segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A escova marroquina e o peguete judeu

Outro dia, fui à casa da Ane, no Humaitá, porque ela precisava tirar uma dúvida muito séria comigo.

Ane: Primo, tô querendo fazer uma escova marroquina no meu cabelo.

Adalberto: Ah, legal.

Ane: Ai, que bom que você acha legal, porque todo mundo que eu perguntei não entende dessas coisas.

Adalberto: Mas eu também não entendo dessas coisas.

Ane: Então, por que você disse que é legal?

Adalberto: Achei legal a sua iniciativa de querer mudar, dar uma repaginada, como diz a Marjorie.

Ane: Eu tô com medo.

Adalberto: De quê?

Ane: Do meu cabelo cair.

Adalberto: Então, não faz esse negócio. De mais a mais, o seu cabelo já é liso.

Ane: É liso, mas não é escorrido.

Adalberto: Então, faz, ué.

Ane: Mas não é só isso.

Adalberto: É o que, então?

Ane: O Alceu.

Adalberto: Alceu é o carinha que você conheceu lá no forró da Casa Rosa no fim de semana passado?

Ane: Isso. Ele é judeu.

Adalberto: Ah, tá explicado. Além do medo de perder o cabelo com a escova marroquina, você tá com receio de perder o peguete, porque ele é judeu.

Ane: Será que ele ia entrar em guerra comigo, por causa de uma escova árabe?

Adalberto: Olha, prima, eu entendo o teu questionamento, mas ele é tão importante assim?

Ane: Sei lá, eu vejo que ele é diferente dos outros babacas que eu conheci.

Adalberto: Mas você sempre me dizia a mesma coisa desses outros babacas que você conheceu.

Ane: Eu sei... Mas ele é diferente, sabe?

Adalberto: Talvez.

Ane: Então?

Adalberto: Então, o quê?

Ane: O que é que eu faço, primo?

Adalberto: Faz uma escova progressiva, inteligente, definitiva, chocolate, sei lá, qualquer coisa menos marroquina. Não tem escova israelense, não?

Ane: Não. E a Lu só conseguiu desconto no salão que ela trabalha pra eu fazer a marroquina.

Adalberto: Então, faz a marroquina, mas não conta pra ele.

Ane: Como assim não contar pra ele? Primo, eu acho que a base de um relacionamento é o respeito e a confiança.

Adalberto: Relacionamento? Você já tá se vendo casada com o carinha que você conheceu num forró há menos de duas semanas?

Ane: Não. Mas ele pode virar meu namorado um dia e, quem sabe, meu marido. E essa coisa de que conheceu aqui ou ali não tem nada a ver.

Adalberto: Eu sei que não. A minha mãe conheceu o meu pai na fila de um banco e eles estão casados até hoje.

Ane: Eu conto a verdade pro Alceu, então?

Adalberto: Fala que você fez uma escova. E ponto. Omite o resto.

Ane: Sabe de uma coisa, eu acho que eu não fazer escova porra nenhuma. Vou continuar usando o secador mesmo.

Adalberto: Faz isso. Melhor.

Ane: Não vou destruir o meu relacionamento, que tá começando tão bem.

Quinze dias depois, ela descobriu que o cara era casado. Ela ficou arrasada, chorou copiosamente seis dias e seis noite. Só não sei se o motivo de tanto sofrimento foi a perda do peguete ou da escova marroquina.

Eu jamais perguntei.

4 comentários:

  1. Criatividade ímpar!! ADOREI!! Tô me vendo nesses diálogos de mulher com TPM. rsrsrs
    Beijos
    Lu
    PS: não sou a Lu dos posts. rs

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  2. me inspirei em 87,9% das minhas amigas pra escrever esse.

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  3. às vezes me sinto ridícula, por ser mulher!!!
    bom mesmo é ser homem e carioca.

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