quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um Adalberto incomoda muita gente...

Há uns dois meses e meio, mais ou menos, eu estava tomando uma cachaça na Academia da Cachaça do Leblon com uns amigos, quando a Lu me ligou desesperada, sentindo pontadas fortes no coração. Apesar do falatório e da quinta cachaça que eu tinha tomado... Quinta? Não lembro. Enfim, eu consegui entender que a Lu estava sentindo pontadas fortes coração. Fui correndo pegar o carro. Nem lembro se paguei a conta. A Marjorie estava no Vegetariano Social Clube com um cara:

Marjorie: Adal!

Adalberto: A Lu tá morrendo!

Marjorie: O quê?

Adalberto: Você tá bem pra dirigir?

Marjorie: Não, mas ele tá. Demógenes, esse é o meu primo Adalberto.

Adalberto: Vamos, gente, é urgente!

Senti uma vontade louca de cantar a musiquinha, que sempre me vem à cabeça, quando conheço alguém com um nome fora do comum, como o meu. Enquanto corríamos pro carro, tentei esconder que estava rindo. Não cabia...

Marjorie: Tá rindo de que, seu louco?

Adalberto: Lembrei de uma besteira.

Marjorie: O quê?

Cheguei o mais próximo que podia do ouvido dela pra evitar que o carinha ouvisse:

Adalberto: "Um Adalberto incomoda muita gente // Um Adalberto e um Demógenes incomodam, incomodam muito mais".

Marjorie: Você tá proibido de voltar a beber nessa vida!

Sabe quando você ouve uma música podre e depois não consegue mais tirar ela da cabeça? Putz... Fui fazendo o sonzinho da música do "elefonte incomoda muita gente" do Leblon até Del Castilho, na casa Lu. É que tinham momentos em que eu abstraía completamente o que a gente estava indo fazer. O movimento gostosinho do carro e a cachaça faziam isso comigo... As tosses e os pigarros da Marjorie eram o que me traziam pra realidade.

Marjorie: É aqui. Estaciona ali, Demo.

Demo? Depois, ela não queria que eu risse...

Adalberto: Você sobe lá?

Marjorie: Subo. Vamos lá comigo, Demo.

Quando eles saíram do carro, vi que a Marjorie também ia ter um ataque do coração se visse o que eu estava vendo.

Adalberto: Jojô, volta aqui. Rápido! Demógenes o apartamento é o 406. Pega ela lá! Ela tá sozinha em casa.

Marjorie: O que foi, seu retardado? Tenho medo de quando você me chama assim.

Adalberto: E eu tenho medo da sua menstruação. Olha aqui o banco do carro.

Marjorie: Hã! Mas eu tô com absorvente e o Tampax.

Adalberto: Porra! Entra aí.

Marjorie: Pra onde a gente vai?

Adalberto: Vou esconder o carro do Demógenes ali no posto, você vai ficar limpando o banco e eu vou dizer que você sofreu um sequestro relâmpago.

Marjorie: Tá maluco?

Adalberto: Quer que ele veja o carro assim, todo cagado?

Marjorie: Não. Hoje é o nosso primeiro encontro.

Saí do carro, correndo pra frente do prédio da Lu. Fiquei um tempão lá embaixo esperando. O efeito da cachaça já tinha ido pro caralho. Eu acho... Esperei mais cinco minutos e resolvi subir. A Lu estava na maior discussão com o Demógenes. Será que eles desceram e não me viram lá embaixo? Será que ela achou que o Demógenes fez alguma coisa comigo e com a Marjorie? Arrombei a porta!

Lu: Adal!

Adalberto: Você tá bem?

Lu: Estava até esse cretino chegar.

Adalberto: Como assim? Você não estava sentindo pancadas fortes no coração?

Lu: Era de amor, primo. Você é tão inteligente e não entende uma metáfora?

Adalberto: Depois da quinta cachaça, eu não entendo mais nenhuma figura de linguagem. Não é só metáfora, não.

Aliás, quando eu fico bêbado, eu costumo falar inglês.

Lu: Tira esse cretino daqui! Foi ele que me sacaneou naquela viagem a Ouro Preto. Lembra que eu te falei?

Adalberto: Eu, não. O cara é legal, veio de Leblon pra cá, teve boa vontade de te pegar aqui... Pena que roubaram o carro dele e ainda levaram a Marjorie junto.

Lu: Mentira!

O Demógenes nem falou nada. Saiu varado. Foi confirmar a informação de um bêbado.

Lu: Vou ligar pra polícia!

Adalberto: Não! Liga pra Marjorie!

Lu: Por quê?

Adalberto: Porque é mentira. Você já tinha matado a charada! A gente escondeu o carro do Demógenes ali, no posto da esquina, porque ela sujou o banco do carro dele todo de mestruação.

Lu: Ai, que nojo.

Adalberto: Liga pra ela e manda ela suspender a limpeza. Diz que o cara não vale a pena.

Lu: Limpeza de quê?

Adalberto: Deixa que eu ligo. Alô, Jojô, para de limpar o banco do carro desse filho da puta. A Lu tá bem e tem altas histórias pra te contar dele. Parece que ele não presta... Sei lá, traz o carro de volta, diz pra ele que você, realmente, sofreu um sequestro relâmpago, mas apagou o bandido com uma gravatada, quando ele estava dirigindo e recuperou o carro... O sangue no banco? Sei lá. Fala que o teu anel cortou o pescoço do bandido, que ele desmaiou no teu colo e sujou a tua calça e o banco do carro. Pronto, vem logo! Beijo! Sua cagada!

Adalberto: Tadinha, ela estava limpando o banco do carro com um creme antirrugas e os guardanapos do Vegetariano Social Clube.

Lu: Ainda bem que, até hoje, a gente tem essa mania de levar guardanapo de restaurante pra casa, né primo.

Adalberto: Seja em Nova Iguaçu ou em Paris! Que fique bem claro!

Ficamos rindo da desgraça da Marjorie e de outras desgraças alheias. E, quando ela entrou no apartamento da Lu, já estávamos com a musiquinha na ponta da cabeça:

Lu e Adalberto: "Um Adalberto incomoda muita gente // Um Adalberto e um Demógenes incomodam, incomodam muito mais // Um Adalberto, um Demógenes e um ataque cardíaco da Lu incomodam, incomodam, incomodam muita gente // Um Adalberto, um Demógenes, um ataque cardíaco da Lu e uma menstruação da Marjorie incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais".

2 comentários:

  1. Eu vou parar de comentar pq vc tá se superando a cada post...rsrsrs Meus comentários vão ficar repetitivos.
    Mais uma muito boa!!!
    Bjs

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