Fui ao velório de um ex-vizinho, o tio Altair. A emoção vivida lá seria bem menor, se não tivesse levada as minhas primas.
Marjorie: A filha da Ivone parece mais velha que a mãe. Imensa de gorda, olha lá.
Lu: Cadê?
Marjorie: Ali, do lado da tia Neide.
Adalberto: Minha mãe tá chorando tanto.
Ane: Coitadinha. O tio Altair foi padrinho do casamento dela e do tio Beto, né?
Adalberto: É. Meu pai também adorava ele. Foi ele que arrumou para o meu pai o trabalho na Caixa Econômica.
Sara: Foi, Adal?
Adalberto: Foi.
Sara: É muito sofrido perder alguém tão legal, né?
Lu: É. Mas também é sofrido ter que ver o Leonel com aquela mocreia ali.
Adalberto: Você ainda gosta dele?
Lu: Ele foi o meu primeiro amor. Eu perdi a minha virgindade pra ele.
Adalberto: Quando foi?
Lu: Como assim?
Adalberto: Em que ano?
Lu: Sei lá. Deve ter sido em mil novescentos e...
Ane: Não fala! Esse cachorro vai calcular a idade que você se perdeu.
Pior que era isso mesmo o que eu ia fazer.
Lu: Adalberto Monteiro Neto, desde quando o senhor é bom em Matemática?
Dei um sorriso amarelo, sem graçao...
Lu: Me perdi com 13 anos. Pronto, te poupei de um trabalho.
Fiz cara de que a informação não era relevante. Mas, por dentro, fiquei estarrecido.
Ane: Eu, com 14.
Marjorie: Eu, com 16.
Sara: Ganhei! Eu me perdi com 18.
Lu: Ganhou? Você perdeu foi tempo, minha filha. Quem ganhou fui eu, que estou na atividade há mais tempo.
Adalberto: A vitória pertence aquele que acredita nela, e aquele que acredita nela por mais tempo. Pearl Harbor!
Marjorie: E você ainda acredita, prima?
Sara: No quê?
Marjorie: Na sua vitória.
Sara: Não sei.
Lu: Então, a vitória é minha, porque eu acredito nela.
Ane: A vitória é toda sua, Lu.
Marjorie: Olha ali aquele garotinha.
Sara: Ai, que fofa.
Marjorie: Fofa? Ela descobriu que aquele menino espirra toda vez que alguém põe a mão no nariz dele e não para de maltratar o coitado. Olha lá!
Ane: Que garota maldita!
Sara: Por que é que trazem criança para enterro? Enterro não é lugar de brincadeira.
Lu: É lugar de encontrar as pessoas que a gente não vê há séculos, ver como a gente tá bem melhor do que elas e meter o malho.
Adalberto: Verdade. Só isso que acontece aqui.
Sara: O que será que devem estar falando da gente, hein?
Lu: Que nós somos as mais lindas desse velório e que estamos acompanhadas por um gato, não é, primo?
Adalberto: Eu não tenho dúvidas de que vocês são as mais lindas daqui.
Ane: E eu, de que você é o cara mais gato.
Adalberto: Obrigado, lindona, mas a opinião de vocês tende a ser favorável a mim. E ai de você se não fosse assim.
Marjorie: A concorrência também é favorável a você, meu bem. Olha ali o Júlio César, o Tadeu, o Rogério, o Maicon, o Leonel, o Henrique e o Matias. Esses são os melhores daqui. Agora, você acha que algum deles está melhor do que você?
OK, a concorrência era favorável a mim. Mesmo assim, fiquei com o ego inflado.
Lu: É claro que não.
Sara: Adal, você, definitivamente é o galã desse velório.
Marjorie: E merecia ganhar uma coroa de flores por isso.
Adalberto: Estou fora.
Lu: Gente, eu também estou fora.
Marjorie: Como assim? Ninguém está falando de você.
Lu: A Marissérgia!
Ane: Aquela que descobriu que o marido ficou com você?
Lu: É mas ela acha que ele ficou com você!
Ane: Hã?
Lu: Ele sempre troca os nossos nomes.
Marjorie: Então, quem está em risco aqui é a Ane.
Ane: Ah, mas se ela vier tirar satisfação comigo, eu boto ele de frente com a Lu, e ele vai ter que falar na minha cara se fui eu mesma que fiquei com ele.
Lu: Aí, quem fica em risco sou eu.
Sara: Gente, vamos embora, porque essa história vai feder.
Lu: Vamos, porque só quem pode feder aqui hoje é o defunto!
Adalberto: É melhor. O cortejo já está para sair mesmo... Não quero ficar mais.
Marjorie: A tia Neide vai ficar?
Adalberto: Vai. Ela vai de carona com a tia Gorete e o tio Sonzinho.
Lu: Gente, vamos logo, senão vocês vão ter que arrumar um espaço para mim no caixão do tio Altair. A Marissérgia vai me matar se me vir aqui.
De lá, elas deram a ideia de irmos para um pé sujo beber. As pessoas que foram ao enterro do tio Altair voltaram a ser alvo dos nossos comentários felinos. Só perdoamos a minha mãe, o meu pai e o tio Altair.
E olhe lá!
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Cara hilário! quem não tem história de velório (tirando o defunto) mas ninguém escuta ha menos que seja medium, eu prefiro ser maximum!!! rs
ResponderExcluirCara muito bom te conhecer e os produtos de sua imaginação!
nossa, brigado!
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