Eu estava em casa, vendo programa trash de sábado, da TV aberta, e me divertindo pacas, quando a Marjorie me ligou.
Marjorie: Eu quero cortar os meus pulsos.
Ane: Eu também quero cortar.
Lu: Eu também.
Adalberto: O que é que essas loucas tão fazendo aí na tua casa?
Marjorie: Tá todo mundo aqui querendo cortas os pulsos, ué.
Adalberto: Para de falar besteira.
Ane: Hoje é Dia dos Namorados e ninguém, aqui, deu pra ninguém.
Adalberto: E daí? Vocês se prendem muito a datas.
Marjorie: Lógico. Na Páscoa, eu como chocolate. No Dia dos Namorados, eu quero ser comida.
A Marjorie estava meio alegre. Elas deviam estar bebendo.
Adalberto: Tudo tem sua hora, lindona.
Marjorie: Olha, eu só não tô com inveja da Sara, porque ela é minha prima.
Ane: Eu só não tô com inveja da Sara, porque o Oswaldo é feio pra caralho.
Lu: Eu tô com inveja da Sara.
Elas, com certeza, estavam bebendo! E bebendo muito! Fui pra lá. Antes, passei numa livraria. Quando cheguei, elas já estavam na mão do palhaço:
Adalberto: Minhas coisas mais lindas e encalhadas desse mundo!
Marjorie: Para.
Ane: Não fala isso.
Lu: Vai se fuder.
Adalberto: Trouxe um presente pras três.
Marjorie: Um pras três?
Ane: Porra!
Lu: Que pobreza!
Adalberto: É um livro. Depois que a gente lê, ele fica na nossa cabecinha pra vida toda.
Marjorie: Me dá isso aqui.
Enquanto ela abria, eu senti um frio na espinha:
Marjorie: "Como dormir sozinha numa cama de casal".
Adalberto: Theo Pauline Nestor!
Marjorie: Quer apanhar, senhor Adalberto?
Ane: Por mim, pode jogar fora.
Lu: Por mim, ele enfia no cu.
Adalberto: Que agressividade.
Marjorie: Que maldade a sua.
Ane: Até porque dormir sozinha em cama de casal é a coisa mais normal do mundo pra gente.
Adalberto: É verdade. Mas na livraria não tinha nada parecido com "Como fazer dormir sozinha numa cama de casal sem criar expectativas".
Ane: Você tá muito mal hoje.
Adalberto: Mal se eu desse pra Sara o "Por que os homens mentem e as mulheres choram", do Allan e da Barbara Pease.
Marjorie: Fica falando o nome dos autores...
Ane: Vou botar o nome de todos eles na boca do sapo.
Lu: Vou botar o node deles na macumba!
Adalberto: Coitados.
Lu: Coitada de mim.
Marjorie: Pega lá mais uma cerveja pra gente no congelador, Adal.
Adalberto: Lógico.
E foi assim a noite inteira. Cerveja regada a comentários das minhas bêbedas sobre o Dia dos Namorados. Até que, por volta da uma e meia da manhã, a Lu teve uma ideia que as outras acharam brilhante:
Lu: Vou fazer xixi num saco e vou jogar no primeiro casal feliz que passar lá embaixo.
Marjorie: Apoiada.
Ane: Também quero!
Adalberto: Não, não, não!
Lu: Sim, sim, sim!
Adalberto: Você não vai fazer isso.
Ane: Eu, hein...
Marjorie: Deixa ela, Adal.
Lu: Por que é que eu não vou fazer isso.
Adalberto: Porque já passou de meia-noite e hoje não é mais Dia dos Namorados.
Marjorie: Putz.
Ane: Que merda.
Lu: Fudeu. E agora?
Adalberto: Agora já é Dia de Santo Antônio, ué.
Marjorie: É mesmo!
Adalberto: E se eu fosse vocês, ia pra cama dormir, pra acordar bem cedinho, ir pra Paróquia de Santo Antônio e pedir pra que, no próximo ano, vocês já estejam dormindo de conchinha na cama de casal.
E não é que deu certo? Eu só queria frustrar o plano da Lu em jogar mijo num casal feliz. Mas soube pela Sara que as três acordaram bem cedinho e foram com ressaca e salto alto pra Paróquia de Santo Antônio. E segundo a Sara, elas voltaram cheias de esperança. Nada como um dia após o outro.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário