sábado, 27 de fevereiro de 2010

O velório do tio Altair, a vida alheia em pauta e o risco iminente

Fui ao velório de um ex-vizinho, o tio Altair. A emoção vivida lá seria bem menor, se não tivesse levada as minhas primas.

Marjorie: A filha da Ivone parece mais velha que a mãe. Imensa de gorda, olha lá.

Lu: Cadê?

Marjorie: Ali, do lado da tia Neide.

Adalberto: Minha mãe tá chorando tanto.

Ane: Coitadinha. O tio Altair foi padrinho do casamento dela e do tio Beto, né?

Adalberto: É. Meu pai também adorava ele. Foi ele que arrumou para o meu pai o trabalho na Caixa Econômica.

Sara: Foi, Adal?

Adalberto: Foi.

Sara: É muito sofrido perder alguém tão legal, né?

Lu: É. Mas também é sofrido ter que ver o Leonel com aquela mocreia ali.

Adalberto: Você ainda gosta dele?

Lu: Ele foi o meu primeiro amor. Eu perdi a minha virgindade pra ele.

Adalberto: Quando foi?

Lu: Como assim?

Adalberto: Em que ano?

Lu: Sei lá. Deve ter sido em mil novescentos e...

Ane: Não fala! Esse cachorro vai calcular a idade que você se perdeu.

Pior que era isso mesmo o que eu ia fazer.

Lu: Adalberto Monteiro Neto, desde quando o senhor é bom em Matemática?

Dei um sorriso amarelo, sem graçao...

Lu: Me perdi com 13 anos. Pronto, te poupei de um trabalho.

Fiz cara de que a informação não era relevante. Mas, por dentro, fiquei estarrecido.

Ane: Eu, com 14.

Marjorie: Eu, com 16.

Sara: Ganhei! Eu me perdi com 18.

Lu: Ganhou? Você perdeu foi tempo, minha filha. Quem ganhou fui eu, que estou na atividade há mais tempo.

Adalberto: A vitória pertence aquele que acredita nela, e aquele que acredita nela por mais tempo. Pearl Harbor!

Marjorie: E você ainda acredita, prima?

Sara: No quê?

Marjorie: Na sua vitória.

Sara: Não sei.

Lu: Então, a vitória é minha, porque eu acredito nela.

Ane: A vitória é toda sua, Lu.

Marjorie: Olha ali aquele garotinha.

Sara: Ai, que fofa.

Marjorie: Fofa? Ela descobriu que aquele menino espirra toda vez que alguém põe a mão no nariz dele e não para de maltratar o coitado. Olha lá!

Ane: Que garota maldita!

Sara: Por que é que trazem criança para enterro? Enterro não é lugar de brincadeira.

Lu: É lugar de encontrar as pessoas que a gente não vê há séculos, ver como a gente tá bem melhor do que elas e meter o malho.

Adalberto: Verdade. Só isso que acontece aqui.

Sara: O que será que devem estar falando da gente, hein?

Lu: Que nós somos as mais lindas desse velório e que estamos acompanhadas por um gato, não é, primo?

Adalberto: Eu não tenho dúvidas de que vocês são as mais lindas daqui.

Ane: E eu, de que você é o cara mais gato.

Adalberto: Obrigado, lindona, mas a opinião de vocês tende a ser favorável a mim. E ai de você se não fosse assim.

Marjorie: A concorrência também é favorável a você, meu bem. Olha ali o Júlio César, o Tadeu, o Rogério, o Maicon, o Leonel, o Henrique e o Matias. Esses são os melhores daqui. Agora, você acha que algum deles está melhor do que você?

OK, a concorrência era favorável a mim. Mesmo assim, fiquei com o ego inflado.

Lu: É claro que não.

Sara: Adal, você, definitivamente é o galã desse velório.

Marjorie: E merecia ganhar uma coroa de flores por isso.

Adalberto: Estou fora.

Lu: Gente, eu também estou fora.

Marjorie: Como assim? Ninguém está falando de você.

Lu: A Marissérgia!

Ane: Aquela que descobriu que o marido ficou com você?

Lu: É mas ela acha que ele ficou com você!

Ane: Hã?

Lu: Ele sempre troca os nossos nomes.

Marjorie: Então, quem está em risco aqui é a Ane.

Ane: Ah, mas se ela vier tirar satisfação comigo, eu boto ele de frente com a Lu, e ele vai ter que falar na minha cara se fui eu mesma que fiquei com ele.

Lu: Aí, quem fica em risco sou eu.

Sara: Gente, vamos embora, porque essa história vai feder.

Lu: Vamos, porque só quem pode feder aqui hoje é o defunto!

Adalberto: É melhor. O cortejo já está para sair mesmo... Não quero ficar mais.

Marjorie: A tia Neide vai ficar?

Adalberto: Vai. Ela vai de carona com a tia Gorete e o tio Sonzinho.

Lu: Gente, vamos logo, senão vocês vão ter que arrumar um espaço para mim no caixão do tio Altair. A Marissérgia vai me matar se me vir aqui.

De lá, elas deram a ideia de irmos para um pé sujo beber. As pessoas que foram ao enterro do tio Altair voltaram a ser alvo dos nossos comentários felinos. Só perdoamos a minha mãe, o meu pai e o tio Altair.

E olhe lá!

2 comentários:

  1. Cara hilário! quem não tem história de velório (tirando o defunto) mas ninguém escuta ha menos que seja medium, eu prefiro ser maximum!!! rs
    Cara muito bom te conhecer e os produtos de sua imaginação!

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