quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O passado e o marido da amiga de infância que condenam

Num domingo chuvoso, desses que não tem nada pra se fazer, fui pra casa da Sara, no Méier, pra passar a tarde com ela. O Oswaldo tinha ido almoçar com a mãe e ela se fingiu de doente pra não acompanhá-lo, porque não estava com saco de aturar a sogra fofoqueira. Ficamos vendo o vídeo dos 15 anos da filha da vizinha dela e morrendo de rir da breguice alheia:

Sara: Olha a dona Miloca! Lembra dela, Adal?

Adalberto: Gente, como ela tá diferente!

Sara: Como ela tá acabada, né?

Adalberto: Aquele ali é o Jaiminho?

Sara: Cadê?

Adalberto: Volta um pouquinho.

Sara: Ai, lá vem você me desafiar. Eu não sei mexer direito nesses controles remotos...

Adalberto: Me dá aqui... Ih, olha lá! É o Jaiminho, sim! Meu Deus, como a gente tá bem, em comparação a essa gente!

Sara: Eu falo com as meninas, mas elas não acreditam. A gente tá ótimo. Olha só! Todo mundo gordo, todo mundo acabado...

Adalberto: Lembra que a dona Miloca ficava uma arara quando diziam que a gente era bonito?

Sara: Nossa, ela ficava pra morrer. O povo só podia elogiar o Jaminho e a Edilena.

Adalberto: Que besteira, né? Pobreza de espírito... Ih, o seu Marcílio ainda tá vivo?

Sara: Ih, menino, esse homem aí não morre, não! Vaso ruim não quebra!

Adalberto: Ô homem chato!

Sara: Eu não me esqueço do aniversário da Aline, que eu saí pra levar um pedaço de bolo pro Marcelinho.

Adalberto: Nossa, é verdade... A Aline estava brigada com ele, né?

Sara: Foi! O seu Marcílio achou um abuso eu ter levado bolo pra ele. E não deixou eu entrar mais na festa.

Adalberto: Meu Deus, que memória boa!

Sara: Foi aí que você mandou ele enfiar a festa no olho do cu.

Achei graça de como a Sara lembrava das situações com riqueza de detalhes e de como eu fui uma criança abusada, quando era necessário.

Adalberto: Naquele dia eu fiquei com medo dele.

Sara: Eu pensei que ele fosse te bater.

Adalberto: E cão que ladra morde, por acaso?

Sara: Ridículo, né? A gente era tudo criança. O garoto, tadinho, passava fome, era pobre.

Adalberto: Era? Por quê? Ele se encaminhou na vida? Pensei que ele tivesse virado bandido. Alguém comentou comigo...

Sara: Mas ele virou bandido e já foi assassinado e tudo.

Adalberto: Mentira!

Sara: Isso já tem anos, primo.

Adalberto: A Carminha, então, ficou sozinha, né? A mãe e o pai morreram naquele acidente na Rio-Petrópolis e o irmão, assassinado. Que coisa, né? Será que isso é carma?

Sara: Não sei, Adal. E o pior que eu nem posso mais falar com ela.

Adalberto: Por quê?

Sara: Porque o Mandinho resolveu achar que eu sou piranha, só porque eu tô sempre com as minhas primas, que são solteiras.

Adalberto: E daí? Qual o problema disso?

Sara: Ele acha que mulher casada tem que andar com mulher casada. Aí, pra evitar que a mulher dele cruze com as meninas, ele nem deixa ela falar comigo mais.

Adalberto: Ai, o Mandinho é muito medíocre. Que besteira!

Sara: Ele já tinha proibido ela de falar com a Ivana, porque a ela fumava, lembra?

Adalberto: Lembro!

Sara: Pois é, agora, não deixa ela falar comigo, por que eu sou piranha.

A essa altura, o vídeo já tinha até acabado. Falar mal da vida alheia estava mais divertido e engraçado.

Adalberto: A Carminha, então, tá sem amiga, né?

Sara: Praticamente. Ela só anda com as mulheres dos amigos do Mandinho. Não é a mesma coisa...

Adalberto: Claro que não! Você, ela e a Ivana não se desgrudavam.

Sara: Lembra que a Lu morria de ciúme, quando eu estava com elas. Chegou a dar na cara da Carminha no sopão do Dia das Crianças, no bar do Julinho.

O nosso passado nos condena, mas, pelo menos, é incrivelmente hilário!

Adalberto: Óbvio que lembro. A Marjorie e a Ane também tinham ciúme de você com elas, mas conseguiam disfarçar.

Sara: Uma pena, né?

Adalberto: O quê?

Sara: Perder uma amizade assim, por causa de homem...

Adalberto: É verdade. Mas posso te falar uma coisa, prima, do fundo do meu coração?

Sara: Nossa! Claro que pode!

Adalberto: Pior é se você fosse a fumante!

Um comentário: