorie: Sei lá, fico incucada. Já disse que o nosso segredo não deve ser revelado nem pras nossas sombras.

Adalberto: É, pode parecer loucura, mas eu concordo com a Marjorie, Sarinha.

Ane: Com a priminha favorita ele sempre concorda...

Adalberto: Olha ali, acho que a Suely, a tal que agrediu a ex-Loira do Tchan e a nossa prima, ta falando ao telefone ao vivo...

No programa da Marleninha:

Suely (ao telefone): ...foi por isso que eu dei na cara dela, Marleninha, ela mereceu!

Marleninha: Não, não, Suely. Não é com violência que se resolvem as coisas, não. A Carla, antes de ser artista, é um ser-humano e merece respeito como um ser-humano. Eu to te dando esse espaço no meu programa e exijo que você peça desculpas a ela e a Lu.

Suely (ao telefone): Pra Carla eu posso até pedir, contanto que ela me dê o autógrafo que eu pedi. Agora, pra essazinha aí...

Lu: Essazinha é o teu passado, sua oportunista. Fez esse carnaval todo, só pra aparecer na televisão.

Suely (ao telefone): E você, pelo visto, também tá adorando os seus quinze minutos de fama. Pena que quando você sair daí, eles acabam.

Ao se dar conta de que Suely tocou num ponto em que a deixa frágil, Lu embranqueceu e sai correndo do estúdio.

Lu: Fama? Aaaaaaaaaaaah!

Marleninha: Menina, vem cá!

Suely (ao telefone): Vai, lá, sua quizumbeira!

Carla Perez: Lu, o que aconteceu? Será que ta pegando fogo?

Marleninha: Produção, tira a ligação da Suely do ar.

Carla Perez: Tá pegando Fogo no estúdio! Aaaaaaaaaaaaaaah!

Carla Perez também saiu correndo, apavorada do estúdio do programa de Marleninha Dal, alarmando o local com a notícia de que um incêndio acontecia. A apresentadora, sem ter o que dizer, no meio da correria da equipe de produção, tirou sua camisa e também correu para fora do estúdio com as mãos no peito.

Sara: Meu Deus do céu, não to acreditando nisso...

Ane, impetuosamente, desliga a televisão.

Ane: Vamo pra rua beber, porque ver televisão tá foda.

Marjorie: Adoro!

Adalberto: Partiu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário